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As novas estrelas dos musicais da ‘Broadway’ paulistana

Essa geração de artistas domina o canto, a dança e a atuação, mas também quer mostrar talento na TV e no cinema

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 16 mar 2018, 15h25 - Publicado em 16 mar 2018, 06h00

Era uma vez o sonho da Broadway paulistana. No início dos anos 2000, os palcos da cidade conheceram superproduções, a maioria replicando fórmulas aprovadas em Nova York e Londres. Les Misérables, Cats e A Bela e a Fera são exemplos de espetáculos que agradaram aos espectadores e geraram empregos duradouros a artistas de gogó afinado, capazes de dançar e interpretar.

Uma mudança começa a ser percebida entre os protagonistas da atualidade. Fabi Bang, Malu Rodrigues e Hugo Bonemer, destaques, respectivamente, de A Pequena Sereia, A Noviça Rebelde e Ayrton Senna, o Musical, contam com novelas, séries e filmes na bagagem. Myra Ruiz, de Chaplin, acaba de gravar um seriado, enquanto Mateus Ribeiro, o Peter Pan, fez testes na Globo e aguarda sua chance. Reiner Tenente, do MPB — Musical Popular Brasileiro, também atua em dramas, concluiu o mestrado e investe na área acadêmica.

Claudio Botelho, um dos principais diretores do gênero musical, afirma que houve uma mudança de perfil. “Nos anos 2000, a procura era por artistas mais ligados ao canto que à interpretação por causa da exigência das produções estrangeiras”, justifica. O mercado, por sua vez, se transformou e não sustenta tanta gente por longos períodos.

A atriz Claudia Raia, que desde os anos 80 transita entre o teatro, a TV e o cinema, diz que o artista brasileiro deve se reinventar ou está perdido. “Essa geração entendeu que não cabe preconceito em relação a novelas ou filmes nacionais”, declara Claudia. “O fundamental para um ator é trabalhar, não importa se como protagonista ou coadjuvante.”

FABI, SEREIA QUE CANTA E DANÇA

Fabi Bang caracterizada como Ariel, de A Pequena Sereia (Leo Martins/Veja SP)

Aos 7 anos, Fabi Bang assistiu a Não Fuja da Raia oito vezes. “Eu queria fazer um teatro que valorizasse canto e dança, como o da Claudia Raia, e, se fosse impossível no Brasil, iria morar fora”, conta a carioca de 33 anos, hoje um representativo nome da cena musical. A partir do dia 30, a atriz, bailarina e cantora enfrenta uma personagem icônica para sua geração: a princesa Ariel, do espetáculo A Pequena Sereia, versão do desenho da Disney. “Na infância, ouvia a trilha sonora sem parar, decorava as letras, mas acho que, na vida real, nunca me enquadrei no perfil de princesa”, brinca.

Algumas superações pessoais foram necessárias para que a jovem se lançasse no palco. Três horas antes do teste para O Fantasma da Ópera (2005), a aspirante ao estrelato desabou com a notícia da morte do pai, de 71 anos, doente havia oito meses. “Ele não me perdoaria se desistisse e, mesmo abalada, dei tudo de mim na audição”, conta, emocionada. A consagração chegou em Wicked (2016), como a envolvente Glinda, acumulando fãs e sucesso nas redes sociais.

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Na reta final da temporada, um convite para a novela Rock Story, exibida pela Globo em 2017, levou Fabi a experimentar outra linguagem.“A televisão sempre me fascinou, principalmente as comédias, e não tenho medo de trabalho”, diz. A diretora e coreógrafa americana Lynne Kurdziel-Formato, responsável por A Pequena Sereia, endossa o comentário: “Ariel é um papel muito físico, e Fabi se mostra incomum, aberta a qualquer desafio, como reproduzir os delicados movimentos exigidos”.

A Pequena Sereia. Teatro Santander. Quinta e sexta, 21h; sábado, 16h e 20h; domingo, 15h e 19h. R$ 75,00 a R$ 280,00. A partir do dia 30.

