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“Somos meio ‘Eduardo e Mônica’”

Luciane fala sobre o romance com Paul, em Paris, a vinda para São Paulo e os preconceitos que sofreram devido às diferenças de idade e nacionalidade

Por Luciane Teixeira Cabannes, em depoimento a Júlia Rodrigues
Atualizado em 27 Maio 2024, 22h21 - Publicado em 4 mar 2022, 06h00
Paul é um homem branco, magro, loiro e de olhos azuis. Ele está sentado em uma poltrona enquanto sua esposa, Luciane, uma mulher negra, de cabelos escuros e crespos, apoia uma das mãos em seu ombro.
O casal em sua casa em São Caetano do Sul: romance em Paris (Rogério Pallatta/Veja SP)
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“Nasci em Maringá, mas me mudei para a França em 1998, aos 23 anos. Lá, fiz parte de um clube de teatro, a Troupe Saint-Philippe du Roule. E foi assim, nos palcos, que encontrei o Paul. Tempos antes, eu havia escrito uma lista com as características do homem com quem eu gostaria de me casar — loiro e de olhos azuis —, e ele batia com todas. No início, ambos tínhamos receio pela diferença de idade, pois, na época, eu estava com 35 e ele, 20. Até que ele se mudou para a república onde eu morava e viramos amigos.

Um dia, fomos fazer um piquenique no Jardin du Palais-Royal, um parque próximo ao Museu do Louvre. Tive a ousadia de escrever em um guardanapo ‘J’aime tes yeux’ (Eu gosto do seu olhar, em tradução livre), para que ele visse minha mensagem quando comesse o sanduíche. Ele me respondeu com outro guardanapo que dizia ‘J’aime ton sourire’ (Eu gosto do seu sorriso). Acredito que esse foi o passo inicial para o nosso relacionamento. O Paul brinca que fizemos ‘à francesa’, sem pedido de namoro, ao contrário do que é comum aqui no Brasil, onde tudo precisa ser combinado antes. Em maio de 2012, nossa primeira filha, Miléna, nasceu e, em junho, exatamente dois anos depois da minha declaração no parque, nos casamos na Eglise de la Sainte-Trinité. Entre a família e os amigos do Paul, a recepção não foi tão boa quanto esperávamos. Muitos desconfiaram do nosso casamento, por eu ser estrangeira e quinze anos mais velha. Alguns conhecidos e vizinhos do bairro, inclusive, se recusaram a ir à cerimônia. Nossa segunda filha, Johanna, nasceu também na França, em 2014.

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Luciane e Paul no dia de seu casamento. Ele veste um terno preto e óculos. Ela veste um longo vestido bordado com uma coroa. O buquê que ela segura tem rosas brancas.
O casal no dia do casamento: na Eglise de la Sainte-Trinité, em Paris (Juliette D'Assay/Divulgação)

Em Paris, Paul trabalhava em bicos — foi de locutor de rádio a corretor de imóveis —, mas sempre com o sonho de levar a carreira de comediante. Quando viemos juntos ao Brasil pela primeira vez, a passeio, em 2013, ele sentiu que poderia ter grandes oportunidades aqui e nos mudamos para Maringá em 2015. Aos poucos, enquanto conciliava com outras atividades profissionais, criou seu canal no YouTube e começou a publicar seu conteúdo de humor na internet (@paulcabannes_). Foi só em 2020, para se dedicar aos shows de stand-up, que viemos para São Paulo. Agora, em abril, ele se prepara para uma turnê nacional.

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Nós brincamos que, quando se muda da França para o Brasil, a sensação é a de tirar um sapato social apertado e calçar um chinelo Havaianas. O francês é muito protocolar, tanto nos horários quanto nas regras de conduta e, apesar de Paul ainda manter alguns desses traços, eu sinto que a personalidade dele ‘abrasileirou-se’ muito nesses anos. Não se engane achando que os franceses são engraçados como ele, você dificilmente vai encontrar alguém assim andando pelas ruas de Paris.

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Tenho especialização em desenvolvimento pessoal e ministro cursos on-line em francês para mulheres solteiras que desejam casar e construir uma vida saudável a dois. Ensino a elas que não é suficiente estar apaixonada, mas também respeitar a individualidade de cada um, o que sempre aplicamos em nosso relacionamento. Somos meio ‘Eduardo e Mônica’ (da canção do Legião Urbana): quando nos conhecemos, eu já havia terminado meu doutorado e o Paul ainda prestava vestibular. Acho extraordinário como, mesmo vindo de realidades tão diferentes — eu, de uma família de baixa renda no Brasil e ele, da classe média francesa —, construímos tudo juntos, na base da confiança, do amor e do apoio mútuo.”

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Publicado em VEJA São Paulo de 9 de março de 2022, edição nº 2779

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