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A Tal Felicidade

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Saúde, bem estar e alegria para os paulistanos
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Ressignificar emoções, dormir melhor, cuidar do intestino: o bem-estar

Médico propõe priorizar uma medicina que vê ser humano de forma integral e comenta sobre passos para alcançar melhora na saúde a partir dos hábitos

Por Theo Webert, em depoimento a Helena Galante
7 out 2022, 06h00
Peças de um quebra cabeça branco em um fundo rosa
 (Freepik/Reprodução)
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Sempre fui muito questionador, como um Sherlock Holmes — metódico, fleumático, cético, porém munido de uma sede de conhecimento inesgotável. Nunca acreditei na superficialidade, mas, hoje, quanto mais me aprofundo, vejo quão raso ainda estou.

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Foi nessa procura que, quando me formei médico, decidi sair atrás de respostas por conta própria. Já ouvi que autodidatas são aqueles que têm dificuldade de entender o óbvio, mas eu penso justamente o contrário. É por não aceitar o óbvio que buscamos ir sempre além em nossos estudos, questionamentos e explicações.

Nunca vi o ser humano como um sinal, sintomas, números vindos de um exame ou até mesmo de imagens estáticas. Sempre acreditei que tudo aquilo ali era apenas um grão diante da imensidade que deveria ser analisada.

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Hoje eu defendo a ideia de que, antes de as queixas se tornarem físicas, elas são emocionais, comportamentais, fruto das nossas vivências, da nossa cultura e educação. É algo muito mais profundo e que nossos olhos não conseguem enxergar.

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E ainda não conseguimos, por vezes, ter a audição aguçada para ouvir o que nosso corpo tem a nos dizer. Não preciso ir muito longe: basta lembrar
que somos compostos essencialmente de água em quase 70% de todo nosso corpo.

Você já deve ter ouvido falar na vibração das moléculas da água, dos diferentes estados que ela pode assumir. Assim somos nós. Tal como a água, somos fruto do meio em que vivemos, das histórias que ouvimos, da educação que recebemos, dos antepassados que tivemos.

Somos seres conscientes, mas temos na inconsciência a chave para expandir ainda mais nossa mente, corpo e espírito.

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Há dez anos, já estava iniciando meus estudos nessa área que tanto me atraía: como nosso estilo de vida, alimentação e hábitos influenciam a saúde. Eu, um apaixonado por fisiologia humana e farmacologia, logo comecei a juntar esse quebra-cabeça e entender a intrínseca relação entre mente e intestino.

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Naquela época, poucos eram os estudos, e quase nenhum médico falava sobre isso. O que se encontrava era na literatura de medicina ayurvédica, que revelava que não éramos apenas o que comemos, mas também a forma como digerimos e absorvemos a comida.

Isso, para mim, fazia total sentido. Era mais uma chave para tentar explicar por que eu e meus irmãos, mesmo tendo os mesmos pais, recebendo os mesmos alimentos e, muitas vezes, tendo a mesma prática de exercícios físicos, éramos tão diferentes quanto ao peso corporal.

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Aquilo me intrigava, mas eu começava a entender que minhas emoções estavam, de fato, impactando meu peso, revelando o que meu corpo queria apenas mascarar, como medo, ansiedade, depressão e sono. O meu sono também já foi péssimo.

Foi preciso muita terapia para mudar a imagem que me foi imposta de que dormir era para quem já tinha a vida ganha. E às vezes me pego caindo nas mesmas armadilhas. Está aí uma porta que abri com a chave vinda, além da medicina ayurvédica, da medicina tradicional chinesa. Consegui mudar esse padrão.

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Até entender que nosso sono também dependia da digestão, porém foi muito indutor do sono, ansiolítico e antidepressivo tomados. Aposto que você conhece alguém em uma situação parecida. Essa minha alteração na digestão e no sono fazia com que meu emocional ficasse muito bagunçado.

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Eu vivia sem ânimo, sem energia, desmotivado. de dia, estava cansado; à noite, a mente não conseguia parar. Como mudar isso? Não é apenas o glúten ou a lactose, mas principalmente o processamento do alimento que faz com que a comida que você ingere não alimente seu corpo e deixe sua mente cada vez mais cansada.

Acredito que, por buscar respostas para mim, encontrei uma forma de cuidar do outro de maneira profunda, entendendo e respeitando as individualidades, e sabendo que nunca deveríamos nos ver de maneira segmentada. Ninguém é nada, apenas estamos.

Somos cíclicos, nada é regular e perfeito, e, por isso, acredito e aposto em uma medicina que vê o ser humano de forma integral.

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Não vislumbro alternativas para encontrarmos a felicidade se não for olhando para dentro, o que inclui um olhar fisiológico do relacionamento da saúde do intestino com o sentimento de bem-estar e, consequentemente, de felicidade.

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Buscamos muitas respostas do lado de fora pela dificuldade que temos de silenciar, de melhorar nossa capacidade de nos entendermos melhor e aprofundarmos no caminho do autoconhecimento. Muitas são as alternativas, mas eu acredito e defendo a tese de que devemos começar por dentro.

Reeducar é mais difícil que educar. Reeducar posturas e atitudes, sobretudo com forte caráter emocional, passa, inevitavelmente, por uma revisão de valores, por uma reflexão ousada e corajosa, desprovida de medo e de piedade de si mesmo.

Passa por um reconhecimento, ainda que tardio, de que algo merece ser reciclado e há emoções que reclamam ressignificação urgente. Trata-se de um caminho que precisa e deve ser trilhado de maneira consciente e com vontade real de libertar-se.

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Theo Webert posa sentado apoiando os braços nos joelhos, as mãos entrelaçadas
Theo Webert (@theowebertmt) é médico. investigador do todo, busca por um olhar disruptivo e pela permissão de sentir para encontrar o que faz sentido e poder aumentar o bem-estar de todos. (Pedro Dimitrow/Divulgação)

A curadoria dos autores convidados para esta seção é feita por Helena Galante. Para sugerir um tema ou autor, escreva para hgalante@abril.com.br

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Publicado em VEJA São Paulo de 12 de outubro de 2022, edição nº 2810

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