Barbenheimer: como os filmes monopolizaram as salas da capital
Sucesso de 'Barbie' e 'Oppenheimer' é absoluto - mas fenômeno reduziu ainda mais o alcance dos filmes nacionais e, ainda, provocou barraco na plateia
Três anos atrás, assistir a um filme no cinema parecia uma possibilidade um tanto incerta. No auge da pandemia e das preocupações sobre a Covid-19 em lugares fechados, o setor sofreu um tremendo baque — e, ao mesmo tempo, viu surgir a onipresença das séries de streaming.
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Não deixa de ser surpreendente, portanto, observar as longas filas para comprar ingressos de dois lançamentos nas salas paulistanas: Barbie (que já alcançou a marca de 1 bilhão de dólares de bilheteria global) e Oppenheimer (drama sobre o criador da bomba atômica). É tal o sucesso que o fenômeno ganhou nome próprio nas redes sociais: o Barbenheimer.
Os dois longas entraram em cartaz em 20 de julho e, desde então, quase monopolizam as salas da capital. Segundo o portal Filme B Box Office, na semana de estreia, o filme da famosa boneca esteve em 86% dos cinemas, enquanto o título de Christopher Nolan não ficou muito atrás, chegando a 83%.
Em termos de número de salas, a potência da bomba Barbie é incomparável: a produção chegou a ocupar 268 delas, enquanto Oppenheimer estava em “apenas” 96 — de um total de 353 espaços na cidade. Na última semana, os números mantiveram-se altos: os filmes ainda passavam em 150 e 79 salas, respectivamente.
A predominância do Barbenheimer tem seus efeitos colaterais. Primeiro, não ajuda em nada o cinema brasileiro, na baixa desde a pandemia, a se reerguer. A chamada “cota de tela”, que obrigava a exibição de filmes nacionais, deixou de vigorar em 2021 e não tem previsão de volta. No primeiro semestre, as produções domésticas venderam menos de 1% dos ingressos no país — e normalmente em sessões diurnas, sem tanto alcance.
Além disso, o comportamento do público nos cinemas, talvez empolgado pela repercussão dos filmes, tem motivado polêmicas. O uso excessivo de celulares — afinal, virou quase obrigação postar uma foto do “momento Barbie” — e a conversa durante os filmes são as principais queixas.
Em 20 de julho, no Espaço Itaú Pompeia, uma mulher foi agredida por uma senhora após reclamar das conversas em uma sessão de Barbie. Já Carolina Sterza, 29, gerente de projetos educacionais, acabou prejudicada por outro mau comportamento dos tempos atuais.
“Vi spoilers do filme porque minha prima gravou cenas e postou”, ela conta. “Deixei de ir ao cinema, passo nervoso”, diz a nutricionista Julia Daré, 29. Como todo furacão, o Barbenheimer provoca espanto — e alguns estragos. ■
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de agosto de 2023, edição nº 2854