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Curadora paulistana se destaca no mercado de arte de Paris

Sandra Hegedus Mulliez se firma como mecenas de peso na cena europeia

Por Silvano Mendes e Simone Esmanhotto, de Paris
Atualizado em 1 jun 2017, 16h46 - Publicado em 26 jun 2015, 17h46

Numa tarde típica, o Palais de Tokyo teria uma fila na calçada da Presidente Wilson. Os portões dessa referência de arte contemporânea estão, no entanto, fechados ao público. Lá dentro, entre o tronco gigantesco do paulista Henrique Oliveira e o intimidador meteorito do argentino Eduardo Basualdo, uma figura de jeans, camisa e sapatilhas, cabelos ruivos em contraste com a pele de pintura renascentista, planeja a exposição. Um ano depois dessa cena, ocorrida em setembro de 2014, ela pode ser vista novamente no mesmo local. A mostra em questão deve estrear em outubro.

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Sentada no cimento em pose de índio, Sandra Hegedus Mulliez troca mensagens no celular e conversa com a assistente enquanto espera Héctor Zamora, mexicano baseado em São Paulo que vai seguir Oliveira e Basualdo na ocupação dessa caixa de concreto. Paulistana em Paris há 25 anos, a metade da sua vida, Sandra responde desde 2010 por pontos altos do calendário do Palais. “Aqui ela está em casa”, diz o presidente, Jean de Loisy. “E tem a chave.” O MAM de Paris e o Louvre são as outras casas dessa colecionadora de arte contemporânea que se tornou um híbrido entre mecenas e curadora desde que lançou o SAM Art Projects, há seis anos.

dama das cores
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Ele não tem sede nem fins lucrativos. É bancado com o dinheiro de Sandra. A cada ano e por meio de um comitê de experts que inclui Loisy, dois artistas não europeus e não americanos, com carreiras sólidas mas virgens em solo europeu, são selecionados para realizar um projeto inédito no local. É o caso de Oliveira, Basualdo e Héctor. A experiência inclui uma residência de cinco meses, com casa, comida e roupa lavada, também financiadas por ela. “Sandra não usa a arte como instrumento de marketing”, elogia François Tajan, copresidente da Artcurial, a principal casa de leilões da França. Tajan e Sandra se conheceram por conta dos filhos, colegas do primário.

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Num telefonema, ela o convenceu a organizar em novembro de 2014 um leilão de fotografias doadas por 29 mulheres da sua agenda de contatos – entre elas, a top russa Natalia Vodianova e a ex-primeira-dama francesa Carla Bruni-Sarkozy. Os 115 000 euros foram doados ao hospital infantil Necker. Na década de 70, a futura mecenas passou pela Faap, fez performances nas ruas de São Paulo e foi baterista num grupo de punk rock antes de mudar para Paris, onde montou uma produtora de documentários. Em 2000, casou-se com o empresário Amaury Mulliez. Herdeiro de uma das três famílias mais ricas da França (dona da rede de supermercados Auchan, da Leroy Merlin e da Décathlon), ele acompanhou Sandra em sua paixão pelas artes.

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O casal, que tem três filhos, separou-se há dois anos. No país em que dinheiro privado não deve ditar a programação da cultura pública, ninguém entendeu como Sandra se impôs. Poucos também compreenderam como ela também saiu ilesa de uma nação onde a crítica é um esporte. “Quando comecei, não conhecia as regras, ou preferi não conhecê-las, então criei as minhas. Sou um elétron livre”, afirma. Além de ter voz nos museus geridos pelo governo francês, ela realiza um salão de talentos com a universidade de Cergy, participa do comitê da Arco, feira internacional em Madri, e já convenceu a elite local a embarcar em ideias insólitas e beneficentes como um leilão imaterial, em que foram vendidos “sonhos” – um jantar privado em pleno Centro Pompidou, por exemplo.

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Uma vez por mês, abre a sala do apartamento para saraus nos quais artistas, jornalistas e intelectuais se reúnem para falar de cultura. O comportamento levou a jornalista e crítica de arte do Le Monde Roxana Azimi a chamá-la de “tornado brasileiro”. A origem, Sandra reconhece, ajuda a quebrar o gelo com os interlocutores sisudos. “Ao mesmo tempo, também sou estrangeira no Brasil, pois deixei o país muito cedo.”

Muitas obras na sua casa falam de passarelas entre diferentes culturas, como na peça do coletivo Claire Fontaine, exposta na sala de estar, onde se pode ler, em neon, os dizeres Étrangers partout (estrangeiros em todo lugar). Faz aquisições seguindo apenas o instinto. “Meu conselho: comprem com os olhos e não com as orelhas, ouvindo os outros”, diz. Suas escolhas são cada vez mais observadas no mercado. Entre as descobertas de Sandra está o argentino Adrián Villar Rojas, contemplado pelo SAM em 2011: suas obras alcançam facilmente o valor de 50 000 dólares.

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