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Sucesso nos anos 90, estilista Fause Haten se realiza no teatro

Hoje ele atende em um pequeno ateliê no Belenzinho em nome da satisfação de ser ator

Por Dirceu Alves Jr.
15 jun 2017, 17h53

No embalo do auge da moda brasileira, na década de 90, o estilista paulistano Fause Haten, hoje com 49 anos, realizou o sonho de qualquer profissional do mercado a que começou a se dedicar aos 16. Filho de um libanês que forrou o bolso nas lojas de vestuário da Rua 25 de Março, o talentoso rapaz virou celebridade das passarelas em desfiles concorridos em São Paulo, apresentou coleções em Nova York e Milão e teve lojas em pontos nobres dos Jardins.

Aos poucos, o empresário tomou o espaço criativo do artista. As planilhas e faturas se acumularam na mesa e, em 2008, o profissional, infeliz com a rotina, vendeu a marca com seu nome a uma companhia que, meses depois, decretou falência. Do contrato de 9 milhões de reais, foram depositados em sua conta só os 300 000 reais do sinal, e a luta para receber o restante se arrasta desde então na Justiça.

Em cena de Lili Marlene, um Musical: investimento do próprio bolso (Caio Galluci/Veja SP)

Não houve espaço para depressão. O teatro o salvou. Nessa época, o craque do mundo fashion já direcionava o foco para um curso de interpretação no Célia Helena Centro de Artes e Educação iniciado em 2006. Levou tempo para que atingisse nos palcos pelo menos parte do reconhecimento obtido no mundo das passarelas.  Aos poucos, no entanto, vem provando seu valor nessa área.

Em cartaz desde 16 de maio no Teatro Eva Herz nas noites de terça e quarta, o surpreendente espetáculo Lili Marlene, um Musical foi escrito, dirigido e também é protagonizado por ele, que divide a cena com quatro instrumentistas. Quase sempre os 166 assentos da plateia estão lotados. A primeira temporada se encerra no dia 28 e, em julho, a peça volta ao cartaz em uma sala a ser definida.

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Haten escreveu também as letras das canções de André Cortada que formam a trilha sonora da montagem. O artista prefere não revelar o orçamento da produção, bancado do próprio bolso, e não tem previsão de retorno do investimento. A trama gira em torno de Lili, neto de uma estrela da Hollywood dos anos 30. Rejeitado pelo pai, ele deixa Berlim e passa a fazer shows em boates de Paris. Na maturidade, o personagem relata sua atribulada biografia.

A Feia Lulu (2014): a primeira experiência cênica (Caio Galluci/Veja SP)

Trata-se da segunda experiência cênica do estilista, depois de A Feia Lulu (2014), mais voltada para a linha da performance. “Fause sempre explorou imagens lúdicas e fortes, como uma coleção que apresentou estampas de jujuba. Por isso não me surpreende ele ter se encontrado no teatro, tampouco vê-lo atendendo em um pequeno ateliê”, afirma Paulo Borges, idealizador da São Paulo Fashion Week e um dos descobridores do estilista, em 1993.

Sim, o costureiro não abandonou os tecidos, os carretéis e as máquinas. Pelo contrário, em um sobrado localizado no bairro do Belenzinho, Haten veste uma selecionada clientela com hora marcada. “Muita gente fiel vem aqui a cada duas semanas e não reclama por eu estar fora da região central da cidade”, garante. O preço das peças varia de 190 a 7 000 reais. “Tenho vestidos bordados com cristal que levam quase um mês para ser feitos”, conta.

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Ele cortou qualquer gasto supérfluo, atende telefone, paga contas e trabalha com apenas seis funcionários fixos, contratando profissionais temporários em fases de maior demanda. A instalação na Zona Leste também se deve a esse pacote de economia. O imóvel, de sua propriedade há mais de duas décadas, foi reformado para sediar a loja e também virou sua residência. Um confortável apartamento ocupa o 2º andar, vizinho a uma sala de ensaios.

No auge da Fashion Week: desfiles lúdicos e fortes (Mister Shadow/Estadão Conteúdo)

Para reforçar a renda, com muito prazer, Haten criou o figurino de quase cinquenta espetáculos nos últimos sete anos, como o dos musicais Jekyll & Hyde — O Médico e o Monstro e O Mágico de Oz. Não existe mágoa ou saudosismo algum. “Passou muito dinheiro pela minha mão, mas quase nada ficou porque sempre acumulei muitas despesas”, afirma. “Eu não preciso de muito mais do que ganho hoje para viver e enxergo o estilista que sou como o patrocinador do artista de teatro em que me transformei.”

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