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Pedro Vinicio faz sucesso nas redes sociais com desenhos que refletem o cotidiano

Jovem de 18 anos nascido em Garanhuns tem mais de 750 mil seguidores no Instagram, por onde compartilha obras de humor diariamente

Por Alice Granato
26 jul 2024, 06h00
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aos 18 anos, o artista carrega uma legião de fãs: dos 8 aos 80 (Agliberto Lima/Veja SP)
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Ele se sente com uns 63 anos de idade. Tem um jeito manso, fala pausadamente, adora conversar e é extremamente observador. Sem dúvida, tem uma maturidade muito grande para a sua idade real, 18 anos. Inteligente, sagaz e afetuoso, o menino nascido em Garanhuns, no interior de Pernambuco, tornou-se uma celebridade em todo o Brasil através de seus desenhos e dizeres, que acertam no alvo no cotidiano das pessoas, que os compartilham diariamente nas redes sociais. “Para ser sincero, não fico pensando no que estou criando. Meu trabalho é solto”, afirma. “Não me acho um cartunista, que tem um acontecimento e precisa falar daquilo.”

Desde que começou a postar seus desenhos no Instagram, quando tinha apenas 14 anos e estávamos em meio à pandemia, ele já conquistou mais de 750 000 seguidores espontâneos — de crianças a grandes artistas, como Cildo Meireles, Luiz Zerbini, Jac Leirner e tantos outros (veja abaixo). Pergunto se as obras são autobiográficas. “É a autobiografia de todo mundo”, define, sorrindo. “Da mulher que trabalha na padaria àquela que está sentada lendo um livro de Jorge Amado.”

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Posando para a reportagem na Oficina Francisco Brennand, em Recife: locação foi pedido do artista (Agliberto Lima/Veja SP)

Mas de onde vem tanta inspiração e como ele consegue falar com pessoas de idades e personalidades tão diferentes? Sim, ele agrada dos 8 aos 80. “Quando eu tenho um cartum para entregar — ele é colunista da Folha de S.Paulo — dou uma volta mais meu pai e minha mãe, pode ser a pé ou de carro, e escuto o movimento na rua. Pode ser sobre chocolate ou qualquer outro assunto, e aí escrevo. Sempre quando estou sem tema vou dar uma volta. Mesmo que seja na cozinha de minha casa. Vejo um pedaço de queijo e escrevo”, conta.

Pedro vive em Garanhuns com sua mãe, Neide, que se dedicou à sua criação e de sua irmã, Marília, e seu pai, Mário, que foi caminhoneiro e está aposentado. Marília, de 25 anos, trabalha com ele como assessora e produtora e é mãe de seu sobrinho, Arthur, de 5 anos. Ele conta que desde pequenininho, com a idade de seu sobrinho, já gostava de ficar com os adultos. “Garanhuns é uma cidade calma, e eu ficava conversando mais meu avô e meu bisavô e os amigos deles, passava a tarde ouvindo os papos”, revela. “Daí que vem esse meu jeito.” Os avôs faleceram. Seu ateliê fica em cima da casa de sua avó, com quem costumava brincar: “Eu dizia a ela: ‘Ainda vou te emprestar 10 000 reais vendendo meus quadros’. Ela gostava”, diverte-se.

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Obra de Pedro Vinicio (Artes Pedro Vinicio/Reprodução)

Pergunto se ele já está, de fato, ganhando dinheiro com seu trabalho. “Para comprar meus livros nos sebos”, brinca. Ele é artista independente, lançou seu livro Tirando Tudo Tá Tudo Bem (2023; a R$ 46,61 na Amazon) pela editora Cobogó, vende seus trabalhos na sua própria página e faz colaborações com algumas marcas. “Gosto da liberdade. De saber que meu quadro está na casa de Caetano Veloso, de Zerbini, que fez um retrato meu e me chama de poeta… Gosto de vender para pessoas legais”, destaca. “Mas não gostaria que um idiota comprasse.” O jovem desenhista já vendeu suas obras para artistas como Jac Leirner, Zélia Duncan, Dani Calabresa e Paula Lavigne e Caetano Veloso, como citou. “Nos últimos dias tive mais de 10 milhões de visualizações de meu trabalho, pessoas que acessaram”, diz, impressionado. “Sou muito ligado em tudo o que está acontecendo. Sei mais até de São Paulo e do Rio de Janeiro do que de Pernambuco.”

Pedro por ele Mesmo

As preferências do artista através de desenhos criados especialmente para esta reportagem

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Qual prato poderia comer todos os dias?

