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Novo vinho do porto tem versão mais jovem e frutada

Tipo rosé do clássico português, com menos tanino, faz sucesso e encontra seu lugar nas taças e nos drinques

Por Erika Kobayashi, do Porto
Atualizado em 1 jun 2017, 16h46 - Publicado em 26 jun 2015, 19h06
Porto-Rose
Porto-Rose (Divulgação/)
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A cara de Portugal pós-crise de 2008 tem um pouco do passado e do futuro. Em Lisboa, com suas ruas cortadas pelo antigo bonde amarelo, velhos moradores observam a cidade de suas janelas, antigas receitas ganham um olhar contemporâneo e até bebidas clássicas se reinventam. Prova disso é o sucesso do vinho do Porto rosé. Sim, isso mesmo. O produto original, uma das denominações etílicas mais clássicas do mundo e que parecia tão imutável quanto a Muralha da China, ganhou recentemente uma versão light, digamos assim, mais frutada, jovem e com menos tanino. Os pioneiros da categoria chegaram ao mercado no mesmo ano da derrocada econômica lusitana.

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Primeiro veio o Croft Pink e, na esteira de seu sucesso, surgiu o Pink Port, vendido exclusivamente pela cadeia britânica Marks & Spencer. Ambos foram lançados por The Fladgate Partnership, grupo familiar que detém nada menos que as casas Taylorís, Fonseca e Croft, que estão entre os maiores produtores do velho vinho do Porto. De coloração rosa neon, rótulos com design contemporâneo e preço acessível (em torno de 10 euros a garrafa), eles vieram com uma clara proposta de ampliar o público consumidor desse tipo de bebida.

No início, muitos torceram o nariz, insinuando que tudo não passava de um golpe de marketing. Aos poucos, porém, o negócio acabou sendo assimilado, inclusive pelos especialistas. “O rosé ainda é um conceito novo,mas pode ser uma porta de entrada para os vinhos do Porto. O Croft Pink, por exemplo, é muito fresco e aromático”, entende o sommelier canadense Pier-Alexis Soulière, responsável pela carta do The Modern, em Nova York, casa com uma estrela no Michelin, e eleito sommelier revelação em uma espécie de Copa do Mundo da categoria realizada em 2014 na Dinamarca.

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O rosé tem um sabor que puxa para notas defrutas vermelhas (groselha, framboesa e morango silvestre) e seu aroma é levemente floral. Ele pode ir à mesa com ou sem gelo (sua temperatura de serviço varia de 8 a 10 graus), incrementar coquetéis, e funciona tanto como aperitivo quanto como vinho de sobremesa. “Vai bem com petiscos como amêndoas torradas ou azeitonas”, diz João Paulo Martins, autor da maioria dos guias sobre vinhos de Portugal e também orientador de cursos de iniciação em provas. “É também um excelente acompanhamento para sobremesas mais leves ou frutas.”

Sua marca registrada – ser um vinho fresco – é a que tecnicamente evoca polêmica. A maioria dos rótulos do Porto passa anos oxidando em cubas ou tonéis de madeira (entre dois e seis anos, no caso dos Ruby, e de dez a quarenta anos, na categoria Tawny) ou dentro da própria garrafa – caso da categoria Vintage, vinho que envelhece por dois anos em tonéis, para depois ser conservado na garrafa durante décadas (veja no quadro abaixo). Os rosés, por sua vez, são armazenados em inox, para não perder a juventude. “O conceito tradicional de envelhecimento não faz nenhum sentido para essa bebida. Não enviamos para o mercado garrafas com mais de um ano”, diz Jorge Dias, diretor-geral da Gran Cruz, que lançou o vinho do Porto Cruz Pink, em 2009. O mesmo vale para outros rótulos, como o Offley, da Sogrape, que faz o tradicional Porto Ferreira.

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Envelhecido ou não, como todo Porto que se preze, o rosé é um vinho com acréscimo de aguardente, produzido pelas mesmas espécies que são cultivadas há séculos por famílias tradicionais nos solos xistosos na região do Douro. Uvas das castas mourisco ou bastardo (que são pouco corantes), tinta roriz e barroca (bastante aromáticas), touriga franca (bastante frutada, a mais plantada no Douro) e touriga nacional (caráter floral) são colhidas em zonas altas da região para evitar o caráter forte e tânico marcante das uvas do Douro e trazer mais suavidade à bebida.

Entre as inovações técnicas, o tempo de maceração das uvas também é reduzido, para evitar notas mais fortes como amora, mirtilo ou ameixa, presentes no Ruby, mais encorpado. A fermentação em uma temperatura inferior a 10 graus preserva os aromas frescos da fruta. Com tudo isso, a categoria ainda levou um ano para ser aprovada pelo Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto (IVDP), órgão regulador de qualidade. “Muitos vinhos lendários se tornam uma relíquia do passado e não são mais produzidos porque não conseguiram se modernizar. O Porto é a apelação mais antiga do mundo e, mesmo tendo centenas de anos, ainda consegue se reinventar e inovar. Isso é fascinante”, conclui Soulière.

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Ao sabor antigo

Frutos de uma única colheira excepcional e envelhecidos na garrafa, os Porto Vintage podem custar 5 000 dólares a garrafa

Vintage_Dows
Vintage_Dows ()

Em anos de condições climáticas promissoras, os produtores do Porto se juntam na expectativada colheita. Foi assim na safra de 2011, de inverno chuvoso, primavera quente e verão fresco e seco. Um ano digno de um vintage. Essa classificação é a mais alta que pode ser atribuída ao vinho clássico que leva o nome daquela região. Uma garrafa pode chegar a valer 5 000 dólares. Essas bebidas são feitas a partir de uma única colheita, considerada de excepcional qualidade. As uvas permanecem por dois anos envelhecendo.

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Em 2014, a prestigiada revista americana Wine Spectator elegeu como o melhor vinho do ano um produto do gênero: o Dow’s Vintage 2011. Depois do anúncio, o preço do rótulo triplicou, chegando a cerca de 900 reais.“ A casta de uvas touriga franca deu bebidas muito aromáticas e forais, com um grande equilíbrio entre fruta, taninos e acidez”, explica Dominic Symington, diretor da Symington Family Estates, grupo que detém a marca. “O Dow’s Vintage 2011 tem um estilo clássico e umalongevidade notável, podendo ser guardado por décadas.”

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