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Fernando Anitelli: ‘Não vamos fazer é cover de nós mesmos’

Líder e criador do Teatro Mágico, cantor fala sobre amadurecimento musical e as mudanças na maquiagem e no cenário dos shows

Por Mayra Maldjian
Atualizado em 5 dez 2016, 16h04 - Publicado em 30 abr 2013, 03h30

Há dez anos, uma trupe paulistana com a cara pintada começou a arrastar adolescentes de todo o país para espetáculos que uniam circo, teatro, poesia e música. Com a internet como aliada e um forte apelo conceitual, O Teatro Mágico vendeu mais de 400 mil CDs desde o disco de estreia, Entrada para Raros (2003), e hoje dá um passo maior rumo à evolução musical.

A companhia criada por Fernando Anitelli lança na sexta (3) e no sábado (4) o seu terceiro DVD, Recombinando Atos, uma mistura de sucessos dos três discos da carreira –alguns com novos arranjos– e das inéditas É Ela, Todos Enquantos, Quando a Fé Ruge e Perdoando o Adeus. Esse registro, segundo Anitelli, “aponta para o novo caminho” que a trupe tem seguido desde a chegada do guitarrista Daniel Santiago, produtor musical do último trabalho de estúdio do grupo, Sociedade do Espetáculo (2011). “Ele trouxe uma maturidade sonora ao Teatro Mágico”, detalha o fundador em entrevista à VEJINHA.COM (leia abaixo).

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Santiago, que já tocou com Milton Nascimento, levou o baixista Thiago Espírito Santo, que completou a banda também formada por Rafael dos Santos (bateria), Galldino (violino) e Guilherme Ribeiro (teclados). “Para cada álbum há um elenco diferente. Tal qual uma companhia artística, a gente agrega outros músicos, outros artistas performáticos”, explica Anitelli. Mateus Bonassa, Andrea Barbour e as gêmeas Natalya e Nayara Dias se enquadram no segundo caso. O visual da banda também entrou na dança da mudança. A maquiagem, agora mais sóbria, foi reformulada por Mona Magalhães. Do figurino cuidou Ana Paula Campos. Quem assina cenário e projeções, atualmente menos circenses, mais plurais, é Fábio Ema.

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No primeiro show, junta-se ao conjunto artístico a cantora Ellen Oléria, vencedora do The Voice Brasil. “Vai ser um encontro fabuloso com muita música negra, suingada, pesada”, conta o líder, adiantando que eles farão uma música dela e duas do grupo (uma delas será Xanel Nº 5). Na segunda noite, o encontro será com o trovador gaúcho Pedro Munhoz, autor da Canção da Terra, parte da trilha da novela das seis da Globo, Flor do Caribe. Confira abaixo os principais tópicos da entrevista com Fernando Anitelli:

Daniel Santiago e os novos arranjos

“O Teatro Mágico tinha uma história já consolidada e sempre eu que fazia a nossa produção musical. Fiz Entrada para Raros e Segundo Ato. Quando chegou a vez de Sociedade do Espetáculo, resolvemos chamar alguém de fora para trazer outra estética sonora. A gente já conhecia o trabalho do Daniel Santiago, ele é compositor, tem alguns álbuns de música instrumental, já concorreu ao Grammy Latino, acompanhou Hamilton de Holanda, tocava com João Bosco e Milton Nascimento. Ele topou. Foi aí que a mão de Daniel começou a reger a musicalidade do Teatro Mágico. Ele viu nas canções um potencial gigante e trouxe essa excelência, não somente na execução, mas nos arranjos, na harmonia das músicas.”

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Pop fundamentalmente brasileiro

“Nós somos essencialmente uma banda pop, que canta canções de três, quatro minutos, com refrão que você sai assoviando. Mas que traz uma mensagem crítica, um posicionamento em relação ao mundo, com amor e humor. Se você pega ali 14 Bis, Clube da Esquina, Milton Nascimento, é uma galera que nos anos 70 já fazia música progressiva, mas fundamentalmente brasileira. Tem muito dessa referência no nosso trabalho atual. Vivemos dez anos com as pessoas sem conseguir rotular a gente. Não dá para chamar o Teatro Mágico de MPB, por exemplo. Quando você fala MPB hoje a pessoa vai imaginar banquinho e violão, com uma mulher (que vão falar que é lésbica) cantando ou um cara velhinho de terno. Não queríamos essa visão equivocada da MPB –que é muito mais do que isso. O Teatro Mágico é uma banda pop com trabalho sofisticado, que busca e pesquisa a sua sonoridade, e traz performance, um estudo cênico para todas as linguagens que são colocadas no palco.”

