Projeto quer padronizar mesas de bilhar nos comércios da cidade
Equipamentos que estiverem fora das regras serão apreendidos. Multa chega a 580 reais
Disputar uma partida em boa parte das mesas de bilhar da capital representa um desafio comparável ao de jogar tênis nos escombros do Itaquerão. Tacos empenados, campos em desnível e caçapas fora do padrão constam da relação de problemas que, de tão frequentes, já foram incorporados ao folclore do negócio. Agora, quem diria, os vereadores da Câmara Municipal resolveram se debruçar sobre a causa e apresentaram uma tentativa de pôr ordem na bagunça. No último dia 4, uma segunda votação realizada no plenário do Palácio Anchieta aprovou o projeto que obriga todo e qualquer estabelecimento que tenha esse serviço a dispor de equipamentos no padrão Fifa, ou melhor, no da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), além de placas definindo as regras (em inglês e português). Esses locais passarão também a ser proibidos para menores de 18 anos (hoje, a norma só vale para endereços com bebidas alcoólicas). Quem desrespeitar a lei será multado em até 580 reais e corre o risco de ter os materiais apreendidos. Os fiscais das subprefeituras é que vão zelar pelos buracos. “Não dá mais para oferecer o lazer e deixar de cuidar da manutenção”, justifica Antonio Goulart (PSD), responsável pela proposta. Em sua casa no bairro de Guarapiranga, na Zona Sul, ele possui uma mesa com medidas oficiais, mas é modesto sobre suas habilidades. “Estou longe de ser fera nessa área”, conta.
A padronização será definida na regulamentação da legislação, que aguarda a assinatura do prefeito Fernando Haddad para entrar em vigor. A nova geração de bambas do feltro de uma cidade onde surgiram campeões como Carne Frita e Rui Chapéu e a turma que organiza torneios aplaudem a iniciativa. “O assunto deve ser tratado com seriedade”, defende Raimundo de Santa Rita, presidente da Federação Paulista de Sinuca e Bilhar, lembrando que a brincadeira esteve presente nos Jogos de Londres, em 2012, como esporte de demonstração. “Isso ajuda a despertar mais interesse pelo assunto”, afirma Silvia Taioli, tetracampeã paulista e professora da modalidade.
Existem cerca de 3 milhões de praticantes por aqui e 800 000 estabelecimentos com mesas, desde as mais simples, de botecos, até as com medidas oficiais. Uma minoria dos endereços é dedicada exclusivamente ao negócio — 120, ou 10% a menos que o número registrado em 2010. Antes da ajuda da Câmara, o mercado já vinha criando alternativas para garantir a sobrevivência. O Tati Snooker, na Vila Nova Conceição, inaugurou em março uma mesa de 30 metros quadrados na qual os competidores podem jogar com os pés, empurrando bolas de futsal para as caçapas tamanho-família. No Bahrem Pompeia, aberto há um ano e meio, com dezesseis mesas, o jeito foi caprichar no cardápio, incluindo petiscos variados, e criar uma sala vip. “Não dá para viver só da sinuca”, conta o proprietário Amarildo Duarte. Na visão de empresários como ele, a lei chegou em boa hora e deve ajudar um negócio que corre o risco de ficar pela bola sete.