O que fazer no Bixiga? Um guia com novidades e dicas do bairro
Um roteiro com os novos endereços da região repleta de cantinas, points da madrugada, teatros e muito samba
Mesmo fazendo parte do distrito da Bela Vista desde 1910, o Bixiga nunca deixou de ser um dos bairros mais marcantes de São Paulo.
Com raízes afro-brasileiras, do Quilombo Saracura, é um dos berços paulistanos do samba, abrigando a Vai-Vai, e foi povoado por muitos imigrantes italianos, razão de tantas cantinas encontradas até hoje pelas ruas.
Todos esses ramos continuam presentes, sempre brotando novidades interessantes. Da tradição europeia, uma das guardiãs é a centenária padaria e restaurante Basilicata — um dos lugares favoritos do artista plástico José Roberto Aguilar, morador da região.
Ali, a Rua 13 de Maio, pode-se dizer, é o coração do bairro, onde se situa a Paróquia Nossa Senhora Achiropita, epicentro da festa anual que acontece no mês de agosto.
A poucas quadras, na Praça Dom Orione, acontece a Feira do Bixiga, com antiguidades à venda todos os domingos, entre 9h e 16h.
O samba é a trilha sonora do bairro. Todos os sábados, às 15h, tem roda no Bar do Jilson, no quarteirão da igreja. Essa é uma marca indelével do Bixiga, que parece só ganhar força — neste ano, surgiram dois novos espaços dedicados ao gênero musical, o Umbabarauma e a Casa Sincopada, esta inaugurada oficialmente no último sábado (7).
“A ideia é que seja um grande polo de discussão sobre ritmos sincopados, incluindo jongo, maracatu, coco, xote e baião”, conta Louise Bonassi, 35, idealizadora do lugar, que tem programação de sexta a domingo, além de comes e bebes.
Outros endereços de vocações diversas agregam comunidades no bairro. É o caso do restaurante palestino Al Janiah, que funciona como centro cultural, a Vila Itororó, onde acontecem shows e oficinas gratuitas, o Ateliê do Bixiga, com café, coworking e editora de livros, e o Coletivo Cultural Bixiga (CCBix), onde funciona o Estúdio Traquitana e a DGT Filmes.
“As salas estão todas ocupadas, com produtoras audiovisuais e quatro estúdios musicais — é um prédio totalmente voltado para a cultura”, diz Toni Nogueira, 76, presidente da associação.
De noite, funciona no Ateliê do Bixiga o bar latino Sol y Sombra, que tem outra unidade na Bela Vista. A vida noturna na vizinhança é agitada — um dos destaques é o Elevado Conselheiro, que oferece vinhos, drinques e boa música.
Outras propostas também têm espaço por ali, incluindo points da madrugada, como o Terraço’s Lounge e o Funilaria.
Algumas novidades são o Clube Redoma, inaugurado em 2023, e o Theatro, bar e balada com karaokê que abriu as portas no último domingo (8). “Vamos ter noites com discotecagem em vinil, grupos de samba, peças de teatro, stand-up e festas”, explica o sócio Daniel Prado, 34.
O teatro é outra artéria vital do bairro, que abriga os históricos Oficina, Sérgio Cardoso e Ruth Escobar, além de outros tantos palcos menores, como o Espaço Elevador.
“O bairro tem uma parte popular que é maravilhosa, com o samba, as crianças na rua — é sempre muito festivo”, diz Carolina Fabri, 45, atriz da Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, que funciona na região há quase vinte anos.
O futuro do Bixiga reserva alguns nós a serem desatados. Um deles é a futura Linha 6-Laranja do Metrô, cujas obras para uma das estações levaram à demolição da antiga sede da Vai-Vai.
“Uma das questões do bairro é fazer com que a população nata continue morando aqui. Houve uma expulsão muito grande por conta da especulação imobiliária”, diz Vera Campos, 64, secretária-geral do CCBix.
“Essas agressões provocam reações, acho que estamos em um momento de resistência e articulação. O que diferencia o Bixiga é ser um bairro com muita vida”, diz Sergio Gag, 56, vice-presidente do coletivo.
Outra mudança no horizonte é a criação do Parque Rio Bixiga, que, após décadas de embate entre o Oficina e o Grupo Silvio Santos, teve a desapropriação do seu terreno assinada pela prefeitura no dia 6 de setembro.
“O espaço agora é público. O estacionamento que existia foi desativado e o próximo passo é o concurso público para a escolha do projeto”, explica Fernanda Taddei, 45, atriz e integrante da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 13 de setembro de 2024, edição nº 2910