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Masp discute gênero, afeto e sexualidade em exposições inéditas no país

Catherine Opie e Lia D Castro protagonizam as novas mostras do museu; confira entrevistas com as artistas

Por Mattheus Goto
Atualizado em 5 jul 2024, 21h30 - Publicado em 5 jul 2024, 07h30
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  • Identidades queer, por Catherine Opie: retrato de Elliot Page (2022, à esq.) para livro sobre sua transição, inspirado na foto de Pig Pen (1993, à dir.)
    Identidades queer, por Catherine Opie: retrato de Elliot Page (2022, à esq.) para livro sobre sua transição, inspirado na foto de Pig Pen (1993, à dir.) (Cortesia da artista/Masp/Divulgação)

    O Masp abre nesta sexta-feira (5) três exposições inéditas no país, sobre Catherine Opie (até 27/10), Lia D Castro (até 17/11) e Ventura Profana (até 18/8). As mostras fazem parte da programação do ano do museu, pautada pelas Histórias da Diversidade LGBTQIA+.

    Catherine Opie: O Gênero do Retrato é a primeira individual da renomada fotógrafa americana contemporânea, de 63 anos, em terras brasileiras. A profissional foi pioneira no retrato de identidades queer nos anos 80. “É uma honra e um sonho realizado estar aqui, expondo nesse prédio, com tanta história”, afirma ela, emocionada, em entrevista à Vejinha. Há uma seleção de mais de sessenta imagens, clicadas em estúdio — como a do ator Elliot Page, feita para ilustrar a capa de sua autobiografia, Pageboy: Memórias (2023) — e nas casas dos personagens.

    Também são exibidos autorretratos íntimos, como o da série Nursing (2004), em que aparece amamentando o filho. As fotografias são apresentadas junto de 21 pinturas importantes do acervo do Masp, de nomes como Pierre-Auguste Renoir e Van Gogh. O público pode ver, lado a lado, o icônico Cristo Abençoador (1834), de Jean-Auguste Dominique Ingres, e a fotografia de Rocco, homem trans, com cicatrizes da mastectomia e a tatuagem “Tender hearted” (“Coração tenro”). “Nunca tinha visto meu trabalho dessa forma.”

    Chloe (1993), fotografada por Catherine Opie
    Chloe (1993), fotografada por Catherine Opie (Cortesia da artista/Masp/Divulgação)
    Autorretrato de Catherine Opie
    Autorretrato de Catherine Opie (Cortesia da artista/Masp/Divulgação)

    Segundo Guilherme Giufrida, que assina a curadoria com o diretor artístico Adriano Pedrosa, a produção de Catherine dialoga com o retratismo clássico. “Ela não fez olhando para a coleção do Masp, mas podemos observar diálogos, cruzamentos e paralelos formais, temáticos e narrativos nas composições dos arranjos”, comenta o curador. “Cada um vai levar o espectador a muitas interpretações.”

    A fotógrafa acredita que há uma evolução nas discussões de gênero no Brasil. Na sua perspectiva, construções imagéticas brasileiras, como as do Carnaval, colaboraram para quebrar com a heteronormatividade no imaginário americano. Porém, reconhece que pode haver oposição ao diálogo entre fotos e pinturas — “Estamos vivendo em um mundo polarizado”, diz.

    O diálogo também faz parte do trabalho de Lia D Castro, nas palavras da própria. “Estar no Masp é bem interessante, pois dá visibilidade para entrar em contato com um público diverso”, comenta a artista e intelectual, nascida em 1978 em Martinópolis, interior paulista. Lia D Castro: Em Todo e Nenhum Lugar expõe 36 trabalhos, a maioria pinturas figurativas.

    Um dos temas recorrentes é o afeto, tanto familiar quanto romântico. Um exemplo, Axs Nossxs Filhxs (2021) foi criada a partir de cenas em sua sala de estar, que sugerem diferentes contextos ao espectador. A maior inspiração são momentos particulares com clientes que a contratavam como prostituta. Uma exceção é Axs Nossxs Pais (2021), que contou com os pais de Lia como modelos. Há ainda reflexões relevantes sobre racismo e masculinidade. Em todas as peças, os retratados participam de forma ativa.

    'Davi' (2021), de Lia de Castro: nuca do primeiro cliente negro da artista, posicionado de frente para um homem branco
    ‘Davi’ (2021), de Lia de Castro: nuca do primeiro cliente negro da artista, posicionado de frente para um homem branco (Lucas Cruz/Instituto Çarê/Divulgação)

    “A pintura e a prostituição são ferramentas para sua pesquisa”, explica Isabella Rjeille, curadora da mostra ao lado de Glaucea Helena de Britto. “A intenção não é falar sobre prostituição e sexo. As obras despertam outras discussões”, ela acrescenta. Para Glaucea, a artista tem uma abordagem inovadora, de subverter os estereótipos raciais e a tradição da pintura por brancos.

    Essa é a primeira individual da artista em um museu. Acompanhado do ineditismo, o nome da mostra reforça o acesso de pessoas pretas, que estão em todo lugar, mas são negadas em espaços de poder. “Nos deixam entrar sob a condição de sermos iguais a eles (brancos). Em feiras de arte e outras instituições, a sensação é de estar pisando em ovos”, analisa. “Ninguém contrata uma pessoa branca por ser branca. Quero pintar como Lia D Castro, não como mulher trans.”

    A terceira exposição é de Ventura Profana, cantora, pastora e artista visual, na sala de vídeos, que fala sobre fé, religião e família.

    Publicado em VEJA São Paulo de 5 de julho de 2024, edição nº 2900

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