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Mariana Santos tem desafio de protagonizar peça sobre síndrome do pânico

Sucesso no programa 'Amor & Sexo', a atriz desafia o rótulo de comediante ao escrever e atuar em 'Só de Amor'

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 1 fev 2019, 06h00 - Publicado em 1 fev 2019, 06h00

Quem será visto no Teatro Porto Seguro a partir da quarta (6) é a cantora Malu, personagem do monólogo tragicômico Só de Amor, escrito e protagonizado por Mariana Santos. Diante de uma plateia lotada, a artista da ficção enfrenta os minutos cruciais que antecedem sua entrada em cena e, em meio a uma crise de pânico, precisa domar a ansiedade, os traumas e a expectativa sobre a reação do público. O espetáculo, que ficará em cartaz nas quartas e quintas, às 21 horas, até 28 de março, fala, claro, de Malu, mas também mexe em uma questão bem conhecida de Mariana. Aos 42 anos, a atriz, popularizada pela veia de comediante, focou a própria realidade e se permitiu rir de um problema que lhe causou limitações pessoais e artísticas, a síndrome do pânico.

Carioca do bairro da Tijuca, Mariana cresceu em uma família de classe média e, adolescente, ajudava no orçamento como recepcionista em festas e eventos. Passou a estudar magistério e bancar cursos de teatro. O otimismo nunca esteve em baixa, a vida parecia bem legal. Pequenos receios, porém, se agigantaram. Mariana, já adulta e professora de educação infantil, limitava-se ao caminho da casa para o trabalho, fugia de ônibus e metrô, não pisava em elevadores e viajar, então, nem pensar. Lugares fechados, como cinemas e casas de shows, eram ameaçadores. “Colocava empecilhos em tudo e mal deixava os limites da Tijuca”, lembra ela, que, às vezes, só saía na companhia da mãe. “Comecei a me tratar aos 20 e poucos anos e entendi que tinha um problema.”

Em cena: a atriz fez parceria com Mateus Solano na novela Pega Pega (JOÃO COTTA/GLOBO/Divulgação)

Apenas a vocação dominava o medo. Ao contrário da personagem de Só de Amor, a atriz garante que jamais titubeou na coxia. Qualquer ansiedade desaparecia perto do palco. Em 2004, depois de várias peças de pouca repercussão, a artista participou da comédia No Conjugado, apresentada inicialmente em um apartamento do bairro de Botafogo para vinte pessoas. O diretor Maurício Sherman, responsável pelo humorístico Zorra Total, passou pela plateia, e ela assinou contrato com a Rede Globo. “Comecei fazendo um humor histriônico, caricato, mas o Zorra Total pedia esse exagero”, conta a atriz, que, mesmo trabalhando na TV, não largou o magistério, tampouco a faculdade de pedagogia, concluída aos 31 anos. Um telefonema de São Paulo, em 2012, mudou a vida de Mariana. Era o produtor Rodrigo Velloni, responsável pelo espetáculo Atreva-se, dirigido por Jô Soares, que queria seu nome no elenco. “A Mariana tem uma rara capacidade de improvisação, além de uma inteligência que a faz procurar algo de diferente nos personagens”, elogia Jô. O pânico veio a mil. Com os ensaios em São Paulo, a ponte aérea seria inevitável. Ela procurou uma psiquiatra, pediu que lhe receitasse medicamentos para tomar antes de cada embarque e ouviu algo que nunca esqueceu. “Você precisa voar sempre bem acordada porque desse jeito enfrentará o medo”, teria dito a médica, que lhe prescreveu um ansiolítico e outro comprimido para controlar o transtorno.

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O sucesso de Atreva-se, que excursionou por 27 cidades em três anos, fez Mariana desabrochar. “Comecei a me sentir adulta, independente, cada semana em um hotel diferente”, afirma. No fim de 2014 ela engatou um namoro com Velloni. Os dois se casaram um ano e meio depois, e veio a mudança para a capital paulista.

Sucesso na TV: Mariana se diverte com José Loreto, Fernanda Lima e Eduardo Sterblitch no programa Amor & Sexo (RAQUEL CUNHA/GLOBO/Divulgação)

Segura, a atriz descobriu a força da opinião no programa Amor & Sexo. Ela estreou em 2013 na bancada da atração, comandada por Fernanda Lima, que discute sobre sexualidade, política, diversidade e outros temas tabus. “Mariana dá uma aula de espontaneidade, de verdade, e o público aprendeu a farejar quem está de peito aberto, quem não tem preconceito de se colocar no debate”, declara o estilista Dudu Bertholini, colega do programa. Comentários ofensivos pipocaram nas redes sociais, e a artista transformou as críticas em estímulo. O texto de Só de Amor ganhou forma em meio às gravações da novela Pega Pega, em 2017, e Mariana encontrou o seu lugar de fala no teatro. “Vou fazer muita gente rir com a peça, mas também devo ajudar alguém a se entender melhor.”

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Parceria: a atriz e o marido, Rodrigo Velloni, produtor e diretor da nova peça (Arquivo pessoal / Reprodução/Veja SP)

Mariana já viajou com o marido para a Europa e Nova York, tem planos de aprender a dirigir carro e, em breve, voltará à ponte aérea. A próxima temporada da novela Malhação é o novo compromisso na TV. A personagem é Carla, uma viúva batalhadora, mãe de dois adolescentes e fechada para o amor, um tipo fora do estereótipo cômico. Mariana confessa que às vezes ainda recorre a um remédio na sala de embarque, mas cada voo é uma vitória, uma felicidade que nem consegue descrever. “Venci mais um”, pensa, logo depois de cada aterrissagem.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 06 de fevereiro de 2019, edição nº 2620.

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