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Marco Polo Del Nero entra em campo na CBF

O cartola paulistano assume em abril o comando do futebol brasileiro. Fora dos campos, faz o estilo boleiro-ostentação, com iate, coberturas e mulherões

Por João Batista Jr.
Atualizado em 27 abr 2018, 12h17 - Publicado em 21 mar 2015, 00h00
Del Nero no gol
Del Nero no gol ( Mario Rodrigues/)
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O cartola Marco Polo Del Nero não entra em campo, mas reúne algumas habilidades e hábitos típicos dos craques de futebol. A exemplo dos grandes meio-campistas, é frio na disputa, sabe se posicionar bem na área, não liga para as caneladas dos adversários e tem o respeito da maioria dos companheiros. No patrimônio acumulado e nas preferências nas horas de lazer, faz o gênero boleiro – ostentação. Curte pilotar o próprio barco, um Sunseeker de 52 pés e três cabines, acabou de comprar duas coberturas na Barra da Tijuca em um condomínio de frente para o mar, coleciona no guarda-roupa grifes caras e disputa com Ronaldo Fenômeno o campeonato de quem troca de mulher com mais frequência. Mesmo veterano, desfila com garotas cinquenta anos mais jovens, todas no padrão popozuda de capa de revista masculina (algumas, aliás, posaram nuas). “Sou namoradeiro”, diz ele, prestes a assumir o principal posto do futebol nacional. No dia 16 de abril, Del Nero começa seu mandato de quatro anos à frente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

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O advogado paulistano de 74 anos criado no bairro da Pompeia vai receber um salário mensal estimado em 200 000 reais e terá como uma das principais missões recuperar o escrete canarinho depois do vexame da última Copa, com resultado inesquecível para nós e os alemães. “Meu sonho é levar a seleção à conquista da medalha de ouro na Olimpíada de 2016 e do Mundial de 2018”, afirma. A má fase nos gramados do time pentacampeão preocupa a CBF também pelo aspecto financeiro, pois a seleção representa uma das maiores fontes de renda da entidade, que faturou 436,5 milhões de reais em 2013 (o balanço de 2014 ainda não foi divulgado). A cada partida fora do Brasil, a equipe recebe cachê entre 1,5 milhão e 2 milhões de dólares. Estão previstos pelo menos cinco amistosos internacionais em 2015.

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Recupepar o brilho da camisa canarinho não é o único desafio de Del Nero. Graças a gestões desastrosas dos cartolas, os principais clubes do país, mesmo arrecadando alto com patrocínios, direitos de transmissão e venda de tempos em tempos de seus principais atletas ao exterior a preços milionários, acumulam um passivo de 4 bilhões de reais e acertaram um acordo com o governo federal para o parcelamento dessa dívida em vinte anos em troca de garantias de melhora na gestão no dia a dia (a presidente Dilma Rousseff assinou na quinta passada, 19, a medida provisória do acordo, que precisa ainda ser aprovada pelo Congresso). A CBF e as federações estaduais, diga-se de passagem, também têm uma grande parcelade culpa pela situação. Encarregadas de organizar o calendário do futebol e as competições, essas entidades se mostram incapazes de oferecer ao público um produto atrativo. Resultado: a série A do país do futebol, que reúne as vinte maiores equipes brasileiras, recebe cerca de 16 500 pessoas por partida, média pior que a do campeonato da segunda divisão da Alemanha (outro vexame nosso diante dos germânicos).

Como se não bastassem todos esses problemas, a imagem da CBF ficou muito arranhada depois da presidência de Ricardo Teixeira, que comandou a entidade por mais de duas décadas. Embora tenha conquistado duas Copas nesse período (em 1994 e 2002), o dirigente saiu do cargo depois que passou a ser investigado por corrupção e enriquecimento ilícito (na época, a desculpa oficial para a renúncia foram “questões médicas”). No lugar de Teixeira, assumiu interinamente José Maria Marin, governador biônico de São Paulo em 1982 e 1983. Pouco antes de tomar posse, Marin foi flagrado embolsando uma medalha que seria entregue a um campeão de um torneio júnior. O dirigente fez um mandato-tampão à espera da eleição, ocorrida em abril de 2014. Ele e Teixeira, que mesmo afastado continuou tendo influência na entidade, apoiaram Marco Polo Del Nero, presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF) e vice de Marin na CBF. Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e atual deputado federal pelo PT, tentou sair como candidato de oposição, mas desistiu por falta de adesão. “Tive apoio de 99% das federações estaduais. As minhas propostas encontraram eco”, comemora Del Nero.

