Super-herói da rima: projeto ABRAKBÇA apresenta hip-hop para crianças
Poeta e professor paulistano Renan Inquérito introduz os pequenos na cultura do rap em disco e show lúdico
Um MC Mágico que encanta as palavras e apresenta o universo do hip-hop para as crianças. Esse é o personagem que o rapper, poeta e professor Renan Inquérito, 39 anos, encarna no apaixonante projeto ABRAKBÇA, que está rodando o Brasil com espetáculos infantis.
Lançado como disco em março, com clipes em stop-motion e convidados como Maria Rita, Arnaldo Antunes e Adriana Partimpim, a iniciativa original vem encantando os pequenos e suas famílias em shows ao vivo.
“Digo para a molecada que o hip-hop é mais do que uma cultura, é um super-herói que salvou a vida de muitos com os poderes de cantar, tocar, pintar e dançar. Toda criança é hip-hop”, defende o educador.
Fundador do grupo de rap Inquérito, com o qual lançou oito discos, o paulistano também é doutor em geografia e professor — para ele, realizar um projeto infantil era só questão de tempo. “Nas aulas, meus raps e poesias sempre conversaram com os adolescentes. Mas percebi que, com as crianças, não, e isso me incomodou. Então comecei a fazer brincadeiras com as palavras, e encontrei esse caminho”, conta.
O MC, que sobe no palco com barba colorida, óculos escuros, chapéu e colar dourado, define a apresentação como um “espetáculo infantossenil”: para crianças de todas as idades.
Desde a estreia da turnê, no primeiro semestre, foram dezenas de shows — a maioria gratuitos — por São Paulo, Alagoas e Maranhão. “Para um projeto inédito, sem gravadora nem patrocínio, me sinto muito vitorioso”, diz.
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Entre os relatos do público, já existem histórias de aniversários feitos com o tema, bonecos produzidos pelas famílias e até uma criança autista que conseguiu, pela primeira vez, assistir a uma apresentação sem um abafador de ruído.
A estreia em 2023, ano do cinquentenário do hip-hop, não foi planejada. “Esse disco começou a ser pensado em 2017. Agora todo mundo está falando sobre a história do movimento, mas eu quero pensar no futuro e garantir que tenham mais cinquenta, 100 anos”, afirma Renan.
“O hip-hop que eu conheci, essas crianças só vão ver no museu. Nosso dever é pegar elas pela mão e dizer: ‘Olha, eu já fui como você, e essa cultura me salvou’.”
Publicado em VEJA São Paulo de 20 de outubro de 2023, edição nº 2864