Masp passa por mudanças com nova gestão
A restauração da fachada e outras revitalizações promovidas no museu pela nova administração
Quem passa pela Avenida Paulista dificilmente deixa de notar algo inusitado na fachada do Masp. São os emblemáticos pilares vermelhos do museu cobertos por andaimes e uma lona. A repintura começou em maio e deve durar três meses. É a primeira vez que um trabalho do tipo ocorre no espaço desde 1990, quando os pórticos ganharam essa cor. Ele faz parte de um processo maior de reestruturação, iniciado em 2014. A operação foi deflagrada quando uma nova diretoria assumiu o comando da instituição com as seguintes prioridades: sanar a dívida do museu, que na época ultrapassava a casa dos 10 milhões de reais, e revitalizar o prédio, tanto na parte física quanto na artística.
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Por meio de acordos com patrocinadores, doações e mudanças no estatuto que incluíram, por exemplo, o pagamento de anuidade por parte dos 83 conselheiros, aproximadamente 30 milhões de reais foram levantados logo nos primeiros meses da gestão. Outras ações, inspiradas no que fazem as grandes entidades estrangeiras, ajudaram a gerar receitas extras. Uma delas, o programa Amigo Masp, dá aos visitantes vantagens como driblar as filas na porta. Para desfrutar isso, é preciso realizar contribuições a partir de 70 reais por ano. Cerca de cinquenta pessoas aderiram até agora à iniciativa, lançada em abril. Em janeiro, o valor da entrada no museu subiu de 15 para 25 reais (a título de comparação, a Pinacoteca e o MAM cobram 6 reais cada um).
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A administração pretende também investir em eventos especiais. Na semana passada, por exemplo, Gilberto Gil fez um pocket show na festa que contou ainda com um jantar e apresentação de DJs para celebrar a arquiteta que projetou o edifício, Lina Bo Bardi. A venda de convites e cotas de patrocínio rendeu 1,5 milhão de reais. Por ter sido amigo de Lina, o cantor não cobrou cachê. “Queremos estabelecer um relacionamento duradouro com a sociedade, patronos e patrocinadores”, diz o empresário Heitor Martins, que assumiu em setembro de 2014 a presidência do Masp.
Na área das exposições, uma das diretrizes da nova gestão consiste em resgatar as ideias de Lina Bo Bardi. O evento mais esperado é a volta dos cavaletes de vidro. Eles serviam de suporte para as telas e possibilitavam que os visitantes andassem entre elas. “O espectador poderá se tornar um participante ativo no percurso da exposição, escolhendo seus caminhos e construindo suas narrativas”, explica Adriano Pedrosa, diretor artístico da instituição. O retorno deve acontecer em novembro. “Vamos atualizá-los para que sejam mais versáteis”, diz Martin Corullon, da Metro Arquitetos, empresa contratada para cuidar da tarefa.
Outra medida tomada envolveu a retirada das paredes que cobriam as janelas de alguns andares, trazendo de volta a transparência ao local. Agora, cortinas e uma película garantem proteção contra a luminosidade. Também já estão sendo utilizados painéis que Lina desenhou para a antiga sede do museu, que ficava na Rua 7 de Abril, para comportar os trabalhos da mostra Arte do Brasil no Século 20, que está em cartaz. Mais seis exposições vão estrear em 2015. Todas essas mostras exploram a própria coleção do Masp. Algumas exibem itens que havia muito estavam escondidos do público.
A modernização das instalações gerais e de segurança, como os sistemas de ar condicionado e anti-incêndio, é a primeira das grandes reformas estruturais em curso no momento. A transferência da bilheteria para o subsolo, ainda sem data, visa a deixar o vão como ele foi pensado: livre. Uma alternativa seria levá-la ao prédio anexo, que começou a ser reformado para abrigar um café, escola de arte e exposições.
A Vivo comprou o edifício e o doou ao Masp em 2004, e a administração do museu na época se comprometeu a deixar tudo pronto em três anos. Apesar do investimento de 23 milhões de reais, as obras estão paradas desde 2013 devido à falta de dinheiro. A empresa de telefonia chegou a entrar na Justiça para garantir que o acordo fosse cumprido, sem sucesso. Será necessário obter outros 30 milhões de reais para finalizar o anexo e repensar como a marca da operadora ficará exposta na frente do prédio, de modo a não ferir a Lei Cidade Limpa, que entrou em vigor em 2007 — ou seja, depois do início do projeto. A resolução desse caso está entre os maiores imbróglios que Heitor Martins terá pela frente.
A lista de melhorias
O que deve mudar nas exposições e na arquitetura do local
› Os cavaletes de vidro projetados por Lina Bo Bardi voltam em novembro
› Até o fim do ano, seis mostras que exploram o acervo do museu entram em cartaz
› A bilheteria deve deixar o vão livre. Uma possibilidade é que ela ocupe o subsolo do edifício
› Reformas nos sistemas de ar condicionado e anti-incêndio e na pintura das vigas estão em andamento
› Dois túneis que ligarão o Masp ao prédio anexo e ao Parque Trianon devem ser construídos
› Há um pedido na prefeitura para mudar a mão da rua dos fundos, no intuito de valorizar a praça que fica ali e que já foi reformada