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Como tudo que diz respeito à CBF, essa transição de comando está envolta em polêmicas. Teixeira foi escanteado pela dupla que ajudou a colocar no poder. Quando se viu obrigado a pendurar as chuteiras, mudou-se para a Flórida, nos Estados Unidos, e passou a dar consultoria para a entidade com salário mensal estimado em 60 000 reais. Oficialmente, sua função era “ensinar” aos dois sucessores as questões ligadas a patrocínio e relacionamento com a Fifa. O negócio durou apenas sete meses, quando Marin e Del Nero romperam o acordo. Na sequência, começaram a demitir da CBF as pessoas ligadas ao ex-presidente, incluindo seu irmão, Guilherme Teixeira, que recebia um salário mensal de 80 000 reais para trabalhar na secretaria-geral da entidade.

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Na campanha para a eleição de Del Nero, muitas acusações surgiram. Entre elas, a de que ele e Marin teriam operado uma espécie de “mensalinho” para as federações estaduais, que passaram a ganhar 100 000 reais por mês, mais que o triplo do repasse anterior. Del Nero admite o aumento, mas não confirma os valores. Outra estratégia adotada para ganhar a simpatia de seus eleitores foi patrocinar viagens internacionais. Na Olimpíada de Londres, em 2012, todos os presidentes das federações, ao lado da mulher, tiveram passagem e hospedagem pagas pela CBF, assim como tíquetes para os jogos e serviços de transporte. “Acho importante viajar, conhecer o mercado e a própria seleção brasileira”, justifica Del Nero. Hoje, o esquema de viagens funciona em sistema de rodízio. No amistoso Brasil x França que vai acontecer nesta quinta (26), em Paris, apenas o presidente da federação mineira, Castellar Modesto Guimarães Neto, ganhou um pacote boca-livre, com passagens e serviço all inclusive.

Marin e Del Nero fizeram uma dupla bem afinada, divergindo em poucas ocasiões. Uma delas ocorreu nos últimos meses, quando Marin cogitou comprar um Cessna Citation para a CBF. O jato poderia custar 10 milhões de reais à entidade, que já tem um helicóptero Agusta. Del Nero não se empolgou com a ideia e o negócio, em comum acordo, não foi adiante.

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Embora assuma a presidência apenas em 16 de abril, o cartola já está dando as cartas na sede da confederação, que fica na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Inaugurado em 2014 depois de investimentos de 100 milhões de reais, o prédio com cinco andares, decorados por mobiliário de designers como Sérgio Rodrigues e Claudia Moreira Salles, onde trabalham 100 funcionários, substituiu o acanhado endereço antigo, na Rua da Alfândega, no centro da capital fluminense. Na iminência de ocupar a sala principal da CBF, o cartola paulistano é recebido como um rei no lugar. Alguns ficam de pé quando ele passa, outros se apressam para abrir portas e liberar as catracas. Aos poucos, o dirigente começa a convocar sua turma para o local.

Foi Del Nero o responsável por levar para lá Sérgio Gomes, profissional de marketing rechonchudo que usa ternos dois números maiores do que deveria. Eles se conheceram de forma inusitada. Na ocasião, Gomes o visitara para vender carros Mercedes-Benz. Acabaram amigos. Gomes, então, passou a fazer a ponte, por meio de sua empresa de marketing, entre potenciais patrocinadores e a federação. “Eu fui o responsável por trazer o patrocínio da Chevrolet para o Campeonato Paulista”, orgulha-se ele. A montadora patrocinou a FPF entre 2012 e 2014. Em 2015, fez a verba migrar para a CBF. “Como a estratégia de apostar no futebol foi muito boa, decidimos entrar de forma intensa em todo o Brasil”, justifica Gomes (a Chevrolet confirma a participação dele na intermediação desses negócios). O profissional embolsa entre 5% e 20% dos valores dos contratos a título de comissão.

