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Coisas Eróticas – o filme que desbancou a pornochanchada

A história da obra que pôs fim ao estilo softcore nas comédias eróticas brasileiras

Por Roosevelt Garcia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
19 fev 2018, 16h41
 (Reprodução/Veja SP)
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Na década de 70, as maiores bilheterias de filmes nacionais tinham destino certo: as pornochanchadas. Apesar do apelido ousado, elas nada tinham de pornográficas. Eram geralmente comédias inocentes, ou não tanto, com alguma nudez feminina e situações de sexo simuladas. Centenas de filmes foram feitos neste estilo, consagrando diretores e revelando atrizes que se tornariam musas no decorrer do tempo.

Essas produções não eram destinadas apenas ao espectador do sexo masculino. Era comum ver casais no cinema atrevendo-se, para os padrões da época, a assistir a um filme de conotação sexual, mesmo que nada mais explícito fosse mostrado.

No início da década de 80, no entanto, esse formato de filme já não atraía tanto o público como antigamente. O filme japonês O Império dos Sentidos foi liberado na íntegra para ser exibido nos cinemas do Brasil pela ditadura militar, mesmo sendo um filme de sexo explícito, por ser considerado um fime de arte, recomendado por diversos festivais. A partir daí, alguns cinemas do centro de São Paulo começaram a exibir produções estrangeiras de sexo explícito, que faziam as nossas pobres pornochanchadas parecerem filmes infantis, e aquelas pessoas acostumadas às limitações e simulações das produções nacionais passaram a migrar para esses cinemas. O videocassete ainda não existia no Brasil; então, os filmes pornográficos somente poderiam ser assistidos nos cinemas.

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Poster oficial de Coisas Eróticas (Reprodução/Veja SP)
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Foi então que aconteceu. O cineasta Raffaele Rossi escreveu e dirigiu o filme que transformou o cinema nacional. Coisas Eróticas era um longa-metragem com três histórias independentes, que não trazia nada de excepcional, a não ser o fato de ter as cenas mais ousadas já filmadas para o cinema brasileiro. A ideia era recuperar o fôlego que as antigas pornochanchadas tinham perdido com a chegada dos filmes pornográficos americanos e europeus.

E a novidade deu muito certo. As sessões do filme ficavam sempre lotadas, com filas na porta dos cinemas que dobravam o quarteirão. Mas pra chegar a ser exibido, o filme passou por algumas “aventuras”, e a primeira delas sem dúvida era a dura censura do regime militar. A produção ficou em análise da censura em Brasília por oito longos meses, e quando saiu o documento com as alterações que os produtores deveriam fazer para que fosse liberado, eles chegaram à conclusão de que não sobraria filme para ser exibido, se tudo que foi pedido fosse cortado. A principal reivindicação da censura era que todo o “segundo quadro” do filme fosse cortado, referindo-se à segunda história completa. Os produtores cortaram o segundo “quadro” do filme, ou seja, o segundo fotograma, o equivalente a 1/24 de um segundo de projeção! Com estas e outras artimanhas, conseguiram que o filme fosse finalmente liberado.

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Jussara Calmon, musa do filme (Reprodução/Veja SP)
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Outra curiosidade é que o filme estava programado para estrear nos cinemas logo após a final da Copa do Mundo de 1982. Mas, quando aquela seleção dos sonhos, considerada por muitos o melhor time do Brasil até hoje, perdeu para a Itália e ficou fora da Copa, os produtores decidiram antecipar o lançamento do filme para ‘fazer o brasileiro esquecer a tristeza”. Uma excelente jogada de marketing que fez o filme ter ainda mais sucesso do que o esperado. Pelas estimativas dos produtores, mais de 5 milhões de pessoas assistiram ao filme na época, o que o coloca entre as maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos.

Muito mais do que uma importância na relevância do cinema brasileiro, Coisas Eróticas tem uma inegável importância histórica, que abriu caminho para dezenas de outras produções cinematográficas do mesmo tipo nos anos seguintes, e que hoje são somente uma vaga lembrança na mente de quem viveu aqueles dias.

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