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Algumas bênçãos chegam disfarçadas

Para Luciana Navarro, às vezes não compreendemos porque alguma coisa aconteceu mas tudo tem seu sentido

Por Luciana Navarro
Atualizado em 29 jan 2021, 11h58 - Publicado em 29 jan 2021, 02h10
getty images/Nurasiyah Nurasiyah
 (Getty Images/Nurasiyah Nurasiyah/Divulgação)
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Algumas bênçãos chegam disfarçadas. É assim que gosto de pensar sobre a minha gestação molar, que me levou a fazer quimioterapia, e vou te contar por quê. Eu trabalhava muito, sempre fui assim desde muito jovem.

Aos 23 anos, empreendi pela primeira vez iniciando uma empresa de live marketing. Era divertido apesar de desgastante. Pensava que minha vida seria essa e estava satisfeita com ela. Quando eu tinha 32 anos, nasceu Valentina, minha amada filha, e junto com ela nasceu a culpa (mães me entenderão).

Desejei muito ser mãe e queria criar e acompanhar o crescimento da minha filha. E como se faz isso atuando no mundo corporativo? Um conflito se estabeleceu: se eu estava na empresa, me sentia culpada por não estar com Tití, e, se estava com Tití, certamente devia algo à empresa. Isso me corroía. toda a realização que sentia trabalhando foi se esvaindo a cada decepção que esse mundo, despreparado para receber mães, trazia. Mesmo em meio ao caos de agenda atribulada, culpa aqui e ali, o desejo do segundo filho apareceu e resolvemos partir para as tentativas.

Nos demos um prazo de seis meses para engravidar. Se nesse período não acontecesse, eu entenderia como um sinal do universo (sou dessas) de que não era para ser, e seguiríamos felizes com nossa Valentina. Bingo! Em três meses descobri que estava grávida. fui ao céu. Em seguida, no primeiro exame, descobriu-se que era uma gestação molar. Fui ao inferno.

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Para os que não conhecem, a gestação molar é algo extremamente raro. No momento da multiplicação das células, um erro acontece e não é gerado um embrião, e sim um tumor. No meu caso foi benigno e sou grata até hoje. Porém, isso não me livrou da quimioterapia. Virar uma paciente da oncologia mexe muito com nossas estruturas emocionais, ainda mais quando se tem uma filha de 2 anos e meio que precisa de você. Por ela, respirei fundo e mergulhei nessa oportunidade de cura. Precisei me afastar completamente da operação e liderança da empresa, e foi tudo muito rápido entre descobrir, ser operada e iniciar a químio.

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Foram seis dias entre a notícia e tomar minha primeira dose. Tinha uma equipe incrível no trabalho, uma sócia mais incrível ainda, e me recolhi completamente por quatro meses. Nesse tempo, repensei minha vida, entendi muita coisa e me curei não só da doença, mas do medo de deixar ir o que não me preenchia mais.

Entendi que meu ciclo na empresa havia se cumprido e que ali não era mais onde queria continuar depositando toda a minha energia. A doença me curou de muitas crenças limitantes. Sentir quão frágil a vida pode ser te dá uma força gigante para fazer valer cada segundo aqui. Eu já não tinha tempo a perder, decidi que abriria sim mão de toda aquela pseudo-certeza de uma vida profissional estável e iria buscar algo que me fizesse voltar a pulsar com toda a intensidade que queria viver.

Com quatro meses de decisão tomada, projeto de saída da empresa em andamento, um almoço de fim de ano entre amigos da escola me trouxe uma nova perspectiva. Criar uma empresa de cosméticos naturais. Nunca havia me dado conta de que nos alimentamos através de nossa pele! Algo tão óbvio, mas só durante a químio, quando fui proibida de usar cosméticos convencionais, despertei para isso.

Naquele almoço, a Paty (minha atual sócia) me contou dessa oportunidade do mercado de beleza limpa e um novo portal se abriu para mim. Meus olhos brilharam como nunca pensei antes, me enchendo de propósito e vontade de realizar novamente. Algumas bênçãos chegam disfarçadas.

Luciana Navarro
Luciana Navarro (Suzana Mendes/Divulgação)

Luciana Navarro é sócia-fundadora da care Natural Beauty (@carenaturalbeauty), empresa de cosméticos naturais com ativos orgânicos.

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Publicado em VEJA São Paulo de 3 de fevereiro de 2021, edição nº 2723

 

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