Boêmio, Paulo Caruso gostava de rabiscar em bares de São Paulo
Fã de uísque, o cartunista morto neste sábado (4) teve até uma exposição em um dos endereços que frequentava
O cartunista Paulo Caruso, que morreu na manhã deste sábado (4), aos 73 anos, era um boêmio raiz. Morador da região da Vila Madalena, o paulistano costumava frequentar bares da região e de outros pontos da cidade. Com a mão habilidosa, não raro fazia caricaturas da freguesia, assim como desenhava os convidados do programa Roda Viva (TV Cultura), no qual trabalhou por mais de três décadas.
Caruso, que também era ilustrador, chargista e músico, e colaborou para jornais e revistas, bebia em endereços como o extinto Genial, na Rua Girassol, e o Genésio e o Filial, na Rua Fidalga. “O legal é que são bares que remontam a uma belle époque do lazer e do prazer de beber”, afirmou o cartunista em uma matéria da Vejinha sobre o extinto Genésio e o Filial, que eram parte do mesmo grupo.
“Fazíamos o jornal do Vou Vivendo também”, relembra o produtor musical Helton Altman sobre este bar que teve no bairro (foi sócio ainda dos outros três estabelecimentos citados). “Caruso também ia, desde os anos 80, ao (extinto) Clube do Choro“, completa, sobre a casa que tocou nos Jardins. Na região da Vila Madalena, o desenhista também visitava o extinto Bom Motivo, conhecido pelas apresentações de MPB, antes de o lugar encerrar as atividades.
Um dos bares prediletos Caruso fica em Perdizes. É o Tiro Liro, instalado numa esquina íngreme da Rua Cotoxó, numa casa com chão de ladrilho hidráulico e balcão de madeira escura. O cartunista tinha até tinha uma mesa favorita: a de número 9, embora vez ou outra ficasse na 5.
O bar era o ponto de encontro do artista, um habitué, na fase mais boêmia. Ele rabiscava nos rótulos das garrafas de uísque que consumia — de preferência, o escocês Black & White –, com desenhos que faziam alusão aos papos da noite. Em 2013, rolou até uma exposição na casa, chamada Confesso que Bebi, com mais de quarenta obras elaboradas no correr de uma década ali no boteco.
Nos últimos anos, Caruso maneirava nos hábitos etílicos. “Ele parou com o uísque há um bom tempo, uns anos. Agora, tomava vinho branco. Estava pegando leve, ordens médicas”, diz o sócio do Tiro Liro, Toninho Bastos.
Outro ponto que o cartunista frequentava nos últimos tempos era O Pasquim Bar & Prosa, endereço da Vila Madalena que tem desenhos de Caruso nas paredes. “Ele ia praticamente todos os dias”, conta o sócio Humberto Munhoz. No início, quando o bar abriu, em 2014, o cliente costumava virar a madrugada junto de amigos do bairro tomando seu uisquinho — ele cresceu logo ao lado.
Com o avançar de um câncer no intestino, foi diminuindo as noitadas e passou a dar pinta mais no almoço. Saboreava sempre salmão grelhado com purê de mandioquinha acompanhado de vinho branco ou rosé. E não deixava de retratar a freguesia. “Centenas de clientes tiveram o privilégio de ser desenhados por ele”, diz Munhoz.
Nos últimos meses, sem poder beber, Caruso tomava espumante sem álcool, sobretudo nos convescotes familiares. Mas, se você gosta (e pode) bebericar um uisquinho, sugiro que, neste sábado (4), brinde o legado de Caruso com um trago, como ele gostava. (Com moderação.) Tim-tim a Caruso.