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Tarsila do Amaral integra mostra com grandes modernistas em Paris

'Le Paris de la Modernité' está em cartaz no Petit Palais até 14 de abril. Pintora também terá individual no Museu de Luxemburgo em outubro

Por Oswaldo Carvalho, de Paris
29 mar 2024, 06h00
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Obra 'A Cuca', ao lado de Modigliani, no Museu de Belas Artes de Paris (Paris Museés/Petit Palais/Gautier Deblonde/Divulgação)
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Tarsila do Amaral (1886-1973) passou a década de 1920 entre Paris e a fazenda de sua família, no interior paulista. Um século depois, o Museu de Luxemburgo, na capital francesa, prepara para outubro uma grande mostra retrospectiva de sua obra. Uma prévia já pode ser conferida: a tela A Cuca, pintada pela artista em 1924, integra a exposição Le Paris de la Modernité (A Paris da Modernidade), em cartaz no Museu de Belas Artes da cidade, abrigado no Petit Palais, até 14 de abril.

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‘A Cuca’ (1924), de Tarsila do Amaral (Paris Museés/Petit Palais/Gautier Deblonde/Divulgação)

Juliette Singer, curadora-chefe do Petit Palais, conta ter batalhado para incluir a brasileira na exposição, que resgata as escolas modernistas da Paris de 1905 a 1925 e já recebeu mais de 230 000 visitantes: “Conheci sua obra na Pinacoteca de São Paulo em 2008 e foi uma revelação”, relata. A escolha foi acertada: as cores tropicais de Tarsila trazem frescor em meio a quadros de ícones das vanguardas artísticas da Europa, como Pablo Picasso e Amedeo Modigliani.

Fã declarada da pintora, Juliette adora a cena artística paulistana atual. “Como a Paris do início do século XX, hoje talvez seja São Paulo o lugar onde a arte é mais ativa no mundo. É uma cidade estimulante, com ótimos museus e artistas incríveis”, afirma. Para a curadora, as temporadas parisienses de Tarsila a conectaram ainda mais com suas raízes: “Quanto mais longe ela estava de casa, mais seu coração se aproximava da cultura popular brasileira”, observa. A reinterpretação do personagem folclórico em A Cuca ilustra esse vínculo. “A tela é quase naïf, primitiva, mas ao mesmo tempo inquietante e completamente revolucionária. A arte de Tarsila é perturbadora, sem ser agressiva”, define Juliette.

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A curadora Juliette Singer (Paris Museés/Petit Palais/Gautier Deblonde/Divulgação)

A exposição resgata um tempo em que, mais do que nunca, a Cidade Luz foi um polo exportador de cultura para o mundo. Mas Juliette Singer reconhece que a influência entre Europa e América Latina se deu em via de mão dupla. “A cultura brasileira teve impacto na obra de grandes artistas, como o poeta suíço Blaise Cendrars, radicado na França e amigo de Tarsila.”

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Além da pintora, outros símbolos da cultura brasileira integram a mostra Le Paris de la Modernité. Santos Dumont é lembrado como o primeiro homem a rasgar o céu da cidade com o seu 14-bis em 1906. A MPB é citada como inspiração para o nome do cabaré mais concorrido na Paris dos “années folles” (ou anos loucos), o Le Bœuf sur le Toit (O Boi no Telhado). E o percurso termina com uma miniatura do Cristo Redentor, identificado como a maior escultura art déco do mundo. “Grandes personalidades brasileiras vieram à França no período e, ao regressar, se apropriaram dessa efervescência e criaram, no continente americano, outras formas de modernidade”, conclui Juliette Singer.

Publicado em VEJA São Paulo de 29 de março de 2024, edição nº 2886

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