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Animes voltam a marcar presença na TV, no coração e na pele do público

A chegada do canal Loading à TV aberta, na mesma frequência que consagrou a MTV, coloca os desenhos japoneses de volta aos holofotes para a alegria dos fãs

Por Mariani Campos
Atualizado em 27 Maio 2024, 16h50 - Publicado em 11 dez 2020, 06h00
De volta às telinhas: desenhos japoneses ganham destaque na programação da Loading, o mais novo canal disponível na TV aberta
De volta às telinhas: desenhos japoneses ganham destaque na programação da Loading, o mais novo canal disponível na TV aberta  (Mariani Campos/Veja SP)
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Desenhos animados japoneses de traços bem característicos, os animes vivem de booms cíclicos de exibição na TV brasileira. Até meados dos anos 2000, crianças, adolescentes e também adultos acompanharam as aventuras de Jaspion, Speed Racer, Cavaleiros do Zodíaco e Pokémon em televisões de tubo pelos canais abertos. Para abocanhar o público “jovem de espírito” desassistido pelas emissoras tradicionais (e nem sempre inclinado à pirataria dos arquivos torrents na internet), o canal Loading estreou na TV aberta na última segunda, 7. Sua programação abrange a cultura pop oriental e ocidental e o universo gamer. Tem como casa o mesmo prédio na Avenida Professor Alfonso Bovero, no Sumaré, e a mesma frequência que consagraram a MTV. Recebido em polvorosa pela audiência, abalou também as redes, chegando ao topo dos trending topics no Twitter Brasil. Apresentadores jovens com jeitinho de VJs e boa bagagem no jornalismo de entretenimento comandam os programas que incluem reportagens sobre jogos, artes, cinema, séries e música. Parcerias com grandes empresas como Sony, Hasbro e Crunchyroll engordam o catálogo da emissora, que já tem os direitos de mais de 200 títulos, entre eles Sakura Card Captors (1998-2000) e Attack on Titan, lançado em 2013, que estreou sua temporada final no último domingo, 6.

Elenco do Loading, da esquerda para a direita (sem máscara apenas para a foto): Fábio Gomes, Jefferson Kayo, Thais Matsufugi, Fernanda Pineda, Clayton Ferreira, Ana Penilhas Barbara Gutierrez, Chandy Teixeira e Mariana Ayrez
Elenco do Loading, da esquerda para a direita (sem máscara apenas para a foto): Fábio Gomes, Jefferson Kayo, Thais Matsufugi, Fernanda Pineda, Clayton Ferreira, Bruna Penilhas, Barbara Gutierrez, Chandy Teixeira e Mariana Ayrez (Rogério Pallatta/Veja SP)

A ousada investida, que ocupou o espaço do programa do pastor Valdemiro Santiago que era exibido na mesma frequência, tem fundamento. Dados obtidos pela inteligência da emissora e compartilhados com exclusividade com a Vejinha apontam que 80% dos internautas brasileiros consomem algum tipo de produto oriental (como desenhos animes, filmes e séries tokusatsu ou música k-pop), com prevalência na região Sudeste (42%) e na faixa etária entre 25 e 44 anos (40%). A preferência do público mais velho pelos desenhos pode ser explicada pelas histórias complexas e bem trabalhadas, muitas vezes violentas e com tons de erotismo, mas a direção do canal garantiu que títulos mais “pesados” serão exibidos fora do horário comercial, onde serão televisionados animes mais “light”. A fim de atender a expressiva demanda, o conteúdo da recém-nascida emissora também ficará disponível on-line. Há a possibilidade de assistir à programação ao vivo pelo site do canal. No futuro, a expectativa é de que a Loading exiba as novidades em animes simultaneamente com o Japão.

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A relevância do tema entre os espectadores foi o que convenceu o CEO da Loading, Thiago Garcia, 40, a abandonar uma promissora carreira no núcleo de pesquisa e inteligência de mercado na Rede Globo para apostar na empreitada. “No começo deu um frio na barriga, não me imaginava saindo de lá nem me mudando do Rio de Janeiro para São Paulo, mas não teve jeito”, conta Garcia. “Sou muito fã desse universo que a Loading abraça e sei do potencial que isso tem entre o público mais jovem. Em casa eu tenho coleção de quadrinhos e uma parede cheia de bonecos de ação. Ver meu hobby de criança ganhar essa proporção e poder trabalhar com isso é um sonho realizado”, completa, empolgado.

O CEO da Loading, Thiago Garcia: paixão por quadrinhos
O CEO da Loading, Thiago Garcia: paixão por quadrinhos (Loading/Divulgação)

Tal paixão do executivo está longe de ser um ponto fora da curva e é tendência na internet. Redes como Twitter, Instagram e Facebook são repletas de páginas dedicadas aos desenhos e seus personagens, com memes “abrasileirados” compartilhados em massa pelos perfis. Foi exatamente por ser tão fã de animes que Diego da Silva, 31, protagonizou uma dessas postagens virais. Clicado pela ex-esposa ao assistir a um episódio de Naruto (2002-2017), ele aparece às lágrimas, emocionado com uma das cenas.