Menos clown, mais teatral

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“Tudo mudou. O figurino está uma coisa mais Les Miserables, saiu aquela coisa colorida lá do Entrada para Raros, que tinha o lado lúdico fervoroso nas cores. Agora está muito mais amadurecido, são outras texturas. Inclusive a nossa maquiagem mudou muito. Num primeiro momento era só aquele branco com as cores que faziam referência ao palhaço. Agora está mais teatral. A gente chamou pessoas que já têm uma vivência com teatro, elas deixaram as maquiagens muito mais orgânicas. A parte performática, que até então tinha muita referência no circo, mudou. Hoje a gente trabalha com dança, com performances aéreas, coreografias.”

Incomodado, sim, acomodado, jamais

“Estamos fazendo dez anos de estrada. O público amadureceu com a gente. E trazer outra sonoridade mostra para todos aqueles que nos acompanham que a gente não está ‘feliz’ com tudo o que já fizemos. A gente tem que estar constantemente incomodado. Tom Zé e Ney Matogrosso nos inspiram porque estão sempre incomodados, buscando novas experiências sonoras para seus trabalhos. Tem que pesquisar, trazer novos talentos, novidade no som, na postura no palco. Nosso público sabe que a última coisa que a gente vai começar a fazer é cover da gente mesmo. A essência permanece ali, a melodia, o refrão, as pessoas cantam com a gente.”

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Fãs, uma extensão da trupe

“Tem duas coisas que sempre honramos: a nossa obra e o nosso público. Até hoje conversamos com os fãs ao final de todas as apresentações. Pode ter sete mil pessoas na plateia, como foi o caso do Credicard Hall no ano passado, pode ter 1 500, a gente para e ouve deles o que está sendo interessante e o que não está. Eu falo que não temos fãs, o que temos é uma extensão da trupe. O público é uma espécie de sócio e coautor da trupe. Eles sabem que o Teatro Mágico existe e prevalece até hoje justamente porque eles têm oxigenado e dado sobrevida ao nosso trabalho.”

Música livre para baixar

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“Ocupamos todos os espaços que conseguimos. A rádio e a televisão são concessões públicas e deveriam trabalhar para o povo, mas a gente sabe que não é o que acontece. Tem música nossa só agora, depois de dez anos, tocando em uma rádio ou outra. Tem uma, Canção da Terra, que foi escolhida para fazer parte da trilha sonora de uma novela, Flor do Caribe [novela das seis da Globo]. A gente continua independente, mas dependente de muita coisa. Fizemos com a Som Livre [responsável por editar a trilha] o primeiro contrato de música livre. A canção toca na novela, mas também pode ser baixada, compartilhada na internet, porque isso não é crime [o grupo faz parte do movimento Música Livre para Baixar]. É muito importante ocupar certos locais até então dominados por aquelas multinacionais que mandam no que toca no país inteiro. E a gente chega lá pela porta da frente, com a música na íntegra, falando sobre a questão do movimento sem terra. Isso para nós é de grande valia.”

Novas letras, novos assuntos

“As letras têm falado sobre questões de relação humana para além de amor namorado-namorada. É outro amor, talvez até saudoso. O ano passado foi muito sensível para toda a minha família. O meu irmão mais velho foi morar com o papai do céu. Tudo o que eu escrevia era pertinente a essa relação de luta, de amor, de humanização, de relação entre nós, seres humanos, a vida. Uma delas diz assim: ‘A vida anuncia que renuncia a morte dentro de nós’ [Perdoando o Adeus]. Tem outra que diz ‘quando há ferrugem no coração de lata, é quando a fé ruge e o meu coração dilata’ [Quando a Fé Ruge]. É com esse teor que essas letras novas estão chegando.”

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