HUGO, O SENNA DA VEZ

Hugo Bonemer, em cartaz com Ayrton Senna, o Musical (Leo Martins/Veja SP)

O paranaense Hugo Bonemer dormia quando o piloto Ayrton Senna (1960- 1994) colidiu o carro com uma barra de concreto, no circuito italiano de Ímola. “Meus pais comentam o trauma até hoje”, lembra ele, que tinha 6 anos na época e pouco interesse por esportes. O garoto cresceu observando as aulas da mãe, dona de uma academia de dança em Maringá, fotografou para campanhas publicitárias, fez peças amadoras e, aos 30 anos, protagoniza Ayrton Senna, o Musical.

O espetáculo retrata a trajetória do ídolo da Fórmula 1 e coloca Bonemer entre os destaques do segmento, depois de trabalhos em Hair e Rock in Rio. “Minha geração não conhece o glamour atribuído aos profissionais de musicais e correu atrás para ter espaço”, declara o ator, que buscou base teórica e de interpretação nos cursos do Grupo Tapa, em São Paulo.

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Primo distante do jornalista William Bonner, Hugo garante que chegou à Rede Globo pelas próprias pernas. Fez sucesso em Malhação (2013) e participou das novelas Alto Astral (2015) e A Lei do Amor (2016), além dos longas Confissões de Adolescente e Minha Fama de Mau. Seu chão, porém, é o palco. O artista estrela ainda outro musical, Yank!, em cartaz às terças e quartas no Rio de Janeiro. Em cena, um repórter e um soldado apaixonados na II Guerra Mundial. “Não podemos deixar de levantar bandeiras atualmente, sejam elas quais forem”, afirma.

Ayrton Senna, o Musical. Teatro Sérgio Cardoso. Quinta e sexta, 20h30; sábado, 17h e 21h; domingo, 18h30. R$ 50,00 a R$ 150,00.

MALU, O SALTO DA NOVIÇA

A atriz Malu Rodrigues como A Noviça Rebelde (Leo Martins/Veja SP)

Em fevereiro, a atriz Malu Rodrigues, de 24 anos, pegou seis pontes aéreas em uma semana. Ela apresentava em São Paulo o musical Se Meu Apartamento Falasse… e ensaiava A Noviça Rebelde, ambos dirigidos por Charles Möeller e Claudio Botelho. As gravações da novela global O Outro Lado do Paraíso, em que vive a prostituta Karina, a levavam ao Rio de Janeiro durante o dia.

A imagem da diva que repousa o corpo e a voz enquanto está fora de cena é desfeita por Malu o tempo inteiro. “Evito ar condicionado, bebida gelada, fumantes por perto, mas se dormir oito horas por noite posso enfrentar uma maratona”, afirma. Foi com o clássico A Noviça Rebelde que a carioca Malu, aos 14 anos, estreou nos grandes musicais, em 2008. Na época, a protagonista era Kiara Sasso, e a adolescente interpretava uma das filhas do Capitão Von Trapp.

Na última década, a artista cresceu e se tornou a favorita da dupla Möeller e Botelho em outras sete produções. Durante boa parte desse período, acumulou presença no palco com a participação no seriado Tapas e Beijos (2011-2015), que a popularizou junto aos telespectadores, além de fazer cinema. “Malu é uma atriz a serviço do texto, das letras e do conjunto, como deve ser”, elogia Botelho. “Por isso é a única que veio do teatro musical e entrou para a TV pela porta da frente”, completa o diretor, orgulhoso da estrela que formou.

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A Noviça Rebelde. Teatro Renault. Quarta a sexta, 21h; sábado, 16h e 21h; domingo, 15h e 20h. R$ 75,00 a R$ 310,00. A partir do dia 28. 

MATEUS, PETEN PAN DE PERSONALIDADE 

Mateus Ribeiro, que vive Peter Pan no teatro (Leo Martins/Veja SP)

Peter Pan, o menino que se recusa a crescer, não combina com Mateus Ribeiro. Aos 24 anos, o falante protagonista do musical demonstra maturidade. “Tenho 1,69 metro e 59 quilos e vivo em um meio em que todos são altos e atléticos”, afirma. “Preciso interpretar com os olhos e investir na caracterização dos personagens”, completa o jovem, que aponta o ator americano Johnny Depp como a maior referência.

Catarinense, Mateus foi criado em Fortaleza e Brasília. Por lá, estrelou comerciais e estudou dança e canto, passando de coro a protagonista nas peças amadoras. Desembarcou em São Paulo aos 17 anos, aprovado nas audições de Cabaret, e precisou ser emancipado. “Eu assumi com a mãe dele a responsabilidade de orientá-lo vida afora”, afirma Claudia Raia, protagonista do espetáculo.

