Continua após publicidade

Petit, o caçador de livros

Em 2011, a livraria Freebook abriu na Rua da Consolação 1.924; conheça Petit, o homem que encontra os livros dos sonhos de qualquer um

Por Milena Emilião
Atualizado em 1 jun 2017, 17h50 - Publicado em 20 fev 2013, 21h07

Foi por influência da mulher, Cris, que Manuel Dias Teixeira Neto se transformou em um livreiro, ou seja, um negociante de livros. Petit, como é chamado desde a infância – foi a primeira palavra dita pelo irmão caçula –, é amigo de famosos e fornecedor de gente importante – como estilistas e empresários. Nomes, ele diz poucos, por discrição e por não se lembrar deles mesmo. Sabe do que os clientes gostam, do que costumam pedir ou comprar, mas com nomes ele nunca foi bom.

Paulista de Santos, veio para São Paulo aos 22 anos fazer um curso de fotografia com o hoje amigo J.R. Duran. O pai é filatelista, e é da paixão pela coleção herdada que veio o jeito com os livros. Viveu por anos na Rua Peixoto Gomide – mas trocou a facilidade do centro pela tranquilidade da Granja Julieta.  Ali  cria seus dois cachorros e um papagaio, cuida do jardim e assiste aos macaquinhos passearem entre as árvores.

Gosta mesmo é de gastar seu tempo com os livros. Tanto que fez do garimpo, do trabalho de detetive, sua profissão. Na ditadura precisou explicar para os oficiais que o Kama Sutra não é leitura de subvertidos. Durante 34 anos,  importava livros e nunca teve um espaço público para expor suas conquistas. Em suas visitas às maiores feiras de livro do mundo (lembra-se do tempo em que esses eram os grandes eventos da cidade e até  de  festa no último andar do Rockefeller Center e no MoMa – em Nova York – já participou), fazia contato com importantes editoras e sabia de antemão o crème de la crème prometido para os próximos meses. É dele, por exemplo, o primeiro lote de Harry Potter que chegou ao Brasil, em inglês. E foi ele quem separou um exemplar e enviou para o Paulo Rocco (da Editora Rocco) que foi providenciando a tradução para o português. Este foi o seu maior lucro. E torce para que o mercado editorial tenha um Harry Potter por ano.

No final de 2011, cedeu à pressão dos filhos Maíra e Ivo (que mantêm um blog sobre livros) e abriu uma loja para a Freebook (a empresa já existe com esse nome desde os anos 1980). Aceitou a sugestão, mas não quis uma loja qualquer. No meio da Rua da Consolação (número 1.924), entre as incontáveis lojas de iluminação e ao lado do cemitério, abriu as portas para o público, mas apenas para os que tocam a campainha e se identificam. E justifica: “Não vendemos CD ou DVD, não tenho livros nacionais, não vendo lustres. Com a porta aberta entra alguém ‘Pô, meu, é sebo? Você tem o Pato Donald?’ Não”. “E a poeira? Se eu deixar a porta aberta os livros vão se encher de poeira.”

O atendimento é o mesmo de quando a loja era só no tête-à-tête. O cliente explica o que está procurando e Petit, sua mulher, filha ou uma das poucas funcionárias tentam ajudar. O trunfo é o inesperado. Petit sabe como agradar. Ele se lembra de quando uma senhora foi procurá-lo porque precisava presentear um ricaço que gostava de gamão e golfe. “O que dar para quem tem tudo?”, afinal. Petit tinha a resposta: uma coleção impossível de arte (Impossible Collection: The 100 Most Coveted Artworks of the Modern Era, ao preço de quase 2 000 reais, reúne obras de arte que são propriedade de museus e nunca poderão ser arrematadas num leilão). O presente foi dado, o presenteado adorou e a presenteadora se sentiu orgulhosa, e fez questão de agradecer ao Petit.

Continua após a publicidade
Paper Passion - livro à venda na Freebook
Paper Passion – livro à venda na Freebook ()

Livros como os que ele vende ou é capaz de encontrar a pedido de um amigo nunca vão deixar de existir. “Esse aqui é um perfume com cheiro de livro  (Paper Passion), só foi feita essa edição. Acabou, acabou. Tive que trazer como bagagem de mão no avião, porque é produto inflamável, pra despachar ia ficar caro demais”, explica. “Abre o livro (que fica no armário chaveado), mexe. Onde você já viu um livro assim no mundo? Sente o cheiro (abre o frasco de perfume que está dentro do livro). É um livro e, ao mesmo tempo, uma embalagem para um perfume com cheiro de livro novo.” 

Dentro do livro, um frasco de perfume criado por Karl Lagerfeld recria o cheiro das páginas recém-impressas.  É por isso que não teme em afirmar que o livro impresso nunca vai acabar.  A raridade, na Freebook, custa R$ 312,00. Petit sabe que o que vende é especial e trata seu acervo com o cuidado de um curador de Bienal.

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Domine o fato. Confie na fonte.
10 grandes marcas em uma única assinatura digital
Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de R$ 39,90/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.