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As atividades inusitadas de médicos paulistanos para aliviar o stress

Entre os hobbies dos doutores, aparecem shows de rock e escaladas em montanhas

Por Cláudia Duarte Cunha
Atualizado em 1 jun 2017, 16h04 - Publicado em 9 jul 2016, 00h00

Quando Raul Seixas começou sua carreira, na Bahia, nos anos 50, jogando-se no palco e imitando os trejeitos de Elvis Presley, parte da plateia, assustada com aquela novidade, achava que o calouro estava tendo um ataque epiléptico. Espanto semelhante pode ter um paciente do psiquiatra paulistano Adriano Segal se o flagrar fora do consultório curtindo seu hobby predileto.

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Com direito a topete, óculos de lentes vermelhas e macacão branco agarrado no corpo, ele leva a plateia à loucura liderando shows da banda Os Coronel Parker, especializada em covers de clássicos do rei do rock. “Na verdade, alguns já me viram em ação, botando para quebrar em espetáculos, e nunca recebi crítica negativa”, conta. A performance, diz, é só para desestressar, e os shows, gratuitos em sua maioria. Com mais de vinte anos de experiência clínica, o especialista ganha a vida dividindo-se entre seu consultório, no bairro de Higienópolis, e o Ambulatório de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas. “Cantar é o que me relaxa nas horas vagas.”

A exemplo do psiquiatra-presley, outros colegas de jaleco branco da capital, das mais diferentes áreas, receitam-se terapias radicais para aliviar o desgaste emocional provocado por uma rotina que inclui extensas jornadas de trabalho, operações delicadas e plantões. Segundo um levantamento realizado no ano passado pelo site americano Business Insider, com a ajuda do instituto de pesquisas de mercado de trabalho Bureau of Labor Statistics, das vinte ocupações consideradas mais estressantes, oito pertencem à área de saúde.

Quanto maior a pressão, maior precisa ser a válvula de escape. No caso da ortopedista Tatiana Batalha, que fica a postos para realizar atendimentos de emergência na UPA Campo Limpo e no Hospital São Camilo, o relax costuma estar nas alturas. Ela passou a praticara lpinismo em 2007, por diversão. “Subia chapadas e morros aqui no Brasil, sem imaginar quanto isso acabaria me conquistando”, conta. “Fui conhecendo gente, e a vontade de aumentar os desafios só cresceu.” Seu recorde foi registrado em janeiro deste ano, quando atingiu o cume do Aconcágua, na Argentina, a 6 962 metros. “Quando você chega a um lugar assim e começa a admirar a paisagem deslumbrante, tem a real noção de que não somos nada”, filosofa.

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Tatiana Batalha
Tatiana Batalha ()

A cada dois meses, a médica se programa para fazer uma nova expedição. A exemplo de todo apaixonado pela atividade, pôs o Everest na sua lista de desejos. Tatiana já iniciou os treinos para realizar a façanha. Como parte dessa preparação, passou uma noite de 2011 a 5 364 metros, no campo de base da montanha, na Cordilheira do Himalaia. Viagens para locais exóticos também estão incluídas na rotina fora do consultório do cardiologista Jean Ajl, 39, chefe do setor de emergências clínicas da Santa Casa de São Paulo. Adepto do trekking, ele tem no currículo esportivo a exploração de trilhas em destinos como Peru, Polônia e Nova Zelândia. “No país da Oceania, caminhei dentro de cavernas de gelo”, conta.

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A sensação de bem-estar que alguns experimentam os leva a não medir recursos para garantir a dose de adrenalina. Como muitos deles são profissionais bem-sucedidos, dinheiro não chega a ser problema. Hilton Libanori é um dos principais nomes do país em sua área, a gastroenterologia (especialidade que trata o aparelho digestivo). Ele faz uma média de dez operações por mês em hospitais como o Albert Einstein, no Morumbi. Nos fins de semana, sempre que pode, tira do seu horizonte bisturis e macas para navegar.

