Existe felicidade na maternidade?
A mãe, autora e fundadora da revista "Mães que escrevem", Jo Melo, fala sobre as alegrias e dificuldades de criar uma criança
Maternagem e maternidade, duas palavrinhas que parecem iguais, mas têm significados bem diferentes. A maternidade é a relação social de uma mulher a partir do momento em que adota ou do momento do nascimento de uma criança. Então, para a sociedade, ela é mãe, vive a maternidade. A maternagem, por sua vez, é a comunicação, o dia a dia, o vínculo afetivo, o acolhimento, a experiência de ser mãe, perto ou longe. Resumindo: é o amor que uma mãe sente por sua cria.
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OS DESAFIOS DA MATERNIDADE
Muitas de nós, que temos filhos, aprendemos todos os dias como é ser mãe. Infelizmente, quando nasce um filho, nem sempre nasce uma mãe, tudo é moldado aos poucos, a conexão é refeita a partir do momento em que o cordão umbilical é cortado, ou até mesmo quando você assina os papéis da adoção e dá aquele primeiro abraço apertado.
Muitas mulheres lutam e sobrevivem contra clichês e são colocadas em pedestais por estar sobrecarregadas. O que mais vemos, infelizmente, ainda são perfis e pessoas que romantizam a maternidade, como se a mulher-mãe fosse uma guerreira por dar conta de tudo, mas não é bem assim.
Nem sempre é fácil e não é pela gente, porque amamos nossos pequenos, o problema está da porta pra fora; a maternidade é cansativa e, por vezes, cruel. Faltam espaço, acolhimento, rede de apoio, políticas públicas. Precisamos, nós mesmas, unir forças contra estereótipos que só reforçam essa fortaleza mascarada de cansaço, julgamentos e a busca pela perfeição.
O MATERNAR
Maternar faz parte da maternidade, mas é diferente. Nele, temos a conexão, o amor, alegria e orgulho de ser mães de pessoinhas tão inocentes e especiais. Maternar está nos detalhes. Da porta pra dentro tem amor, admiração e felicidade nas pequenas conquistas como: a primeira palavra, o primeiro passo, o “eu te amo” tão inocente e real. Está nos abraços com bracinhos curtos ou ao assistir um vídeo, ir ao shopping, comer um lanche, no beijo de boa-noite, na cartinha, no telefonema, na videochamada.
Na minha experiência, a felicidade no maternar se dá quando vou ao parque com meu filho soltar pipa, andar de bicicleta, comer pastel na feira ou quando assistimos a vídeos de memes no YouTube. Essa felicidade também transborda em mim a partir do momento em que vejo, nas ações dele, quanto é carinhoso, gentil, amante dos animais e da sua risada altíssima num momento de felicidade, ou quando me envia vídeo de gatinhos porque sabe que gosto.
O tempo pode ser o melhor amigo da mãe — depende, vai. É através dele que os vínculos se fortalecem, que os aprendizados vêm, que a culpa também chega, afinal, ser a melhor mãe do mundo numa sociedade que molda o que é ser boa, num ideal que não é humanamente possível de ser alcançado, é complicado. Mas a gente aprende, desaprende e vai, aos poucos, entendendo essa loucura que é criar uma criança, um serzinho que, desde que nasce, faz parte dessa sociedade que precisa ser aldeia.
Claro que nem tudo é mil maravilhas, longe de mim romantizar a vivência de cada mulher-mãe; criar uma criança é difícil, não tem manual, a gente aprende junto, chora e ressignifica, todos os dias, um dia de cada vez. Ser mãe é aprender todos os dias e viver momentos de felicidade.
MÃES QUE ESCREVEM RELATOS
Pensando nessa pluralidade, perguntei a algumas mulheres: “Qual a parte mais feliz do seu maternar?”. E elas me responderam.
A parte mais feliz do meu maternar é…
“Quando brincamos com nossas piadas internas, sinto muita cumplicidade nesses momentos.” Emanuele Ferreira, mãe da Beatriz, 16 anos, PCD.
“O amor demonstrado nas pequenas coisas, no dia a dia intenso e sobrecarregado pra mim e pra ele! E, no meu caso, qualquer palavrinha, qualquer demonstração de independência é uma festa.” Gabriela Kermessi, mãe do Sam, 4 anos, autista.
“Pra mim, é a confiança deles, principalmente do Léo. Quando ele vem deitar comigo, sei que sempre vem um carinho e uma pergunta! A confiança em saber que eu sou abrigo e que comigo ele sempre vai vir falar de qualquer coisa sem represálias, principalmente pela sua sexualidade, me deixa feliz.” Simone Mello, mãe do Léo, 16 anos.
“Quando observamos a natureza juntos, seja na janela de casa, no caminho da escola ou rolê de sexta, pós-escola.” Dayvilla Bianquini, mãe do Donatello, 7 anos.
“Quando eu não estava bem, meu filho de 11 anos abriu os braços me chamando pra um abraço, desabei a chorar e ele disse: ‘Pode chorar, mãe, eu tô aqui’.” Jennifer Ribeiro, mãe do Arthur.
Diante desses relatos repletos de felicidade, te pergunto: E você? O que te faz feliz no maternar?
A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br
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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de maio de 2022, edição nº 2788