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Reynaldo Gianecchini e Bruno Fagundes estrelam peça com mais de 5 horas

'A Herança', que conquistou 4 Tony Awards ao estrear na Broadway em 2019, retrata diferentes gerações da comunidade gay americana

Por Júlia Rodrigues
Atualizado em 13 abr 2023, 16h27 - Publicado em 10 fev 2023, 06h00

Quem passa em frente ao El Mercado Ibérico, um restaurante e empório espanhol na Bela Vista, não imagina que ali dentro acontecem os ensaios de uma peça de teatro sem igual. Basta subir alguns lances de escada — sentindo um cheiro maravilhoso de camarão no azeite — para encontrar Bruno Fagundes, Reynaldo Gianecchini e mais dez atores repassando as 89 cenas de A Herança, espetáculo do dramaturgo americano Matthew López. Sim, 89 cenas. Com cinco horas e meia de duração, divididas em dois dias de apresentação, a peça retrata diferentes gerações da comunidade gay dos Estados Unidos para refletir sobre o legado de cada uma delas. A montagem estreia em 9 de março, no Teatro Vivo.

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É a primeira versão em língua estrangeira da peça original, que fez enorme sucesso ao estrear em Londres, em 2018, e ganhou quatro prêmios Tony — o mais importante do teatro americano — ao passar pela Broadway, em 2019.

Reynaldo Gianecchini, Bruno Fagundes, Haroldo Miklos e Wallace Mendes ensaiam a peça
Gianecchini no ensaio: nove horas por dia, seis dias por semana (Leo Martins/Veja SP)

O enredo trata de um grupo de jovens escritores que decide contar a história deles próprios, inspirados no romance Howards End, do autor britânico gay E.M. Forster, no qual os narradores são também personagens. Eric (Fagundes) é um jovem que vive um relacionamento conturbado com Toby (Rafael Primot), um dramaturgo deslumbrado com a fama. Prestes a ser despejado de um apartamento em Nova York, Eric se envolve com Henry (Gianecchini) e Walter (Marco Antônio Pâmio), um casal mais velho que viveu as dores da epidemia de aids nos anos 80 e 90. “O Henry gera certa contradição por ser gay e apoiador do Partido Republicano. É como se, no Brasil, ele fosse um gay ‘bolsominion’ ”, brinca Gianecchini.

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Não há, por óbvio, “bolsominions” na peça, uma vez que a versão segue o texto original. “Até pensamos em adaptar a história à nossa realidade, mas fomos proibidos de modificar o texto pelo autor. Assumimos que os personagens são homens gays americanos, vivendo entre 2015 e 2022”, diz Fagundes, também coprodutor da peça ao lado do diretor Zé Henrique de Paula, que comandou sucessos como Sweeney Todd e Brenda Lee e o Palácio das Princesas, eleito pela APCA o melhor espetáculo de 2022.

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elenco
Parte do elenco: no El Mercado Ibérico (Leo Martins/Veja SP)

Não é apenas na duração que A Herança é inovadora. O espetáculo não tem coxia, tudo o que deveria acontecer nos bastidores se passa na frente do público, como as trocas de figurino. O cenário muda o tempo todo de função — o guardanapo de uma cena pode virar um buquê de flores em outra, por exemplo. “Construímos a história na frente da plateia”, diz Felipe Hintze, que completa o elenco junto com André Torquato, Cleomácio Inácio, Davi Tápias, Gabriel Lodi, Haroldo Miklos, Rafael Américo e Wallace Mendes. Os doze atores interpretam 25 personagens — só Hintze faz quatro deles. “É um jogo teatral”, diz Fagundes — diferentemente dos colegas, ele e Gianecchini vivem apenas um personagem na maior parte do espetáculo.

A principal ousadia, no entanto, é que a saga será dividida em duas (Partes 1 e 2), cada uma com duas horas e meia (e dois intervalos). Da estreia até o dia 23 de março, haverá sessões apenas da primeira parte, de quinta a domingo. Em seguida, entra em cartaz a segunda etapa. Passa a valer, então, um sistema alternado: a primeira é apresentada às quintas e sábados e a segunda, às sextas e domingos. A Herança também terá sessões duplas, com apenas uma hora de intervalo entre as partes, em abril.

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Para os produtores, a longa duração não torna a peça custosa de assistir. “É como maratonar uma série”, diz Fagundes. O roteiro deixa acontecimentos em aberto entre os atos, para cativar a plateia.

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Rafael Américo e Haroldo Miklos: retrato da comunidade gay dos Estados Unidos (Leo Martins/Veja SP)

Fagundes e o diretor assistiram ao espetáculo no exterior, uma experiência que chamam de avassaladora. “No final do sexto ato, na segunda parte, o público estava em uma espécie de catarse que vi acontecer poucas vezes no teatro”, lembra De Paula. Motivados pela força e profundidade da história, decidiram trazê-la ao Brasil. A pandemia adiou a compra dos direitos autorais, concluída somente no fim de 2022. Com o contrato fechado, eles correm para levantar a montagem em apenas dois meses. Assim, os ensaios no restaurante tomam seis dias por semana, nove horas por dia — o El Mercado Ibérico é de Mara Carvalho, mãe de Fagundes e também atriz, que tinha feito salas extras para usar para aulas de teatro no local.

O projeto tem significados particulares para Fagundes e Gianecchini, que passaram a falar publicamente sobre manterem relações homoafetivas. “A peça me inspirou a assumir minha sexualidade”, diz Fagundes. Para Gianecchini, a montagem é parte de uma nova fase da carreira, na qual prioriza iniciativas que tratem de diversidade. “Apesar de o pano de fundo ser a comunidade gay e as dores causadas pela epidemia de aids, é um texto que fala sobre humanidade. Todos se identificam com os personagens e seus dilemas”, diz.

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Publicado em VEJA São Paulo de 15 de fevereiro de 2023, edição nº 2828

 

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