SP Táxi, criado há três anos, ainda engatinha e gera reclamações de todos os lados
O aplicativo, implantado pela prefeitura para concorrer com startups consolidadas, deve oferecer novos serviços
Lançado em abril de 2018 pelo então prefeito João Doria, às vésperas da troca de comando na cidade, o aplicativo SP Táxi nasceu para disputar mercado com Uber e 99. A atratividade prometida foi baseada em diferenciais em relação à concorrência, como taxas mais baixas para os motoristas (de no máximo 4%, ante mais de 20% das outras marcas), possibilidade de aplicação de descontos e ausência de tarifas dinâmicas — que encarecem as corridas à medida que a demanda aumenta.
“A nossa expectativa é que, no fim do mês de maio, estejamos beirando 30 000 dos 38 000 taxistas da cidade de São Paulo”, afirmou Doria, que foi concorrer ao governo do estado e deixou a prefeitura para Bruno Covas poucos dias depois do anúncio. Finda a primeira gestão e iniciado o segundo mandato tucano, o aplicativo não só não engrenou como enfrenta grande resistência por parte de motoristas, usuários e até pela concessionária que ganhou a concorrência para gerir a plataforma. A taxa prometida também não foi aplicada e ficou em 8,95%.
“No nosso melhor dia até aqui tivemos apenas 300 corridas”
“O SP Táxi não poderia ser chamado de um app como Uber, 99 ou Cabify, pois lhe faltavam 80% das características. Era apenas um chamador. Não aceitava cartões e o caminho era digitado pelo própria motorista”, afirma Fernando Kasprik, diretor da Alias, que assumiu a plataforma em junho do ano passado. “Para chamar a tecnologia de antiquada tínhamos de pintar o cabelo de preto. Era uma linguagem antiga e não encontramos profissionais com habilidades para mexer na ferramenta.”
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Onze meses depois e 5 milhões de reais em investimentos até aqui, segundo Kasprik, deixaram o programa, originalmente desenvolvido por uma empresa do Rio, apto para seguir a difícil tarefa de ganhar as ruas e os dedos não só dos cerca de 8 100 veículos cadastrados, pouco mais de 20% do total da frota, mas do restante dos carros brancos e pretos. Hoje, a média diária de motoristas “acesos” no sistema não passa de 900. “No nosso melhor dia até aqui tivemos apenas 300 corridas”, resume o diretor da concessionária oriunda de Curitiba.
Nas redes sociais, a aceitação da categoria é reflexo do momento do SP Táxi. “Já compartilhei com um monte de passageiros e com um monte de colegas taxistas, mas o negócio não funciona”, diz Edson de Oliveira. “Os caras não têm preparo nenhum e ficamos reféns deles”, desabafou Sílvio Gonçalves. Em nota, a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) afirma que o edital de chamamento para a concessão do serviço já previa o desenvolvimento tecnológico do aplicativo, além de sua gestão e manutenção, para torná-lo mais moderno, eficiente e competitivo. “A SMT mantém constante diálogo com a gestora do aplicativo para garantir o cumprimento do contrato”, diz o texto.
No que depender do “rei dos taxistas”, o vereador Adilson Amadeu (DEM), que se elege há duas décadas carregando bandeiras da categoria, a melhor coisa que pode acontecer hoje é o cancelamento do contrato e a escolha de uma nova empresa para gerir o app. “Fui garoto-propaganda do aplicativo, fui com o Doria ao Rio de Janeiro para buscar a tecnologia, mas essa empresa não é do ramo. Eles receberam todas as informações e até hoje não conseguiram implantar a tecnologia”, esbraveja. “Nos grupos de WhatsApp dos taxistas, sabe como eles chamam o aplicativo? SP Táxi UTI. Dá para acreditar?”
Independentemente das críticas, Kasprik afirma que pretende ofertar novos serviços para os taxistas aumentarem os ganhos, como disponibilizar serviços financeiros para os passageiros, em parcerias com bancos, e até entregas de mercadorias. “Nosso projeto é o do táxi 4.0.” Será?
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Publicado em VEJA São Paulo de 19 de maio de 2021, edição nº 2738