‘Armageddon Time’: James Gray revisita a própria infância em drama potente
Elenco é composto por Anne Hathaway, Jeremy Strong e Anthony Hopkins
✪✪✪✪ Armageddon Time estreia em 10 de novembro nos cinemas brasileiros, mas já deixou sua marca na 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que será encerrada nesta quarta (02).
Dirigido por James Gray (Era Uma Vez em Nova York), este drama de época se passa na Nova York dos anos 1980, pouco antes de Ronald Reagan ser eleito presidente dos Estados Unidos. A trama é baseada nas próprias vivências do cineasta, que viveu com sua família no Queens durante a infância.
Abordando temas como amadurecimento, racismo e a árdua procura para realizar o “sonho americano”, o longa tem força para entrar na temporada de premiações em 2023. A trama ganha camadas que são construídas aos poucos, com o protagonismo de um garoto chamado Paul Graff e seu amigo Johnny.
Enquanto Paul vem de uma família judia, Johnny é um menino negro que sofre com o racismo à sua volta. Juntos em uma escola pública, eles tentam se fortalecer com essa forte amizade, mas logo ela é interrompida: Paul vai para uma escola particular e se afasta do amigo.
Gray trabalha muito bem o impacto do racismo através do olhar de uma criança. Paul não entende o que pode acontecer com o amigo, mas aos poucos passa a ver como o sistema funciona. Johnny, por sua vez, se impõe com mais facilidade – afinal, já sofre com o preconceito e criou uma “casca” de proteção.
Por essas razões, Armageddon Time é um filme que transpira severidade, ao mesmo tempo que se apoia numa frágil relação entre duas pessoas inocentes.
Outro elemento de destaque é o elenco. Anne Hathaway e Jeremy Strong interpretam os pais de Paul e estão excelentes, enquanto Anthony Hopkins vive o avô do jovem protagonista. Na atuação do veterano, reside o verdadeiro brilho da produção.
É interessante notar que, ainda que o lar de Paul seja preenchido por alguns gestos de carinho, há diversos momentos em que a tensão e violência tomam conta. Nessas nuances, o que mais ganha luz é a bela relação entre Paul e o avô.
Armageddon Time introduz questões de 50 anos atrás que ainda ecoam de forma insistente nos tempos contemporâneos.
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de novembro de 2022, edição nº 2815