“Tick, Tick… Boom!”: um retrato dos artistas quando moços
Dirigido por Leopoldo Pacheco e Bel Gomes, o espetáculo investe na dramaticidade e não alimenta uma suposta infantilização da plateia
O público jovem redescobriu o teatro nos últimos anos graças aos musicais. As produções, muitas derivadas de sucessos da Broadway ou adaptações de tramas adolescentes, deixam de lado, porém, conflitos existenciais ou relacionados ao universo adulto, alimentando uma suposta infantilização.
Diante desse cenário, Tick, Tick… Boom! é uma saudável exceção por não menosprezar o espectador preferencial. Escrita por Jonathan Larson (o autor de Rent), a peça, lançada no circuito alternativo de Nova York em 1991, não envelheceu e tem agora versão brasileira assinada por Bruno Narchi e Thiago Machado.
Na trama, três artistas, perto de completar 30 anos, encontraram diferentes maneiras de lidar com a vocação. Jonathan (papel de Narchi) se vira como garçom enquanto persegue o sonho de ser um criador de musicais. Sua namorada, a bailarina Susan (representada por Giulia Nadruz), não largou o palco, mas se sustenta como professora de dança. Mais prático, Michael (interpretado por Machado) desistiu de ser ator e ganha muito dinheiro em uma agência de publicidade.
+ Elias Andreato e Claudio Fontana em “Estado de Sítio”.
As cobranças referentes ao tempo são bem retratadas na montagem, principalmente pelo talento de Narchi, Giulia e Machado, sensíveis na construção de personagens sólidos e cheios de humanidade. Dirigido por Leopoldo Pacheco e Bel Gomes, o espetáculo investe na dramaticidade e não ameniza as fatalidades para se tornar palatável. Trata o público como adulto ao oferecer uma visão realista e sem recorrer a um universo fantasioso ou ingênuo. Quatro instrumentistas acompanham os protagonistas nos números musicais (90min). 14 anos. Estreou em 30/10/2018.
+ Teatro Faap. Rua Alagoas, 903, Higienópolis. Terça e quarta, 21h. R$ 80,00. Até 12 de dezembro.