Clandestina

Resenha por Arnaldo Lorençato

Há quem traga fresco na memória o Clandestino, que a chef Bel Coelho abriu dentro de outro restaurante, o extinto Dui, nos Jardins, para servir ótimos menus degustação — o estabelecimento teve ainda um funcionamento sazonal, oferecendo jantares especiais em um espaço na Vila Madalena. Bel, que toca com sucesso o Cuia Restaurante e Bar, no centro, retornou agora com a marca, mas no feminino. Desde julho, o Clandestina ocupa o espaço que pertenceu ao extinto ChefVivi, uma graciosa casinha na Vila Madalena. No novo endereço, é possível provar uma visão muito particular da cozinheira sobre a culinária do Brasil, uma mistura do receituário nacional com diferentes influências e apenas em pedidas à la carte. Uma sacada, ela transforma fatias de melancia, similares a um peixe como o atum na cor, em um tiradito peruano ao molho ponzu de tucupi e ervas frescas (R$ 42,00). Com massa mais espessa que a fritura japonesa original, o sequinho tempurá de pimenta-de-cheiro e camarão ganha molho picante de bacuri (R$ 53,00). Também de inspiração asiática, o guioza de pato recebe um ótimo molho de tucupi, jambu e azeite de pimentas brasileiras (R$ 65,00, quatro unidades). Uma prejereba que se desfaz em lâminas ao toque do garfo pode ser o peixe do dia com salada de erva-doce, farofa de farinha d’água e molho de vatapá (R$ 89,00). Glaceada com tucupi preto, a barriga de porco é acompanhada de uma espécie de feijoada caldosa de feijão-manteiguinha, excelente, mais farofa de milho e o agridoce dos picles de maxixe (R$ 84,00). Embora com predicados, o arroz de costela de gado curraleiro com jiló na farinha de milho (R$ 86,00) não tem o mesmo encanto das outras sugestões salgadas que provei em minha visita. Para o arremate, a torta cremosa de queijo brûlée com baunilha do cerrado e calda densa de jabuticaba com pronunciado ataque ácido (R$ 39,00) é memorável. Indicado ao prêmio sustentabilidade de VEJA SÃO PAULO COMER & BEBER, o restaurante de Bel Coelho adota diversos cuidados “Cerca de 85% produtores são orgânicos e agroecológicos, de preferência os artesanais e locais. Além disso, a gente faz uma gestão de resíduos reciclando a maior parte dos descartes. A única coisa que ainda não consegui implementar é uma composteira. Mas essa é a ideia”, explica a cozinheira.

Informações checadas em setembro de 2024.