Fenômeno de público, ‘Wicked’ tem fãs que já viram a peça 28 vezes
Enfeitiçadas pelas bruxas do musical, as fãs chegam a trocar mais de 1 000 mensagens por dia
Nos últimos seis meses, a paulistana Fernanda Tavares, de 30 anos, tem vivido uma jornada dupla intensa. Passou a dividir seu tempo entre o emprego de assistente administrativa e o de gestora da Wicked Family, o fã-clube dedicado ao musical Wicked, em cartaz no Teatro Renault desde março. Diariamente, precisa responder às questões dos 150 membros, organizar ações nas redes sociais e coordenar as “excursões” ao teatro. Muitos assistem até a quatro apresentações seguidas, o que não se compara com o recorde de Fernanda: ela viu nada menos que 28 vezes o espetáculo (como o ingresso mais barato custa 50 reais, a fã já investiu pelo menos 1 400 reais na história).
A turma participa de longos debates sobre o desempenho dos diferentes atores que se revezam nos papéis principais. “Se fico um dia sem olhar nosso grupo no WhatsApp, passa de 1000 mensagens”, conta Fernanda.
Baseada no livro homônimo do americano Gregory Maguire, de 1995, a peça é uma espécie de flashback do clássico O Mágico de Oz, antes de a protagonista Dorothy pisar na estrada de tijolos amarelos. Narra a amizade entre a bruxa má Elphaba (Myra Ruiz), que nasceu com a pele verde e é esquisita e excluída, e a bruxa Glinda (Fabi Bang), bonita, rica e popular.
O espetáculo vendeu mais de 160000 ingressos desde a estreia. É surpreendente, levando-se em conta que o público dos musicais encolheu 30% desde 2015 devido à crise econômica. “O espetáculo conquista porque expõe o preconceito e o bom e o ruim de cada um”, diz Rachel Ripani, diretora residente da peça. “Todo mundo já se sentiu Elphaba na vida.”
Com o sucesso, surgiram divisões dentro da própria Wicked Family. O grupo que idolatra Myra Ruiz é liderado por Fernanda. “A Myra é encantadora, faz as músicas mexer com os espectadores”, defende. Já a estudante Tayná Gonçalves, de 17 anos, encabeça a turma apaixonada por Glinda. “A Fabi é a atriz mais forte”, afirma. No fim das apresentações, as garotas ficam esperando as atrizes saírem do camarim para fazer selfies.
Apesar das preferências diferentes, nenhuma das facções amaldiçoa a outra. “É tudo na paz”, garante Tayná. “Emprestamos dinheiro umas para as outras quando falta para comprar ingresso.” As meninas começaram a economizar para o que vem por aí. A produtora Time for Fun prorrogou a temporada até dezembro (a previsão inicial era fechar as cortinas em 31 de julho). Fernanda já está com os ingressos comprados para as quatro últimas apresentações do ano. E depois que acabar? “Vou ter abstinência, não tem outra palavra”, brinca.