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Esse sucesso todo começou na pandemia, quando estava com 14 anos. Pedro pegou o celular da mãe, “um Samsung todo ferrado”, e começou a desenhar para passar o tempo, em um “aplicativo vagabundo”. Ele conta que Laerte (grande cartunista e sua amiga) tentou descobrir qual era e ele não revelou. “Foi engraçado”, diverte-se. Segundo Pedro, ele estava cansado do estilo de desenho que vinha fazendo em papel e jogou tudo fora. “Descobri que dava para desenhar deitado, pelo celular, e sem sujar as mãos”, diz. O pulo do gato viria a seguir. “Estava de saco cheio de buscar a perfeição. E então comecei a trabalhar em cima do erro. Acho que isso foi novo. Todo mundo estava tirando o erro e eu o trouxe. Um dia eu estava escrevendo e errei. Quando fui apagar, achei legal o rabisco que tinha feito. E virou a minha assinatura”, conta. Os rabiscos agora não podem faltar. “Hoje tem erro querendo, mas começou sem querer”, afirma. “Dessa forma, quando eu erro ninguém percebe, e quando não erro também.”

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Serigrafia que será exposta na Livraria da Vila com produção da Glatt (1/5) (Artes Pedro Vinício/Reprodução)

Pedro começou a desenhar desde muito novo, segundo ele, como qualquer criança. “Eu era igual a todo mundo que desenhava desde pequeno, só que não parei”, diz. “Me lembro de desenhar até na Bíblia da minha avó, rasgava as páginas.” Mas foi aos 13 anos que descobriu que queria se dedicar de verdade a isso. “Eu disse para mim: vou desenhar todos os dias porque eu gosto.” Ele conta que foi através de uma professora na escola que revelou seu talento. Ela o chamou para pintar um muro e ele desenhou um cachorrinho branco. “Todo mundo ficou olhando para mim, coisa de criança. Mas eles gostaram e eu gostei mais ainda”, diz. A mesma professora o inscreveu em um concurso de desenho, em que tirou o primeiro lugar. “Ganhei uma viagem para uma fazenda”, diz, feliz.

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Serigrafia que será exposta na Livraria da Vila com produção da Glatt (2/5) (Artes Pedro Vinicio/Reprodução)

Até engatar no desenho, Pedro conta que não ia bem na escola. Aprendeu a ler depois dos 9, repetiu duas vezes de ano. Quando mudou para uma escola pública, depois dos 10, foi que começou a ir bem, fluir e gostar de português, história… “Só não gostava de matemática”, enfatiza. Os pais ficavam preocupados, mas, ele diz, nunca fizeram pressão. Observavam atentos o caminho que o filho trilhava. Então, ficou cansado das telas e pincéis e quis mudar de estilo. Foi quando começou os desenhos digitais no celular da mãe. “Eu não era ligado em rede social, até hoje não sou”, diz. Foi tudo muito rápido. “Fiz quatro desenhos e postei, bem molecão”, diz. De repente estava com 12 000 seguidores, jornalistas o procurando e famosos o seguindo. O jornal El País o chamou de “guru da pandemia”. Com 14 anos a coisa já tinha ficado séria e ele ganhou seu próprio celular.

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Serigrafia que será exposta na Livraria da Vila com produção da Glatt (3/5) (Artes Pedro Vinicio/Reprodução)

Pedro tem 18 anos, mas nunca bebeu nem fumou. Não curte. “Ninguém nunca me disse ‘não beba’, eu que não gosto”, afirma. “Me sinto mais velho, é como se eu já tivesse bebido e fumado e disse ‘chega, agora vou parar’. Só que nunca nem provei!” Ele frequenta farras e shows com os amigos e acompanha tomando suco de laranja. É apaixonado por “um cafezinho”, tema recorrente de suas obras, de preferência junto com uma fatia de bolo de rolo, iguaria de sua terra (leia a matéria), ou milho assado. Gosta de comida caseira, não come feijão e tem paixão por pizza, seu prato predileto. “Não tenho frescura.”

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Serigrafia que será exposta na Livraria da Vila com produção da Glatt (4/5) (Arte Pedro Vinicio/Divulgação)

Outra curiosidade sobre sua personalidade é a admiração pela arte conceitual. É fã de Tunga, de Cildo Meireles, de Paulo Bruscky e divaga sobre a obra desses artistas com bastante conhecimento. Gasta seu dinheiro em sebos, em livros de arte e vinis, outra paixão. “O Cildo foi no lançamento do meu livro e comprou cinco exemplares”, conta, orgulhoso. “Ele me deu um desenho que eu trouxe na mão.”

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Serigrafia que será exposta na Livraria da Vila com produção da Glatt (5/5) (Artes Pedro Vinicio/Reprodução)

Na música ele tem gosto eclético, que abarca dos seus conterrâneos Otto e Siba (veja a matéria sobre a cena pernambucana em São Paulo) até Nirvana ou rock experimental, passando, claro, por Gilberto Gil e Caetano. Também é colecionador de LPs de Tim Maia.

