Continua após publicidade

Comerciantes informais se multiplicam pela Avenida Paulista

Lei municipal limita em até cinquenta os pontos nos quais artesãos podem se instalar

Por Mariana Oliveira
Atualizado em 1 jun 2017, 16h23 - Publicado em 15 jan 2016, 23h00
Camelôs na Paulista
Camelôs na Paulista (Daniel Teixeira/Estadão Conteúdo/)
Continua após publicidade

Aberta no fim do século XIX para abrigar casarões clássicos, a Avenida Paulista começou a priorizar a circulação dos pedestres nos anos 70, quando uma grande reforma criou algumas das calçadas mais largas e confortáveis da capital. Ao longo das últimas décadas, no entanto, esse amplo espaço passou a ser dividido com mobiliários urbanos diversos, de pontos de ônibus a entradas de estações de metrô. 

Atraídos pela multidão (calcula-se que circule por ali mais de 1 milhão de pessoas por dia), os camelôs também passaram a ocupar o pedaço. A concentração desses ambulantes nessa área sempre variou de acordo com o rigor da fiscalização. Há três anos, uma lei municipal, na prática, abriu o sinal verde para a turma. O resultado disso é que as barraquinhas de comerciantes informais se multiplicaram pelos quase 3 quilômetros da via. Em dias de maior movimento, como sexta-feira, a quantidade de camelôs na Paulista ultrapassa os 120, segundo contabilizou VEJA SÃO PAULO no último dia 8 (veja no quadro aabaixo as áreas demaior concentração).

+ Aniversário de São Paulo terá Daniela Mercury em trio e Gilberto Gil

Camelôs na Paulista
Camelôs na Paulista ()

Assinada por Fernando Haddad em 2013, a norma municipal libera apresentações de artistas de rua — e o ganho financeiro espontâneo proveniente do espetáculo —, sejam de música, teatro, dança, literatura ou circo. A regra inclui também as artes plásticas entre as atividades permitidas. Esse detalhe cria a brecha para que artesãos exponham, e vendam, seus trabalhos manuais nas calçadas de toda a cidade. A Paulista acabou virando o “shopping” a céu aberto desse comércio informal. Teoricamente, produtos industrializados são proibidos, mas não é difícil encontrar nas barraquinhas e esteiras no chão carregadores de celular ou discos de vinil.

Continua após a publicidade

Para organizar a situação por ali, a Subprefeitura da Sé, responsável pela região, criou uma portaria no começo do ano passado e limitou o número de pontos na via a cinquenta, distribuídos em locais fixos. Os espaços não têm dono: quem chegar primeiro fica. Se o quarteirão já estiver com a capacidade esgotada, é preciso desmontar a banquinha e ir para outro canto. 

A realidade, no entanto, é bem diferente. De acordo com o que constatou a reportagem da revista, atua por lá mais que o dobro do número de “artistas” permitido. A esquina com a Rua Augusta é o lugar de maior aglomeração. Ali poderiam atuar no máximo dois comerciantes, mas chegam a se acumular nove deles. No Parque Trianon, a história se repete. O lado da Rua Peixoto Gomide é ocupado por nove barraquinhas, quando deveria ter até duas.

Camelôs na Paulista
Camelôs na Paulista ()

+ Estátua do Snoopy da Oscar Freire é furtada

Continua após a publicidade

A única exigência para alguém se instalar na rua é portar a carteira da Superintendência do Trabalho Artesanal nas Comunidades (Sutaco), vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico. A retirada do documento é realizada após um teste, no qual o interessado produz algum artigo com as próprias mãos, diante de um corpo técnico do órgão.

