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“Ancestral do futuro”: MC Tha evoca Alcione, terreiro e funk em novo EP

Confira a entrevista com a MC paulistana, que fará show de lançamento do seu novo EP, 'Meu Santo é Forte', nesta quinta-feira (30) no Cine Jóia

Por Tomás Novaes
30 jun 2022, 17h44
Imagem mostra mulher com argolas em tranças no cabelo, com os braços erguidos, olhando para a câmera
Alcione, funk e terreiro: MC Tha reinventa o passado em novo EP. (Rodrigo de Carvalho/Divulgação)
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Se um fã desavisado escutasse o EP Meu Santo é Forte (2022), último lançamento da paulistana MC Tha, a surpresa seria grande ao descobrir que é um trabalho de intérprete. As cinco canções do trabalho, escolhidas a dedo diretamente do catálogo da discografia de Alcione, não poderiam encaixar melhor na voz e nos arranjos modernos e dançantes já conhecidos da carreira da MC.

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Mais que uma homenagem à estrela maranhense – e mais que um EP, já que acompanha o Clima Quente Show, programa apresentado pela MC lançado simultaneamente no Youtube – o projeto é um tributo às cantoras negras que vieram antes de MC Tha, nome artístico de Thais Dayane da Silva, 29. “Quando eu trago a Alcione nesse projeto é pra falar também que em algum Brasil no passado já existiram mulheres negras que usaram sua voz para falar da sua vivência afro e afro-religiosa”, conta.

“Quando eu passei a frequentar terreiro, lá eu encontrei o funk”

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Com produção de MahalPita e colaboração do Dj Mu540 na faixa Afreketê, a sonoridade encontrada no EP, com arranjos eletrônicos, aproxima o ritmo do funk com os ritmos da umbanda através das letras que tratam do axé, dos orixás e dos terreiros. “A MC Tha para mim é uma ancestral do futuro, e a Alcione nesse projeto é uma ancestral do passado. A ideia foi fazer um encontro das duas”, define a MC.

“Fazer as pazes” entre religião e ritmo é um dos objetivos do trabalho, conta a artista, que começou sua carreira como MC aos 15 anos na Cidade Tiradentes, extremo leste da capital paulista, e passou a frequentar terreiros na região a partir de 2016. “Eu entendo que o deus da periferia hoje em dia é um deus evangélico – é só pegar a quantidade de igrejas evangélicas que tem na periferia. Então, por mais que seja muito óbvio, para a gente que tem essa pesquisa, o quanto as duas coisas são semelhantes, ao mesmo tempo parece que o funk está de costas para o terreiro”, diz.

Desde clássicos da carreira da Marrom, como Figa de Guiné, gravada em 1978, até faixas menos conhecidas, como Agolonã, de 1976, compõem uma seleção homogênea e agitada de músicas. O coro da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, que mantém viva a tradição da dança afro-brasileira em Campinas, no interior de São Paulo, também faz participação especial em três faixas.

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Para além do som, o vídeo que acompanha o EP remonta os programas televisivos das décadas de 70 e 80, com apresentação da própria MC. “O programa traz essa reimaginação de um tempo. Pensando que, na década de setenta, a Alcione apresentava um programa de TV para falar de coisas que passam por um recorte racial. E hoje, com o avanço das coisas – ou desavanço delas – é um Brasil que quase não existe mais”, conta.

Seja imaginando novos futuros ou resgatando referências do passado, o EP Meu Santo é Forte é bem sucedido em tudo que se propõe. O show de lançamento acontece hoje (30) às 22h no Cine Jóia. Há ingressos disponíveis. Cine Joia. Praça Carlos Gomes, 82, Liberdade, ☎ 3231-3705. Qui. (30), 22h. R$ 120,00. cinejoia.byinti.com

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