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“Partidões” de 1993 respondiam se queriam mulher virgem ou independente

Hoje, revista seria “cancelada” (com razão) se publicasse a reportagem de 27 anos atrás, mas o texto revela o espírito da época em São Paulo

Por Pedro Carvalho
Atualizado em 27 Maio 2024, 17h30 - Publicado em 25 set 2020, 04h45
Transformação: Pedro Paulo Diniz na época da reportagem e após mudar de vida para plantar orgânicos (Germano Luders/Divulgação/Roberto Loffel/Veja SP)
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Não sem razão, a edição da Vejinha entregue às bancas em 15 de novembro de 1993 seria apedrejada nas redes sociais hoje em dia. “Os partidões ”, anunciava a capa. A foto era de Carlos Miele, então sócio das grifes M.Officer e Dzarm, que encarava as leitoras com um olhar meio canastrão. A chamada completava: “Eles são milionários, jovens, bonitões e solteiros”. Que mãe não sonha com um genro assim? — era a pergunta das páginas internas. “Bem, São Paulo era uma cidade provinciana”, pondera Iracy Paulina, autora do texto. “Tão provinciana que foi fácil escolher os entrevistados: era sempre a mesma turminha.”

Os dez personagens tinham o mesmo perfil: brancos, de famílias ricas (a exceção era o próprio Miele) e frequentadores da high society — para usar um termo da década. A reportagem trazia ainda um inadequado questionário sobre a “mulher ideal” para cada um. “Virgem? Dona de casa exemplar? Independente ou submissa?” — eram os quesitos. (Aos curiosos: só os empresários Pierre Loeb e Sérgio Dhelomme não queriam uma moça independente. Para metade do grupo, ela deveria ser afiada nos afazeres domésticos. Alexandre Izzo, piloto morto em um acidente em 2012, era o único a querer uma virgem.)

Veja São Paulo – 1993
Padrão: brancos, quase só herdeiros e frequentadores da high society (Veja São Paulo/Veja SP)

Após 27 anos, aquelas páginas mostram, sim, erros de abordagem da revista. Mas revelam, também, o espírito do tempo da São Paulo da época — afinal o texto soava natural em 1993. À beira dos 10 milhões de habitantes, a capital não era apenas provinciana, mas bem menos plural. “A publicação refletia a sociedade do período. Novelas e filmes também idealizavam aquele modelo masculino. E casar era apontado como único caminho para a realização feminina”, diz a socióloga Flávia Rios.

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Um aspecto curioso resta da peça jornalística. O texto mostra como a vida toma rumos diversos, mesmo em um grupo tão homogêneo. Um exemplo é o trio Pedro Paulo Diniz, Cláudio Szajman e Julio Serson — três dos “partidões” do passado. É quase uma versão do poema Quadrilha, de Drummond: Cláudio partiu para os Estados Unidos, Julio entrou para a política, Pedro foi plantar orgânicos… Após assumir a gestão do grupo Vale Refeição (fundado pelo pai, Abram), Szajman se mudou para Nova York, em 2007, onde mora com a esposa e os três filhos. Amigo de João Doria (PSDB), Serson atuou na gestão tucana na prefeitura e o acompanhou no governo do estado. Hoje, na área de relações internacionais, é um dos secretários mais próximos do governador. Diniz trocou os carros de corrida pelos alimentos sustentáveis. Em 2010, criou a Fazenda da Toca, no interior paulista, para vender orgânicos em escala. Há quatro anos se desfez de partes do negócio e focou na produção de ovos. “Temos mais de 50% desse mercado no país e faturamos 50 milhões de reais por ano”, diz.

Miele e Ray Breda
Miele e a esposa, Ray Breda (Instagram/Reprodução)
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Miele, a estrela da capa, agora casado com a modelo paraense Ray Breda, segue à frente da M.Officer e fundou uma grife que leva seu nome. Único não herdeiro da reportagem, é também aquele que deixou uma lembrança mais duradoura à autora do texto. “Ele me ensinou uma receita de farfalle maravilhosa, faço até hoje”, ela diz.

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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de setembro de 2020, edição nº 2706.

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