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Vestidos ‘pra ontem’: onda de casamentos acelera o ritmo dos ateliês em SP

Após adiarem o matrimônio por meses, noivas em busca do vestido dos sonhos 'enlouquecem' estilistas com prazos de poucas semanas

Por Humberto Abdo
Atualizado em 10 set 2021, 17h12 - Publicado em 10 set 2021, 06h00

Três dias. Esse foi o prazo que Sandro Barros teve para produzir o vestido de uma noiva na pandemia. “Depois de ter adiado a data, ela resolveu se casar de uma vez por todas quando soube que sua cidade ia ‘fechar’ de novo. Trabalhamos dia e noite para entregar, tudo sem provas”, conta o estilista. Para os principais ateliês em São Paulo, a correria virou regra nas últimas semanas e o hiato nos casamentos provocou uma onda de pedidos com datas improváveis e o dobro de clientes, misturando casais que adiaram a comemoração no último ano com os que decidiram realizar a união durante a retomada na capital. “Tivemos de contratar uma equipe extra e hoje tenho cerca de oitenta a 100 vestidos para entregar nos próximos meses”, estima Sandro, que planeja inaugurar em outubro uma loja maior na Rua Estados Unidos, parte da ampliação incentivada pelo boom de casórios.

No novo ritmo, todos os profissionais da área se viram obrigados a passar por algum tipo de adaptação: mais funcionários, mais espaço, mais presença on-line e mais matéria-prima — que ficou mais cara, acreditam eles, especialmente para as clientes que não querem abrir mão de caprichos como bordados e rendas importadas. “A vontade foi de sentar no chão e chorar”, dramatiza Lucas Anderi, que atende na Rua Bela Cintra e acabou de assinar o vestido da recém-casada Viviane Araújo. Até o fim do ano, sua agenda já está lotada. “Tem muita noiva querendo se casar em um mês. Se ela assinou o contrato antes da pandemia, vou entregar. Para aquelas que estão vindo no sistema ‘me salva’, agora só consigo depois de janeiro.”

Uma coleção pronta inspirada nas princesas da Disney foi lançada há um mês pelo estilista e tem sido alternativa para as noivas mais apressadas. “Com essa novidade, a demanda também veio em dobro e os valores em geral deram uma aumentada pela questão da procura e demanda. Como eu já tinha material, consigo manter alguns preços.” Saíram na frente aqueles que investiram no estoque durante os primeiros meses de quarentena. “Muitos fornecedores não quiseram importar mais, fizeram uma pausa e só agora estão voltando a acreditar nos negócios.”

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Com opções de 6 000 a 30 000 reais, os vestidos de Letícia Manzan já deveriam ter sofrido aumento de 40% devido à alta do dólar. “Mas as pessoas continuam em recessão e estou tentando segurar”, diz ela. Com atendimento e produção nos Jardins, Letícia precisou dobrar a equipe. “Hoje são mais de trinta pessoas, entre costureiras e bordadeiras”, conta. Como já é costume nesse mercado, quase todas as mulheres fechavam seus vestidos com pelo menos um ano de antecedência. “Agora elas querem em uma semana”, desabafa, atordoada. “Muitas têm contratos que vão virar o ano e elas têm de se casar em 2021, por isso tantas datas foram agendadas para novembro e dezembro.”

Estilista Letícia Manzan sorrindo para foto com vestido de duas cores, branco e turquesa
Estilista Letícia Manzan, que atende nos Jardins: adaptações e ajustes no vestido de acordo com o tempo (e a pressa) da cliente (Reprodução/Arquivo Pessoal/Veja SP)

Na Black Tie, loja de aluguel de roupas, a retomada fez com que o proprietário Cristofer Mickenhagen mudasse o foco do comércio. “Antes tínhamos quatro departamentos, mas encerramos o feminino e vamos nos dedicar apenas às roupas dos homens.” Em um local menor, na Bela Cintra, o novo caminho promete ser menos complicado. “Os vestidos exigem diversos ajustes e concepções”, pontua. Mas as exigências dos homens também passaram por mudanças. “Com celebrações em áreas abertas, criamos coleções novas em tons que nunca tivemos antes, como azul-bebê e areia.”

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Com a moda dos miniweddings e festas ao ar livre, surgem algumas tendências na hora de escolher o modelo dos vestidos. “Tenho notado uma pegada minimalista, mas moderna, que valoriza a silhueta do corpo”, aposta Eduarda Galvani, que atende clientes do Brasil inteiro em seu ateliê de Porto Alegre. “Mas elas não estão preocupadas em combinar com o clima de fazenda ou praia, só querem curtir o momento e se sentir lindas.” Sandro concorda. “Elas continuam de olho no vestido rodado e adoram ter as mangas bufantes.”

close de mãos de Eduarda Galvani trabalhando em vestidos, com ferramentas de costura ao lado
Nas mãos da estilista Eduarda Galvani: produções de vestido de Porto Alegre para as paulistanas com deadline apertado (Joana Baumg/Divulgação)

“As noivas de 2020, que querem se casar pra ontem, mudaram a mentalidade: agora preferem gastar mais no vestido e fazer um casamento menor”, diz Andre Betio, que acaba de transferir seu ateliê para um espaço maior em Pinheiros. Com tudo feito a mão por ele, os bordados precisam diminuir se o tempo for curto. “Nosso estilo no Brasil é mais clássico, a noiva provinciana, mas elas estão mais leves e esvoaçantes ou com profusão de detalhes e textura.” Os sites das lojas podem ajudar as noivas na escolha, mas algumas opções continuam fora de cogitação com os novos prazos e menos tempo para fazer várias provas. “Antes eu conseguia visitar Paris duas vezes por ano e importar a renda de cada cliente”, relembra Letícia. “Agora é só com o tecido que tem e a modelagem não pode permitir erro: só fecha o zíper…” E vai pra igreja.

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Fachada de novo ateliê de Andre Betio, em Pinheiros. o estúdio tem fachada verde e tem o nome do estilista
Fachada de novo ateliê de Andre Betio, em Pinheiros (Divulgação/Divulgação)

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Publicado em VEJA São Paulo de 15 de setembro de 2021, edição nº 2755

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