“A casa deve ser um espaço para andar descalço, para se despir de camadas”
O arquiteto Michel Safatle dá dicas sobre como fazer do seu lar um lugar de calma. Iluminação difusa e mobiliário reutilizado estão na lista
EM QUIETUDE — Eu me perguntei como uma casa pode convidar para um momento de pausa. A primeira resposta foi a luz. Em vez de focos mais fortes, a iluminação indireta, feita de forma difusa, ajuda a criar uma atmosfera de encantamento.
BELEZA NEUTRA — No lugar de um colorido intenso, o uso de tons da natureza como aveia, marfim e areia com preto acalma. A casa deve ser um espaço para andar descalço, para se despir de camadas.
DE SENTIR NA PELE — Os sentidos podem nos ajudar no caminho de reconexão interna. Vale brincar com as texturas no interior: sentir o calor da madeira, o toque do linho, da seda, do algodão orgânico.
FOCO NO DETALHE — Vivemos com olhos apressados. Nos meus projetos, procuro trazer a atenção para detalhes que demandam tempo para ser absorvidos. Pode ser uma folhagem ou um quadro que tem uma história por trás, a ideia é buscar elementos que transmitam sutileza.
SEM PESSOAS, NÃO HÁ SENTIDO — Uma casa vazia não tem vida. O afeto é fundamental. Receber e abraçar as pessoas é o que importa.
USADO, COM ORGULHO — Reutilizar mobiliário não é só uma questão de sustentabilidade, mas também de trazer história para o espaço. Não se trata necessariamente de ter uma poltrona assinada, pode ser uma que era da casa da sua avó.
PARA SE VER MELHOR — Os espelhos podem convidar a se enxergar de fato, levar ao autoconhecimento. Em casa, quando bem utilizados, trazem uma sensação de amplitude e de conforto.
DISCIPLINA PARA RESPIRAR FUNDO — Sempre precisei gerenciar os sentimentos. Com a prática de esporte, descobri como respirar e silenciar a pressão emocional. Ao competir como cavaleiro, entrei em contato com demônios e fantasmas, aprendi a perder e também a lidar com tensões. Junto com muitos anos de terapia, esse aprendizado foi fundamental para que eu atingisse a maturidade.
ESPAÇO REFLEXIVO — O momento atual pede menos reação e mais reflexão. Em uma sociedade de ânimos inflamados, há a necessidade de uma mensagem de amor e compreensão. A arquitetura pode expressar acolhimento em suas formas.
SE ALGO APERTAR, UM CHOCOLATE — Aprendi que não precisamos ser tão duros conosco. O rigor pode combinar com a doçura. Às vezes, um chocolate é tudo aquilo de que a gente precisa — e tudo bem comer sem culpa. Sempre deixo uma caixa à mão. Nunca se sabe quando a pausa pedirá um pedacinho (ou dois) de uma barra.
Michel Safatle (@msafatle) era cavaleiro antes de ser arquiteto. Na Casa Cor 2019, apresenta o projeto #CasaPausa. Acredita que morar bem é sinônimo de compor um ambiente tranquilo, com referências afetivas e uma caixa de chocolate sempre à mão.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de maio de 2019, edição nº 2636.