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Walter Feldman foi outra contratação de peso recente do cartola para seu time na entidade. O político, que já atuou em várias posições (teve passagens pelo PMDB, PSDB e PSB), trabalhou há pouco tempo como um dos cofundadores da Rede, de Marina Silva. Como a plataforma “sonhática” não emplacou, Feldman rapidamente aderiu à “realidática”. “Logo após a derrota dela na eleição passada, eu me encontrei com o Marco Polo em um café em São Paulo”, lembra. A proposta era para ser o secretário-geral da CBF, com o objetivo de ajudar a implantar uma “gestão moderna, transparente e social”. Três dias após o encontro, o político (que surpresa!) topou o emprego. “Quando dei a resposta, o Marco Polo estava em Zurique, na Suíça, tomando um chocolate quente.” Uma das atribuições de Feldman será restabelecer contatos com o governo federal. Dilma Rousseff não recebia Teixeira nem Marin. De dezembro até agora, o secretário-geral se encontrou com o vice-presidente Michel Temer e o ministro das Cidades, Gilberto Kassab. Até o momento, porém, ainda não foi recebido pela presidente.

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Ao contrário de Ricardo Teixeira, que nunca gostou de futebol e entrou nesse meio ao se casar com Lúcia, filha de João Havelange, Marco Polo Del Nero sempre respirou o universo da bola. Seu pai, José, atuou no Palmeiras nos anos 40 e disputou algumas partidas pela seleção.

O ingresso de Del Nero no mundo da cartolagem se deu em 1972, quando acompanhou o pai à festa de veteranos do Palmeiras. Anos depois, virou advogado do clube. De lá, atuou no Tribunal de Justiça Desportiva, entre a década de 80 e o começo dos anos 2000. Em 2003, assumiu o comando da FPF, depois da gestão de Eduardo José Farah. Assim como Teixeira, Farah, outrora todo-poderoso, saiu do cargo debaixo de acusações de corrupção. “O Farah não deixava as portas abertas, era um homem retrógrado para o futebol”, diz um cartola ligado à federação. “O Del Nero é mais moderno, buscou novos patrocinadores e deixou sua gestão mais transparente”, avalia Julio Casares, diretor de marketing do São Paulo.

Na fase Del Nero, a FPF ficou mais rica. Em 2003, o faturamento do Campeonato Paulista era de 17 milhões de reais — esse número saltou para 130 milhões de reais em 2015. “Isso não é mérito dele. Na verdade, os patrocínios ficaram maiores”, reclama Andrés Sanchez, que continua no papel de principal opositor do cartola. “O Del Nero será um retrocesso.”

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Fora dos bastidores da política da bola, o lado mais conhecido do dirigente é o da sua coleção de namoradas. Pelas suas costas, alguns cartolas o apelidaram de “Olacyr de Moraes do futebol”, em referência ao antigo rei da soja, que costumava desfilar com garotas bem mais jovens. Del Nero viveu durante três décadas com a artista plástica Márcia Baldrati, com quem teve três filhos (Marco Filho, Carla e Vinícius). Divorciou-se em 2004 e, algum tempo depois, começou a aparecer em público com namoradas de 20 e poucos anos. Uma delas já lhe causou uma dor de cabeça. Em 2012, uma operação da Polícia Federal que investigava uma empresa ilegal de arapongagem chegou à casa em que Del Nero vivia, no Alto de Pinheiros, e apreendeu seu computador e seu iPad. Desconfiado de uma traição, o cartola havia contratado por 3 000 reais a companhia de espionagem para “monitorar” a namorada da época, Carolina Galan.

O pacote do serviço incluía colocar um detetive na cola da mulher, invadir sua conta de e-mail e obter o histórico de suas ligações. “Eu queria saber o passado comercial dela, se tinha alguma dívida”, esquiva -se Del Nero. Os relatórios dos investigadores chegavam a seu e-mail corporativo, mas não trouxeram nenhuma revelação comprometedora. “Foi uma situação chata, e isso afetou a nossa relação”, lembra Carolina. Apesar do desconforto, eles ficaram juntos mais dois anos.

No campo amoroso, Del Nero esbanja generosidade. Logo no começo da relação com Carolina, em 2010, o cartola cedeu à namorada 10% do valor total de um apartamento de 75 metros quadrados na Alameda Jaú. No ano seguinte, ela “vendeu” sua parte a ele por 17 000 reais. “Eu estava precisando de dinheiro”, conta a mulher. Em outro gesto romântico, ele mexeu os pauzinhos para que ela conseguisse uma vaga de passista na Vai-Vai em 2013.

