Com aglomerações de um lado, Praça Roosevelt vê bares definharem do outro
Endereços como Papo, Pinga e Petisco e Lekitsch sofrem com queda de público e de faturamento
Enquanto aglomerações sem fim continuam a rolar na Praça Roosevelt, estabelecimentos da região têm sofrido por conta das necessárias restrições no funcionamento durante a pandemia de Covid-19. Um deles é o Papo, Pinga e Petisco (Praça Franklin Roosevelt, 118), um dos botecos mais longevos daquele pedaço, aberto em 2004.
Na tarde da segunda (10), o bar fez um post em seu perfil no Instagram com ar de despedida. “Infelizmente… É com muita tristeza que comunicamos que o PPP está sem ar para sobreviver… 16 anos de muito suor… alegria… lágrimas…”, diz o texto.
Liguei para o proprietário, Edney Ardanuy Vassalo, que me disse: “estamos respirando o último ar”. Ele contou que alguns clientes se sensibilizaram com a postagem. “Vão fazer uma vaquinha virtual”, garante, “A gente vai tentar segurar esse mês. Na atual situação, temos fôlego para seguir só mais um mês e meio, dois meses, no máximo.”
O bar ocupa o imóvel que já pertenceu à Boate Djalmas, onde Elis Regina fez um de seus primeiros shows na cidade, em 1964. (Fofoca musical: a apresentação se mostrou um fracasso de público, segundo relata Regina Echeverria em Furacão Elis [LeYa, R$ 79,90, 272 pág. Compre aqui.]. Quem diria, né?!)
Para ganhar um dinheirinho, o PPP está vendendo copos, lustres e outros itens de decoração. E continua operando e recebendo o público no salão de fitilhos no teto e decoração caótica, repleta de geladeiras, um juke box quebrado e LPs que podem ser comprados, um charme. Trata-se de um bar para beber uma cerveja gelada — a Original está em promoção (12 reais, 600 mililitros) — e mastigar um buraco quente de carne louca (27 reais).
Vassalo chegou a pegar um empréstimo meses atrás, mas está com dificuldades pagar as parcelas, com um faturamento que alcança no máximo 30% do que era antes. Segundo ele, muitos estabelecimentos da vizinhança estão devendo o aluguel. “O problema é que o pessoal aglomera na praça e ninguém vem ao bar. Aqui está vazio e a galera fica trocando Covid na praça”, reclama.
“As aglomerações estavam piores com os bares fechados”, pondera Silvio do Carmo, sócio do vizinho Lekitsch (Praça Franklin Roosevelt, 142).“O Biros e o Bab Bar fecharam”, revela. “Estamos vivendo à base de Pronampe [linha de crédito]”, diz ele. “Estou rezando a Deus para que a gente consiga chegar até o segundo semestre.” Por ora, Carmo colocou uma chopeira para tentar atrair um novo público e deve começar a apostar também no take away, para as pessoas retirarem seus petiscos.
Na esquina com a Rua da Consolação, o TapTap (Rua da Consolação, 455), dedicado ao chope artesanal, também tem se mexido. “Pelo menos estou com movimento, está girando”, conta o sócio Carlos Lima. “Gasto dez vezes mais energia e tempo para ter um décimo do resultado.” O empresário é taxativo: “na Roosevelt, quem mais ganha dinheiro são os dois supermercados, que vendem uma variedade bacana de produtos baratos, para o público que fica na praça”, diz. “Mas não é algo novo. O pessoal sempre ficou na praça.”
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