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“Comecei a velejar logo que entrei na faculdade, com 17, 18 anos”, recorda. “Mas só fui levar o negócio a sério muito tempo mais tarde.” Para seus passeios, costumava alugar embarcações em Ilhabela, no Litoral Norte. Até que decidiu investir, em 2010, cerca de 500 000 reais para encomendar o próprio barco. A construção do veleiro de 38 pés (o equivalente a 11,60 metros) demorou dezoito meses. A bordo dele, realizou há seis anos uma viagem de ida e volta entre Recife e Fernando de Noronha, totalizando 42 horas de jornada.

Veleiro
Veleiro ()

Da cadeira de seu consultório, Libanori, com ares de quem já está traçando os próximos planos, lembra que comandantes mais experientes chegam a dar a volta ao mundo sem escalas com equipamentos semelhantes. Para um lobo‑do‑mar como ele, essas jornadas são essenciais. “Chego a trabalhar como médico quatorze horas por dia e só consigo me desligar realmente quando estou velejando”, explica.

Enquanto no ambiente de trabalho os especialistas costumam ser extremamente controlados, o comportamento beira o irracional quando estão livres do jaleco e próximo às suas paixões fora da medicina. O urologista Marcos Freire, coordenador do curso de medicina da Universidade Anhembi Morumbi, atua como músico nas horas vagas. Toca contrabaixo e teclados na banda Stage Left Tribute, dedicada aos canadenses do Rush, mestres da mistura de som progressivo e hard rock.

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Marcos Freire
Marcos Freire ()

Não lhe basta copiar, nota por nota, todos os arranjos originais dos discos para as apresentações do grupo cover. Freire faz questão de ter equipamentos idênticos aos da banda estrangeira. Sua maior extravagância foi registrada em 2013, quando comprou no site e‑Bay o braço de um baixo elétrico usado no passado por Geddy Lee, um de seus ídolos. De posse da peça, mandou‑a a um luthier em Londres, na Inglaterra, para reconstruir o instrumento. No fim de tudo, gastou nada menos que 45 000 reais na operação. “Valeu a pena”, afirma. “Ficou perfeito.”

Conheça o perfil dos médicos 

Adriano Segal, 53 anos

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Adriano Segal
Adriano Segal ()
  • Especialidade: psiquiatria
  • Local de trabalho: Ambulatóriode Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas
  • Hobby: música
  • Rotina: faz dois shows por mêsno papel de Elvis Presley cover, àfrente da banda Os Coronel Parker
  • Principal façanha: apresentaçãono programa de Jô Soares em 2013

Tatiana Batalha, 38 anos

TATIANA BATALHA
TATIANA BATALHA ()
  • Especialidade: ortopedia
  • Locais de trabalho: atendimentos de emergênciana UPA Campo Limpo e no Hospital São Camilo
  • Hobby: alpinismo
  • Rotina: a cada dois meses, em média, faz uma viagem para escalar
  • Principal façanha: chego ao topo do Aconcágua (6 962 metros) na Argentina, em janeiro de 2016

Marcos Freire, 39 anos

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Marcos Freire
Marcos Freire ()
  • Especialidade: urologia
  • Local de trabalho: Universidade Anhembi Morumbi (é coordenador do curso de medicina da instituição)
  • Hobby: música
  • Rotina: toca contrabaixo e teclados na banda Stage Left Tribute, dedicada ao grupo canadense Rush
  • Principal façanha: comprou no e-Bay o braço de um baixo elétrico usado por Geddy Lee, um dos integrantes da banda, e enviou a peça para um luthier em Londres, na Inglaterra, reconstruir o instrumento. A “brincadeira” custou 45 000 reais

Hilton Libanori, 53 anos

Hilton Libanori
Hilton Libanori ()
  • Especialidade: gastroenterologia
  • Local de trabalho: costuma realizar cirurgias no aparelho digestivo dos pacientes de hospitais como o Albert Einstein
  • Hobby: navegação
  • Rotina: faz viagens nos fins de semana a bordo de um veleiro de 38 pés (11,60 metros), avaliado em cerca de 500 000 reais
  • Principal façanha: travessia de Recife a Fernando de Noronha (total de 545 quilômetros) em 2010. O trajeto de ida e volta foirealizado em 42 horas.

 

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