Lamborghini Huracán e BMW i8: dois destaques em carros superesportivos de 2014
A marca italiana aposenta o Gallardo e o modelo alemão é o primeiro híbrido com fôlego de superesportivo e consumo digno de carro popular
Há quem prefira evolução. Há quem seja partidário de revolução. Para ambos os perfis, o ano de 2014 finaliza com as primeiras entregas de dois carrões que, cada um a sua maneira, mudam o curso da velocidade e sacodem as expectativas sobre performance moderna de um piloto com a direção entre os punhos. Na primeira categoria vem o Lamborghini Huracán. Curiosamente, a montadora com a pecha de “touro indomável” deve agradar à turma afeita a mudanças graduais. No lado oposto está o BMW i8, o primeiro superesportivo híbrido, que, em termos de consumo de gasolina e emissão de gás carbônico, se compara aos automóveis compactos.
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O Huracán (furacão, em espanhol), como diz o nome, varreu da linha de produção nada menos do que o Gallardo, o carro mais vendido da montadora italiana. Entre 2003 e novembro de 2013, o mês da última leva exportada de Sant’Agata Bolognese, foram 14 022 unidades. A ideia, no entanto, não foi cortar laços com a geração anterior. Como numa experiência genética, os engenheiros da Lamborghini — com a ajuda dos técnicos da Volkswagen, grupo ao qual a marca pertence — se ocuparam de melhorar o DNA. A cara invocada e o desenho bruto, como que esculpido a machado, permaneceram quase intactos — só passaram por um aparar de arestas, deixando as linhas mais curvas. A carroceria junta tipos de alumínio que, com o chassi híbrido (alumínio a fibra de carbono), contribui para aumentar a rigidez e baixar o peso desse touro, uma fórmula sem a qual nenhum superesportivo se torna um carro de exceção (cerca de 240 000 dólares). O peso é essencialmente o mesmo: 1 500 quilogramas.
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As diferenças começam a aparecer com o motor ligado. O V10 de 5,2 litros transita da geração anterior, mas aqui foi tratado para garantir mais rendimento e menos consumo: 12,5 litros por 100 quilômetros, 11% melhor que o do Gallardo. A potência máxima é de 8 250 rpm, que foi esticada até os 610 cv. Muito da performance vai resultar da equação simples de quantos quilogramas cada cavalo terá de levar na sua “sela”? A resposta: 2,33. De tantos números que interessam aos aficionados, o que importa aos leigos e amantes da velocidade se resume a 3,2 segundos para sair do zero e bater a casa dos 100 quilômetros por hora. Velocidade máxima: 325 quilômetros por hora. É no acelerar que entendemos a evolução genética do Huracán. Um dos principais progressos diz respeito à substituição da caixa de câmbio manual ó de funcionamento enervantemente brusco — de seis marchas por uma transmissão automática de sete marchas, de dupla embreagem. A nova transmissão é a principal e mais bem-vinda novidade. As trocas de marcha são macias, precisas e rápidas. O carro também conta com suspensão ajustável, o que torna a viagem suave e mais adequada à vida real (no lugar de se restringir a uma explosão de adrenalina reservada ao fm de semana). Ao contrário das gerações anteriores, parece mais estável no chão. Os fãs do estilo da montadora talvez sintam falta de ter em mãos um automóvel mais descontrolado e rebelde. Mas, com esse touro domesticado, e definitivamente mais refinado, a Lamborghini entra na briga de igual para igual com os supercarros.
Se a Lamborghini muda o curso da sua velocidade injetando elegância na viagem, no lado revolucionário da performance vem o BMW i8, cujas primeiras unidades começaram a ser entregues em outubro a compradores que figuraram dois anos numa lista de espera. A demanda é tamanha que a produção está vendida até o fim de 2015. O apelo desse automóvel mora em ajustar as exigências de um consumidor “verde” com o gosto pelo design aerodinâmico. O i8 tem portas que se abrem em asa de gaivota — na sintonia da McLaren P1, com motor V8 de 3,8 litros, 737 cv, e outro, elétrico, de 179 cv, por cerca de 1 milhão de euros —, com a diferença de que é um veículo com potência e preço (137 000 dólares) mais terrenos e urbanos.
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A BMW criou, com o i8, o carro ecológico mais desportivo e o carro desportivo mais verde de todos os tempos. Nenhum outro carrão de série faz tão boa figura na faixa de ultrapassagem e nenhum é tão bom para a consciência ambiental. O i8 tem uma construção inovadora: chassi de alumínio e carroceria de fibra de carbono. Essa foi a solução encontrada para compensar os 210 quilogramas dos componentes do sistema elétrico (98 da bateria de íons de lítio, montada entre os bancos da frente, e 112 quilogramas para os restantes). O motor elétrico, de 131 cv, fica na frente e controla apenas as rodas dianteiras. Posicionado atrás do compartimento dos passageiros, o motor turbo a gasolina — 228 cv, 1,5 litro, 3 cilindros, uma versão — dirige as rodas traseiras. Essa é uma versão vitaminada do motor do MiniCooper 2014, com 134 cv. Com o i8, consegue-se o melhor dos dois mundos: 4,4 segundos para ir de 0 a 100 quilômetros por hora e 2,1 litros por 100 quilômetros de consumo médio. É possível rodar 37 quilômetros no modo carbono zero, suficiente para a maioria dos deslocamentos cotidianos (no fim da jornada, basta ligá-lo três horas a uma tomada de corrente doméstica ou duas horas com um carregador de parede vendido pela BMW por pouco menos de 1 000 euros). O motor elétrico também pode ser utilizado para aditivar o motor a gasolina, alcançando, por isso, velocidades muito superiores (limitadas eletronicamente a 250 quilômetros por hora). Aos partidários da bandeira ecológica, o i8 faz bela figura. A quem preferir a diversão pura — e agora macia —, a Lamborghini.