Quebrada fashion: sete marcas da periferia que defendem a diversidade
Grifes que nasceram em bairros distantes do centro tem representantes como Jal Vieira, convidada pela Disney para assinar coleção inspirada em Wakanda
O designer de moda Diego de Assis achava sem graça os modelos de roupas plus size que encontrava para comprar. Na marca Rainha Nagô, da qual é sócio, ele decidiu utilizar estampas mais moderninhas, como listras ultracoloridas e motivos relacionados à cultura hip-hop. Assis, que mora na Zona Leste, é um dos profissionais da moda, nascidos ou com base em bairros periféricos da capital, que VEJA SÃO PAULO apresenta nesta matéria.
Também figuram na passarela, que defende maior diversidade racial, os estilistas William André, da AfroPerifa, Milena Nascimento Lima, da Mile Lab, Jal Vieira, à frente da grife com seu nome, Gabriela Bazilio, da Mocamba Ateliê, Suelen Ingrid, da Afroish, e o casal autor de acessórios Rafaela Nunes e Caleb Candido, da Bizantine. Um time que se propõe a renovar os ares criativos da metrópole. Confira:
DIVERSIDADE JÁ!
O designer de moda Willian André, de 24 anos, é o nome por trás da AfroPerifa, cuja sede fica no bairro de Perus, na Zona Norte de São Paulo. A grife foi criada em 2017 e sua coleção mais recente se chama Tempestade. Traz peças com corte reto e estampas em xadrez e de oncinha. “É preciso ver o corpo negro na moda e também ter mais estilistas, fotógrafos e modelos pretos”, defende Will. >@afroperifa_
DÉBUT NA SÃO PAULO FASHION WEEK
Do distrito do Grajaú, na Zona Sul de São Paulo, Milena do Nascimento Lima, de 22 anos, comanda a Mile Lab. Em 2020, a jovem trancou a faculdade de moda para investir em sua própria produção. “Mesmo sendo bolsista do Prouni, o valor do curso era alto”, explica. A aposta deu certo, e em 2021 ela estreia na edição digital da São Paulo Fashion Week, realizada em junho. >@mile.lab
COLEÇÃO DE WAKANDA
Ex-moradora da Brasilândia, na Zona Norte, Jal Vieira (foto), 32 anos, foi convidada pela Disney para assinar Realeza, coleção em tons de vermelho, preto, branco e dourado inspirada nas mulheres de Wakanda, país fictício do filme Pantera Negra. “Tudo o que faço se relaciona à minha vivência como preta, lésbica, periférica e mulher”, diz ela, que vive na região central. Sua coleção será lançada no dia 20 de maio no site oficial da Farfetch. >@jalvieirabrand
ARGOLA POR ARGOLA
No Jardim Guaraú, na Zona Oeste, o casal Rafaela Nunes, 24 anos, e Caleb Candido, 28, fez da sala de seu apartamento o ateliê da Bizantine, marca de assessórios com peças de aço inoxidável. “O Caleb cria argola por argola, depois, juntos, montamos os colares e bolsas”, diz Rafaela, que conta ainda que eles têm uma rotina puxada, começam às 9 e vão até as 20 horas. Tem dado frutos. Um top da marca (foto) foi usado por uma modelo no clipe Vai Baby (2019), do rapper Black Alien. >@bizvntine
MODA SUSTENTÁVEL
A estilista Suelen Ingrid, de 27 anos, mudou de bairro, do Jaraguá, na Zona Norte, para a Bela Vista, no centro, mas não alterou sua forma de produzir roupas na Afroish, sua grife. Em vez de buscar tecidos novos, ela prefere retalhos descartados, encontrados no bairro do Brás. Também faz uso de peças de brechó, que recombina e transforma em jaquetas coloridas. > @afroish_7
TECIDOS COM HISTÓRIA
Outra marca do Grajaú como a Mile Lab, a Mocamba Ateliê nasceu em 2016 pelas mãos da estilista Gabriela Bazilio, de 24 anos. “Trabalho com tecidos vindos de diferentes países africanos, como Senegal e Angola. Busco resgatar a ancestralidade de pessoas pretas”, detalha Gabriela. Sua grife faz peças sob medida para a clientela, como o quimono azul reluzente visto na foto acima. “Minhas roupas são feitas para caber em pessoas reais”, provoca ela. >@mocambatelie
PLUS SIZE EM ALTA
A loja de roupas Rainha Nagô foi criada pelo casal Diego de Assis, de 35 anos, e Camila Roquette, de 39, que mora na Penha, bairro da Zona Leste paulistana. “Temos uma pegada fashionista, que não é comum no mercado plus size”, diz Diego, autor dos modelos. Com o alcance do on-line na pandemia, as vendas pelo site saíram de 3 000 reais para 35 000 reais. >@rainhanago
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Publicado em VEJA São Paulo de 12 de maio de 2021, edição nº 2737