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Dois bons documentários abordam a trajetória de artistas brasileiros

<em>Marcelo Yuka no Caminho das Setas</em> e <em>Dino Cazzola — Uma Filmografia de Brasília</em> estão em cartaz no Frei Caneca Espaço Itaú de Cinema

Por Miguel Barbieri Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 16h33 - Publicado em 30 nov 2012, 18h25

Desde julho estrearam na cidade dezoito documentários nacionais — só na semana passada foram quatro. Entre fitas dispensáveis, como Onde a Coruja Dorme e Construção, aparecem bons registros, a exemplo de Tropicália e Muito Além do Peso. Somam-se ao time vencedor Marcelo Yuka no Caminho das Setas e Dino Cazzola — Uma Filmografia de Brasília, ambos em cartaz apenas no Frei Caneca Espaço Itaú de Cinema. Os dois têm algo em comum: junto da trajetória de profissionais das artes, surgem como pano de fundo alguns problemas do Brasil.

A diretora Daniela Broitman seguiu o músico carioca Marcelo Yuka por oito anos e condensou 130 horas de gravações em 95 minutos. Então compositor e baterista da banda O Rappa, Yuka levou nove tiros ao tentar impedir um assalto no Rio de Janeiro em 9 de novembro de 2000. Ficou paraplégico, pensou em suicídio e, em meio a dores lancinantes, deixou o grupo após serem constatadas diferenças irreconciliáveis com o vocalista Falcão e os demais integrantes. Ele criou outro conjunto, o F.U.R.T.O., deu continuidade aos projetos sociais e mudou seu estilo musical. Suas transformações são evidenciadas ao longo da projeção. Na aparência, Yuka ganhou alguns quilos; por dentro, continua o mesmo contestador de sempre — agora zen e praticante da meditação. Surpreendem a revolta em aceitar seu estado físico e o mea-culpa em negligenciar a fisioterapia. Ele batalhou ainda pelas pesquisas de células-tronco e jamais se considerou um exemplo de superação. Se o filme estampa seu sorriso largo e o humor espirituoso, expõe a fragilidade da segurança pública.

No documentário sobre o cinegrafista italiano Dino Cazzola (1932-1998), o problema é outro: o descaso com a preservação da memória do país. Cazzola chegou ao Brasil em 1959 e, durante as décadas de 60 e 70, foi um pioneiro ao fazer imagens de Brasília. Seus registros iam desde o início da construção da capital federal até a era Garrastazu Médici, no regime militar. A dupla Andrea Prates, historiadora, e Cleisson Vidal, cineasta, vasculhou 500 latas contendo 3.287 rolos de películas, a maior parte deles danificada. Há cenas preciosas: tomadas aéreas das edificações, a inauguração da catedral, a remoção das favelas para Ceilândia… Ou seja: é a história brasiliense contada por meio de raros fotogramas. De onde vem, então, a desconsideração pelo patrimônio? Segundo Júlio, filho de Cazzola, cerca de 70% do material se deteriorou e ficou sem condições de recuperação. Seu pai fez o que pôde para preservá-lo e, numa locução em áudio, ele desabafa: “Brasília tem menos documentos históricos do que Roma, fundada há quase três milênios”.

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