José Possi Neto, diretor de Cabaret, reencontra Mateus em Peter Pan e garante que o pupilo tem muita inteligência cênica. “Ele sabe que, fisicamente, precisa suplantar os outros e compensa isso com estudo e o talento de sobra.”

Peter Pan, o Musical. Teatro Alfa. Quinta e sexta, 20h30; sábado, 16h e 20h; domingo, 17h. R$ 50,00 a R$ 210,00.

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A MÚLTIPLA MYRA 

Myra Ruiz, em cartaz com o musical sobre Chaplin (Leo Martins/Veja SP)

Myra Ruiz arrebatou aplausos na pele de uma sensual prostituta em Nine, um Musical Felliniano, conquistou fãs como a bruxa Elphaba, de Wicked, e, agora, encara o mais introspectivo de seus personagens. Em Chaplin, o Musical, a atriz de 25 anos será Oona O’Neill, mulher de Charles Chaplin (o ator Jarbas Homem de Mello), e vibra com o desafio de representar um tipo comum. “Nunca mais terei um papel como o de Wicked, talvez Evita num futuro distante, por isso quero diversificar”, diz.

Paulistana, a jovem morou nos Estados Unidos, estudou teatro em Nova York e, obstinada, faz da dedicação seu maior trunfo. Para a série Des (Encontros), da Sony, recém-gravada, aprendeu a se comunicar na linguagem de surdos e virou a noite no espelho ensaiando os sinais.
“Gravei muitas vezes as mesmas cenas, achei que algo não estava dando certo, mas depois entendi que repetição é fundamental na TV”, afirma a artista, que já fez testes e não descarta a ideia de participar de novelas.

Chaplin, o Musical. Theatro Net. Quinta e sexta, 21h; sábado, 17h e 21h; domingo, 18h. A partir de 17 de maio.

REINER, O PERSISTENTE

Reiner Tenente que está no elenco de MPB — Musical Popular Brasileiro (Leo Martins/Veja SP)

O mineiro Reiner Tenente, de 38 anos, respirou fundo e teve paciência até alcançar os musicais. A estreia se deu com Tim Maia — Vale Tudo (2011), em que representou o cantor Roberto Carlos e o jornalista Nelson Motta. “Sou budista e sabia que chegaria a minha hora”, afirma ele, que, de lá para cá, atuou em outras cinco produções, entre elas Cantando na Chuva.

A atual, MPB — Musical Popular Brasileiro, explora, além da dança e do canto, a veia cômica. Junto do ator Érico Brás, Reiner forma uma dupla
de anjos que remete aos astros Grande Otelo e Oscarito. “O Reiner é um pesquisador e embasa com propriedade os personagens”, diz o diretor de MPB, Jarbas Homem de Mello.

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Radicado no Rio de Janeiro desde 1998, é mestre e dá aula de teatro e história da arte. É o fundador do Centro de Estudos e Formação em Teatro Musical (Ceftem), escola especializada que deve desembarcar na cidade ainda neste ano.

MPB — Musical Popular Brasileiro. Teatro das Artes. Quinta e sábado, 21h; sexta, 21h30; domingo, 20h. R$ 70,00 a R$ 100,00

Seis produções que vêm por aí

Miguel Falabella, Marco Luque e Danielle Winits: estrelas de Os Produtores (Pedro Dimitrow/Veja SP)

Bibi, uma Vida em Musical. Amanda Acosta interpreta a estrela Bibi Ferreira a partir de 4 de maio no Teatro Bradesco.

Cinderela. O conto de fadas volta ao cartaz no Theatro Net em 3 de agosto. Bruna Guerin vive a personagem-título.

O Fastasma da Ópera. Sucesso entre 2005 e 2007, o musical de Andrew Lloyd Webber retorna em nova versão em agosto no Teatro Renault.

Os Produtores. Miguel Falabella, Marco Luque e Danielle Winits estreiam no Teatro Procópio Ferreira em 21 de abril.

Romeu e Julieta. Embalada por canções de Marisa Monte, a versão da peça de Shakespeare chega ao Teatro Shopping Frei Caneca em agosto.

70? Disco Década, Divino Maravilhoso, Doc. Musical. Um mergulho no som dos anos 70 estará na peça, prometida para outubro no Theatro Net.

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