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A foto, postada em 2018, já teve mais de 200 mil compartilhamentos e segue sendo compartilhada até hoje, conta Diego. “Muitas gente me mandou mensagem perguntando qual episódio eu estava vendo, quais animes eu gosto de assistir, fiz amizade com pessoas do Brasil inteiro. Ano passado eu fui ao Anime Friends e umas 15 pessoas vieram me perguntar ‘você não é o cara que chora assistindo Naruto?”, se diverte. Pai orgulhoso, ele e a pequena Helena, de seis anos, são parceiros na hora de assistir as animações, além de treinarem Jiu Jitsu juntos. Diego dá aulas gratuitas da arte marcial no bairro Cangaíba, Zona Leste da capital às segundas, quartas e sextas. Cerca de 100 crianças, adolescentes e adultos se beneficiam do projeto, batizado de “Cangaiba JJ” (@projetosocialcangaibajj) por Diego, que “sempre quis ajudar a comunidade de alguma forma”. Para custear o espaço, ele trabalha como motorista de aplicativos, além de contar com a ajuda de comerciantes da região para comprar equipamentos como quimonos e tatames.

O lutador Diego e a filha Helena no Anime Friends em 2019: fãs de carteirinha das animações
O lutador Diego e a filha Helena no Anime Friends em 2019: fãs de carteirinha das animações (Arquivo pessoal/Veja SP)

O amor dos fãs pelas grandes produções japonesas vai além das redes sociais, das telas e páginas de mangá e chega diretamente à pele dos mais ávidos otakus, nome dado aos fanáticos de carteirinha pelas animações e quadrinhos. Parte da nova geração de tatuadores paulistanos, Felipe Kross, 28, é uma das principais referências da capital para quem quer tatuar seus personagens preferidos. Os desenhos, mais parecidos com pinturas em tela, precisam ser planejados com antecedência: uma tatuagem grande e com muitos detalhes pode chegar a custar 3.000 reais. “Mas tudo depende do que o cliente quer, da região do corpo, é uma questão negociável”, diz o artista. Isso não é impedimento para os aficionados pelas agulhadas de Kross, que abriu sua agenda recentemente por apenas duas horas e já precisou fechar. Todas as datas disponíveis foram devidamente marcadas.

O tatuador Felipe Kross: o perfil @fetattooer no Instagram soma mais de 200 000 seguidores
O tatuador Felipe Kross: o perfil @fetattooer no Instagram soma mais de 200.000 seguidores (Alexandre Battibugli/Veja SP)

Entre as obras mais pedidas, animes como Naruto e Kimetsu no Yaiba, que conta com um filme recém-lançado, têm saído na frente, mas clássicos como Cowboy Bebop, de 1998, e A Viagem de Chihiro, filme do Estúdio Ghibli vencedor do Oscar de melhor animação em 2003, também aparecem entre as preferências dos clientes. Conhecido pelos desenhos black work, feitos apenas com tinta preta, Kross tem se aventurado mais com as cores, que resultam em tatuagens chamativas e impactantes. Dono de um perfil no Instagram com mais de 200.000 seguidores, seu anime preferido é Evangelion, exibido no Brasil em 1999.

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AS OBRAS DE FELIPE KROSS

Tanjiro, do anime Kimetsu no Yaiba ou Demon Slayer
Tanjiro, do anime Kimetsu no Yaiba ou Demon Slayer (Instagram/Reprodução)
Gohan, de Dragon Ball Z
Gohan, de Dragon Ball Z (Instagram/Reprodução)
Personagens da série Cowboy Bebop, clássico de 1998
Personagens da série Cowboy Bebop, clássico de 1998 (Instagram/Reprodução)
Itachi Uchiha, da franquia Naruto
Itachi Uchiha, da franquia Naruto (Instagram/Reprodução)
Haku e Chihiro, do premiado A Viagem de Chihiro
Haku e Chihiro, do premiado A Viagem de Chihiro (Instagram/Reprodução)

Ainda que a temática seja jovem, não são os adolescentes que mais apreciam estampar os desenhos na pele. A principal faixa etária atendida por Kross varia de 25 a 40 anos. “Tenho um cliente que acompanhava os animes pela TV Manchete, ia a eventos já adulto. São histórias que realmente mexeram com muitas pessoas, fico feliz em poder proporcionar essa alegria através da tatuagem”, comemora. A juventude segue a todo o vapor.

Publicado em VEJA SÃO PAULO de 16 de dezembro de 2020, edição nº 2717. 

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