A atual crise econômica aumentou a procura pela inscrição em cerca de 20% em 2015. Hoje há 19 113 pessoas cadastradas. “Têm ocorrido muitas demissões no mercado, e o artesanato tornou-se uma fonte de renda viável”, explica a superintendente Elisabete Bacellar do Carmo. No entanto, encontrar alguém na via que apresente o tal documento oficial é tão difícil quanto achar uma pessoa pedalando em algumas das ciclovias de Haddad. “Meu exame está marcado para fevereiro”, esquiva-se Mário Macedo, que vende objetos de decoração feitos de madeira próximo à esquina com a Rua Pamplona.

+ Quinze programas gratuitos ou baratos para curtir em São Paulo

Apesar do óbvio problema de falta de controle, a administração municipal jura que a fiscalização na Avenida Paulista é realizada até três vezes por semana por seis funcionários da Subprefeitura da Sé, acompanhados por agentes da Polícia Militar ou da Guarda Civil Metropolitana. Entre as ações do grupo está a apreensão da mercadoria dos comerciantes que se encontrem fora do ponto ou não possuam a carteira de identificação.

Continua após a publicidade

No entanto, frequentadores assíduos do local dizem que essas checagens não são comuns. “Sempre vejo policiais por perto, mas eles nunca fazem nada contra os camelôs”, conta o economista José Rubens Ferreira, funcionário do Banco Safra, quase na esquina com a Rua Augusta. As autoridades agora prometem aumentar o número de rondas. “A Paulista não pode se tornar uma terra de ninguém”, afirma o subprefeito da região, Alcides Amazonas, responsável pela confusão atual.

Camelôs na Paulista
Camelôs na Paulista ()

Os maiores críticos são os que acusam os informais de concorrência desleal. “A avenida está um lixo, só tem barraqueiros e não há como competir com quem não paga aluguel ou impostos”, reclama o empresário Francisco Rodrigues, dono da Look Lanches, localizada próximo à Estação Consolação. Em outros pontos, porém, existem até casos de parcerias entre os empresários fixos e os ambulantes. “Às vezes eu empresto a máquina de cartão de crédito ao pessoal aqui do entorno”, conta o vendedor Rui Nunes, que trabalha em uma banca de jornal vizinha ao Masp.

+ Passageira relata pânico em voo da Azul

Continua após a publicidade

São os hippies que marcam mais presença nos 2,8 quilômetros da via. A mineira Vitória Moreira é uma das pessoas que não têm casa definitiva e vivem viajando pelo país. Dormindo em um hotel na Rua Aurora, ela precisa reunir pelo menos 60 reais por dia com a venda de suas pulseiras de couro para conseguir bancar a hospedagem. “Venho a São Paulo para comprar matéria-prima e passo uns dias aqui na Avenida Paulista porque na República há muitos ladrões”, explica.

Para alguns moradores dos bairros vizinhos, a sensação de insegurança é o principal problema provocado pela disseminação da informalidade. Tendo já reclamado diversas vezes na prefeitura, a aposentada Vania Filomena Farina, que vive há mais de trinta anos na Rua São Carlos do Pinhal, teme que sua região se transforme. “Do jeito que está, isso aqui pode virar um novo centro, velhoe decadente”, lamenta.

O mapa da ocupação

Os principais pontos de concentração de barraquinhas e os produtos mais comuns à venda*

Camelôs na Paulista
Camelôs na Paulista ()

1. Colar com cordão de couro e pingente de pedra

Continua após a publicidade

2. Pulseira de couro

3. Apanhador de sonhos

Camelôs na Paulista
Camelôs na Paulista ()

4. Bolsas étnicas

5. Brincos de arameou fio de cobre

Publicidade

Essa é uma matéria fechada para assinantes.
Se você já é assinante clique aqui para ter acesso a esse e outros conteúdos de jornalismo de qualidade.

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

Impressa + Digital no App
Impressa + Digital
Impressa + Digital no App

Informação de qualidade e confiável, a apenas um clique.

Assinando Veja você recebe semanalmente Veja SP* e tem acesso ilimitado ao site e às edições digitais nos aplicativos de Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH.
*Para assinantes da cidade de São Paulo

a partir de 35,60/mês

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.