François Truffaut: tudo sobre a mostra do cineasta no MIS
Objetos, fotos e vídeos resumem a trajetória do diretor, com foco na paixão pelas mulheres e na amizade com Hitchcock
É certo que o nome de François Truffaut (1932-1984), cineasta e um dos criadores da nouvelle vague, não é assim tão pop quanto o de Stanley Kubrick, diretor americano que foi tema de uma megamostra no MIS em 2013, mas a exposição dedicada ao francês tem o mérito de fazer uma bela homenagem a sua obra, com itens raros, curiosidades e instalações imersivas.
Com abertura nesta terça (14), Truffaut – Um Cineasta Apaixonado reúne cerca de 600 peças, entre fotos de bastidores de filmes, objetos usados nas filmagens, como a máquina de escrever da marca Remington presente em O Amor em Fuga (1979), vídeos de festivais, a exemplo da entrega da estatueta do Oscar ao autor francês por A Noite Americana (1973), e áudios preciosos — o visitante pode ouvir trechos da entrevista de Truffaut com Hitchcock, que se tornou um livro-referência entre os cinéfilos.
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Aliás, a amizade dos dois é um ponto bem explorado pelo curador francês Serge Toubiana. Numa carta de 1966 endereçada a Truffaut, Hitchcock dá os parabéns ao amigo pela edição do livro de entrevista, mas como um observador atento e meticuloso aponta uma incorreção em uma das páginas: “É tarde para mudar a edição francesa, mas podemos corrigir a inglesa”.
Exibida primeiramente na Cinemateca Francesa, a mostra ganhou ambientes novos por aqui. Num corredor com véus brancos, o visitante encontra projeções dos três famosos personagens de Jules e Jim, que formam um triângulo amoroso, correndo na direção do público. A opção de ressaltar a paixão de Truffaut pelas mulheres é criativa: em portas coloridas podem ser vistas através do olho mágico cenas sensuais de seus filmes.
Uma de suas obras mais conhecidas, Jules e Jim (1962) ganha curiosidades como trechos das primeiras páginas do roteiro, com anotações de Truffaut e Jean Gruault, um convite de 1962 para a pré-estreia do longa e uma interessante carta do escritor Henri-Pierre Roché ao diretor, aprovando a escolha da atriz Jeanne Moreau para a personagem de Kathe.
O salão oval do museu, com vários monitores em sequência mostrando cenas de Os Incompreendidos (1959), sua revolucionária estreia em longas-metragens, e Fahrenheit 451 (1966), entre outras fitas, abriga também a estatueta do Oscar que Truffaut recebeu por A Noite Americana (1973) na categoria de melhor filme estrangeiro.
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“Minha primeira decisão foi no sentido de que o amor pelo cinema, pelos filmes e pelas mulheres teria que ser o foco da montagem”, disse André Sturm, diretor do MIS e curador geral, que recebeu uma carta, em junho de 2014, de Serge Toubiana, diretor da Cinemateca Francesa, propondo a ele que a exposição fosse montada em São Paulo.
Ao falar de Hitchcock, sua grande inspiração e tema de estudo, para uma plateia do American Film Institute em 1979, Truffaut resume, no papel do excelente crítico que foi, como identificar a qualidade de uma obra: “Um filme é bom quando você consegue perceber entre as imagens o medo ou o prazer do diretor”. Seu espírito libertador e paixão pela vida felizmente estão bem representados na mostra.