Na próxima semana, Pedro vai lançar cinco séries limitadas com suas serigrafias e cinco pinturas inéditas na Livraria da Vila. A ideia da exposição nasceu a partir do lançamento desta edição especial de VEJA SÃO PAULO, e a mostra deve ficar em cartaz por um mês. Apesar de colocar em sua página os dizeres “por trás de todos os desenhos ruins existe uma pessoa que tentou fazer você sorrir”, ele sabe que não é verdade. “Faço uma ironia; antes que digam que é ruim, eu digo”, revela. “Mas adoro meu desenho.” Sua paleta é de cores vibrantes, e ele não usa o preto. “Nunca uso contornos pretos, não gosto.” Pedro diz criar antes as frases e depois os desenhos. “Antes de dormir, eu desenho para esquecer o que estou pensando”, afirma. Se eu pensar muito, não sai. Se eu não fosse artista, seria vagabundo”, brinca.

Na boca dos famosos

O que eles pensam sobre Pedro Vinicio

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ANDRÉ DAHMER (desenhista): Pedro faz o que todo grande artista deve fazer: é um cronista das mazelas do seu tempo. A epidemia de ansiedade, a industrialização da pressa, a vida real esmigalhada dentro das redes sociais. Está tudo ali, no trabalho de um dos mais interessantes cartunistas da nova geração.

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PATRICIA PILLAR (atriz e diretora): Ele tem um trabalho inteligentíssimo, de comunicação rápida, e com o qual nos identificamos imediatamente. Seus desenhos simples e frases espertas são um jeito gostoso de reconhecer nosso lado rabugento, mal- -humorado, crítico e pessimista. De uma forma direta e sincera, ele nos ajuda a não nos levarmos tão a sério!

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LAERTE COUTINHO (cartunista): É um jovem, não sei bem de qual geração — provavelmente a V, de Vinicio. Gosto muito da secura do humor dele, da sem-cerimônia. Conversamos pouco, no dia do lançamento, aqui em São Paulo. Ele é de falas curtas, como o próprio texto — e carregadas dessa simplicidade cínica. Para onde o trabalho dele aponta? Eu não sei. Parece uma coisa tanto nova quanto antiga.

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FAFÁ DE BELÉM (cantora): Eu acho Pedro Vinicio genial. Ele tem um humor muito especial, fala as coisas com despudor e clareza. Eu me identifico muito, até porque o humor pernambucano é parecido com o paraense: ele ri de si e transforma as falhas em piada. O Pedro publica pensamentos ocultos, o que é maravilhoso e arrebatador em um mundo em que todos se colocam como perfeitos.

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CILDO MEIRELES (artista plástico):Pedro Vinicio possui a capacidade de revisitar truísmos, construindo desvios por meio de palavras e imagens. Ele conduz sempre para um final inesperado, inteligente, bem-humorado e dotado de uma capacidade instantânea de identificação.

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CAIO BLAT (ator): Eu acho um barato a arte dele. Eu adoro o desenho tosco, as rasuras e o humor ranzinza. Às vezes ele tem um mau humor que eu acho maravilhoso!

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ESTELA MAY (cartunista): Eu acho legal que ele fala coisas que todo mundo sente uma hora ou outra. É bom se sentir traduzido, todo mundo quer se sentir visto. O Pedro é tipo um espelho. E a verdade que ele mostra é brutal e reconfortante, é como levar um abraço, um tapinha nas costas e um soco ao mesmo tempo.

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ANDRÉIA HORTA (atriz): Pedro é brilhante! Tem um poder de síntese raro e muito original. Cheio de ironia, perspicácia, sagacidade, humor. Eu gargalho alto sozinha várias vezes vendo as artes dele.

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BEL COELHO (chef de cozinha): Mesmo sendo muito jovem, Pedro consegue ser profundo. A partir de um desenho naïf, ele traz questionamentos e crises de gente grande. Por isso, eu me identifico, mesmo tendo 45 anos. Além disso, o seu trabalho denuncia os efeitos e sintomas das redes sociais na vida contemporânea.

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JAC LEIRNER (artista): O seu trabalho tem o coração analítico e acontece em um tempo orgânico. São complicações certeiras e deliciosas em que tudo é explícito e confuso. Ele traduz nossa perturbada condição humana sem ser estetizante, ao partir do erro, ao fazer essa fusão que despreza hierarquias: imagem, texto e sentidos estão juntos e sempre em conflito. Como seu mantra “putamerda” na viagem do iogue. Pratico Pedro Vinicio! (Raimond Spekking/Divulgação)

JAC LEIRNER (artista): O seu trabalho tem o coração analítico e acontece em um tempo orgânico. São complicações certeiras e deliciosas em que tudo é explícito e confuso. Ele traduz nossa perturbada condição humana sem ser estetizante, ao partir do erro, ao fazer essa fusão que despreza hierarquias: imagem, texto e sentidos estão juntos e sempre em conflito. Como seu mantra “putamerda” na viagem do iogue. Pratico Pedro Vinicio!

Colaboraram Débora Lopes, Luana Machado, Sérgio Quintella e Vanessa Barone

Publicado em VEJA São Paulo de 26 de julho de 2024, edição nº2903

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