Conheça Ivan Freitas, um dos colecionadores por trás da Batman 80
O paulistano coleta itens do universo dos quadrinhos desde criança e é um dos sócios-fundadores da CCXP
Quando mudou de casa, no ano passado, Ivan Freitas da Costa abriu mão de cerca de 4 000 revistas em quadrinhos. E não porque não as quisesse mais. “Era uma situação em que eu olhava e descobria: gente, eu tenho três iguais!”, conta o colecionador, rindo. Os produtos representavam uma pequena parte de algo muito maior – são tantos itens que ele se perdeu na conta há alguns anos. “Mas sei que estamos na casa das dezenas de milhares”, calcula.
Costa é o curador da Batman 80, que entrou em cartaz no dia 6 no Memorial da América Latina. A mostra é dividida entre seu acervo pessoal e o do carioca Márcio Escoteiro, considerado o maior colecionador do homem-morcego do país. Comemora o octogésimo aniversário do personagem em uma experiência imersiva, com doze ambientes famosos de Gotham City. Por lá, estão expostos itens raros, brinquedos originais e (muitas) revistas em quadrinhos.
Tudo começou aos 12 anos. “Foi quando adquiri a primeira revista (Heróis em Ação, número 7) e quis comprar a seguinte. Como peguei a história no meio, precisava descobrir não só o que aconteceria depois, mas também o que já tinha acontecido. Aí fui atrás das edições originais americanas, porque havia um delay de vários anos entre o que saía lá e o que chegava aqui.” Daí, não parou mais e aprendeu a ler em inglês com o hobby.
Seu tipo de item preferido são as chamadas “artes originais”: o primeiro desenho feito por um artista para uma página de quadrinhos, normalmente a lápis. A brincadeira começou em 1997, com uma carta enviada por correio ao desenhista Chris Bachalo. O artista respondeu aos elogios de Costa com uma mensagem e um sketch autografado de um de seus personagens. Hoje, já são cerca de 1 500 artes originais coletadas e preservadas por ele.
Elas recebem um tratamento especial. Ficam em sacos plásticos acid free, dentro de pastas portfólio, em um ambiente com temperatura controlada. “Colecionar papel no Brasil, um país tropical, é desafiador. Deve-se lidar com muita umidade, além das pragas. É uma responsabilidade muito grande, porque não existe reposição para esses itens. Mas alguns, claro, acabam indo para as paredes. Seria uma pena não fazer isso”, explica.
Profissionalizando o hobby
Formado em publicidade e propaganda em 1995 pela FAAP, o curador fez carreira em marketing. Cursou MBA na USP e publicou o livro Marketing Cultural, de 2004. Atuou por alguns anos em paralelo como curador do Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) em Belo Horizonte. Até que, em 2013, resolveu juntar os dois mundos e fundar duas empresas, a Chiaroscuro Studios e a Comic Con Experience (CCXP).
Com a primeira delas, faz o agenciamento de 65 quadrinistas, quase sempre brasileiros, que trabalham para o mercado externo. Eles produzem revistas em quadrinhos, enviadas para os Estados Unidos e, de lá, licenciadas para o mundo todo – inclusive para o Brasil, com a Panini. São, em média, trinta títulos mensais. Entre eles, figuram Superman, Aquaman, Star Wars e Vingadores.
Já a CCXP é um conhecido evento anual de cinco dias (contando a Spoiler Night, exclusiva para imprensa e influenciadores) com as principais novidades do universo geek – filmes, séries, sagas. A última edição teve a presença de Brie Larson, Sandra Bullock, Michael B. Jordan e outros grandes nomes do setor. Cerca de 262 000 pessoas passaram pelo local.
Costa emplacou oito exposições, detém cinco troféus HQMix de Melhor Exposição e não pretende parar tão cedo. “O colecionador, por função, é um egoísta. Alguém que pega alguma coisa no mundo e traz para si. Gosto muito desse trabalho [das exposições], porque é o movimento exatamente oposto. Lá, as pessoas podem ter acesso ao desenho original de um artista que eles curtem muito, por exemplo. E assim nós explicamos que quadrinhos são sim arte, cultura e técnica. É muito divertido e recompensador”, declara.
E o que ele acha da nova fase da franquia, com o ator Robert Pattinson? “No começo, torci um pouco o nariz. Mas o importante é ter uma boa história e um diretor com pulso firme. Ainda vai demorar para descobrirmos – até lá, a Marvel já lançou mais uns dez filmes”, diverte-se.