Revista em mostra, obra de Artigas sofre com falhas de conservação
Centenário do arquiteto é celebrado no Itaú Cultural. Construções como a Garagem de Barcos estão abandonadas
Mais do que expor a vida e obra do arquiteto Vilanova Artigas (1915-1985), a exposição em cartaz no Itaú Cultural que celebra seu centenário desperta no visitante uma reflexão sobre sua relação com a cidade. Até o dia 9 de agosto, a mostra revela as várias faces de um dos mais importantes arquitetos brasileiros, cujos prédios emblemáticos estão espalhados pela capital.
Obras como o Estádio do Morumbi, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e o Edifício Louveira, em Higienópolis, chocam pela grandiosidade, sem deixar de lado sua elegância conquistada pelo estilo fluido do artista. João Batista Vilanova Artigas deixou características marcantes nas obras que projetou – como o revestimento aparente, o uso do concreto e da luz natural e a presença de espaços de convivência.
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“O legado do meu pai serve para pensarmos sobre todos os problemas que enfrentamos hoje referentes à cidade, universidade e arquitetura”, diz a historiadora Rosa Artigas, filha do arquiteto. Ela assina a curadoria da exposição, ao lado de seus filhos, Marco Forti e Laura Artigas – em parceria com Álvaro Razuk e a equipe do Itaú Cultural.
Alvo de constante discussão sobre sua conservação, a FAU-USP, tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico em 2013, teve o teto do prédio reformado após a situação chegar ao limite. Fundado em 1948, o prédio foi resultado da luta de Artigas pela divisão do ensino de arquitetura e engenharia da USP. A fachada sem portas mostra que o espaço está aberto a qualquer pessoa e ideia; e as rampas infinitas nunca interrompem a continuidade dos percursos.
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“A questão de conservação dos edifícios, sejam eles tombados ou não, diz respeito principalmente a duas questões básicas: conservação e uso. Nenhum edifício se mantém em boas condições se está abandonado”, afirma Silvio Oksman, arquiteto e conselheiro do CONDEPHAAT. É o caso da Garagem de Barcos na Represa Guarapiranga que, apesar de ser um patrimônio histórico, está totalmente abandonada há mais de vinte anos.
A situação das obras públicas do arquiteto não é tão diferente. Exemplo disso são as passarelas que cruzam duas grandes avenidas paulistanas, a Washington Luís e a Nove de Julho. A mais acidentada delas está localizada em frente ao Aeroporto de Congonhas. Devido ao recapeamento da avenida, sua altura diminuiu e a passarela acaba sendo destruída por caminhões desatentos.
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Por outro lado, o estado de conservação das obras privadas chega é boa, a exemplo do Edifício Louveira, em Higienópolis. O jardim sem grades do prédio se confunde com a Praça Vilaboim, tornando-o totalmente integrado à cidade. “Todos os problemas estariam resolvidos se os prédios da especulação imobiliária fossem como o Louveira”, diz o arquiteto Marco Forti, neto de Artigas.
Novos espaços de convivência e integração também podem ser vistos na Casa Elza Berquó, na Chácara Flora, cujo jardim está localizado no centro da casa e uma claraboia móvel permite a entrada de luz natural. Já a Casinha, no Campo Belo, primeira construção de Artigas, tem os cômodos totalmente integrados.
Mais de 700 obras de Artigas foram concluídas em diversas cidades do país, e grande parte delas pode ser vista na cidade de São Paulo – espaço necessário para que Artigas desenvolvesse sua própria sintaxe e onde, décadas depois, seu discurso reverbera e se mostra mais atual do que nunca.