Conheça a nova geração de escritores paulistanos de histórias infantis
Paulo Tadeu, Kiara Terra e Renato Moriconi são os atuais craques das letrinhas
A carreira literária do humorista Paulo Tadeu, de 49 anos, começou em 1994 com O Manual da Sacanagem, que ensinava a pregar peças, como passar um bom trote por telefone. O nascimento de seu filho Guilherme, sete anos depois, mudou o principal público de sua produção. Inspirado no pequeno, escreveu Proibido para Maiores, com piadas para crianças.
+ Cidade das Crianças: um blog de pais para pais
Lançada em 2007, a edição se esgotou em quinze dias e acumula hoje mais de 160 000 exemplares vendidos, um excelente feito em um setor que considera bem-sucedido um produto com mais de 2 000 cópias comercializadas. Desde então, Paulo lançou outros dezesseis títulos infantis, entre os quais mais seis de piadas. O filão rendeu novo negócio. Na onda da stand up comedy, ele criou um espetáculo do gênero só para crianças. Nos últimos dois meses, em quatro apresentações, em locais como a Livraria Cultura e a Fnac, o show atraiu um público de 1 160 pessoas.
Tadeu está entre os destaques da nova safra de autores infantis de São Paulo, cidade que tem uma longa tradição nessa área com nomes importantes como Ruth Rocha e Ilan Brenman (israelense criado na cidade), autor de sessenta títulos infantis, como Até as Princesas Soltam Pum (2008) e Papai É Meu (2011), sem falar, é claro, de Monteiro Lobato (1882-1948), paulista de Taubaté que escreveu na capital grande parte de sua obra. “Os criadores que estão ganhando espaço agora são mais ousados em contar histórias de formas diferentes e se preocupam mais com a conexão entre o texto e a ilustração”, elogia Brenman.
O mercado atravessa uma boa fase. De acordo com os últimos dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), o número de obras infantis vendidas no Brasil praticamente dobrou de 2011 para 2012, atingindo a marca de 32 milhões de exemplares. O mercado paulistano reflete o momento de expansão. “Atualmente, lançamos cerca de cinco títulos ao mês. Há cinco anos, esse número era de apenas dois”, contabiliza Júlia Schwarcz, editora do selo infantil da Companhia das Letras.
Alguns dos valores que estão brilhando na área já trabalhavam com crianças, mas fora do mundo dos livros. É o caso de Kiara Terra, de 35 anos, que passou a ganhar a vida a partir do fim da década de 90 como contadora de histórias, apresentando-se nas unidades do Sesc e em outros lugares da capital. Ela ficou bem conhecida no meio por sua técnica de improviso. “Defino o tema, e o enredo vai se desenvolvendo conforme as intervenções da plateia”, explica.
O contato com o público infantil a inspirou a escrever em 2009 A Menina dos Pais-Crianças, sobre as aventuras de uma garota que sofre com as atitudes infantis dos pais (eles gostam de brincar de circo, de dançar até cair no sono e não ligam de perder a hora na manhã seguinte). Depois, Kiara lançou Hocus Pocus e O Tatu-Bola e a Girafa, ambos em 2012. Agora, finaliza duas novas obras, com lançamento previsto para 2014 ou 2015. A Coleção de Choros de Kiara Terra mostra 108 formas de chegar às lágrimas, enquanto Dona Certeza fala de uma velhinha que atravessou o mar. A autora, que é mãe de Luiza, de 10 anos, e Thereza, de 6, diz tirar da própria casa várias ideias. “O primeiro enredo surgiu de uma conversa com Luiza. Ela me disse que não queria ser pequena, e eu respondi falando que os adultos também são crianças em vários aspectos”, lembra.
Outro nome importante da atualidade, Renato Moriconi, 33 anos, iniciou sua trajetória como ilustrador de livros infantis em 2002. Acabou lançando sua primeira obra como escritor somente em 2010, O Sonho que Brotou. Soma até hoje cinquenta livros publicados. Em Telefone sem Fio (2010), um dos mais conhecidos, personagens de contos clássicos como o Lobo Mau e a Chapeuzinho aparecem cochichando um na orelha do outro. Em seu apartamento, um dos quartos foi transformado em um miniateliê, onde desenha gravuras com traços feitos a óleo e acrílico (é ele quem cuida do visual dos próprios livros). O alcance desse tipo de trabalho junto a um público cada vez mais conectado ao mundo digital e a equipamentos como tablets e smartphones não o assusta. “A experiência visual, tátil e olfativa do livro, especialmente na literatura infantil, é insubstituível”, acredita.