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Del Nero usa as mesmas táticas com as novas parceiras. Cinco dias após conhecer a também modelo Carol Muniz, cujo currículo inclui ter estampado a capa da revista Sexy de julho de 2014, ele a presenteou com um Mercedes-Benz SLK, de 200 000 reais, e um anel de brilhantes. Mas o romance terminou em novembro passado, segundo ela, por questões profissionais. “Eu queria continuar fazendo fotos sensuais e trabalhando como modelo, ele era contra”, explica Carol, que está no período pós-operatório da troca de próteses de silicone de 280 mililitros por outras de 450 mililitros.

Como qualquer treinador em uma partida de futebol quando as coisas não vão bem, Del Nero correu para substituir Carol. Um mês depois do rompimento, pôs em campo outra modelo, Kelly Moniz (27 anos, 1,74 metro, 94 centímetros de quadris e busto tamanho 93). Eles estão juntos desde dezembro.

Embora negue ter feito plásticas, o cartola paulistano aparenta menos idade que seus 74 anos. Ele não altera quase nunca o tom de voz tranquilo. Segundo pessoas próximas, é educado e cobra resultados rápidos. Seus ternos são impecáveis e, nos pés, prefere sapatos de marcas italianas como Gucci e Salvatore Ferragamo. O que chama mais atenção no figurino são as gravatas de seda. Tem muitas e de cores variadas, e seu fraco mesmo são os modelos da Bulgari e da Hermès. Também adora relógios poderosos, como Rolex. Em São Paulo, possui apartamentos em Higienópolis e Jardins, mas começou a ficar bem menos na capital devido aos compromissos na CBF.

Para estar perto da sede da entidade, comprou duas coberturas dúplex na Barra da Tijuca em um famoso condomínio de frente para o mar. Pagou um total de 6,8 milhões de reais pelos dois imóveis, segundo o Cartório de Registro de Imóveis. Nos fins de semana, ele costuma pilotar o próprio barco no mar esverdeado de Angra dos Reis. Com três cabines e 52 pés, a nau foi batizada de My Way, em homenagem a Frank Sinatra. É para onde leva suas namoradas nos passeios. Embora seja apaixonado pelo mar (seu signo é Peixes), ele não sabe se virar sozinho na água e precisa recorrer a uma boia. Nos bastidores do futebol, porém, está nadando de braçada.

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Rivotril, modelos e Palmeiras

A trajetória profissional e algumas curiosidades sobre o dirigente

  • Nome: Marco Polo Del Nero.
  • Idade: 74 anos (22/2/1941).
  • Local de nascimento: São Paulo.
  • Formação: direito pelo Mackenzie.
  • Carreira: foi advogado do Palmeiras e presidente do Tribunal de Justiça Desportiva e da Federação Paulista de Futebol.
  • Salário estimado na CBF: 200 000 reais.
  • Endereço atual: cobertura com vista para o mar na Barra da Tijuca.
  • Estado civil: divorciado. Foi casado por três décadas com Márcia Baldrati, com quem teve três filhos (Marco, Carla e Vinícius).
  • Time do coração: Palmeiras.
  • Últimos livros que leu (pelo iPhone 6 Plus): Anjo da Escuridão, de Sidney Sheldon, e Adultério, de Paulo Coelho.
  • Coleção: de namoradas jovens e curvilíneas; algumas delas já estamparam a capa de revistas masculinas. A atual se chama Kelly Moniz, de 27 anos.
  • Uma vaidade: pilotar seu barco de 52 pés e três cabines, batizado de My Way em homenagem à música de Frank Sinatra.
  • Precaução: por não saber nadar, pula no mar paramentado com uma boia.
  • Hábito: tomar meio comprimido de Rivotril pela manhã “para dar conta do trabalho”.
  • Restaurantes favoritos: Amadeus, Zucco e A Bela Sintra.
  • Medo: “Sou temente a Deus, então vai saber o que vem depois…”
  • Ídolo: José Del Nero. “Meu pai jogou pelo Palmeiras e me fez um apaixonado por futebol.”
  • Uma partida inesquecível: Santos 7 x 6 Palmeiras, no Pacaembu, em 1958.
  • Um jogo para esquecer: Alemanha 7 x Brasil 1. “Na verdade, não podemos esquecer esse jogo para que algo parecido não se repita.”
  • Jogadores favoritos: “Meu pai e Pelé. Dos de hoje, adoro o Neymar.”
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