Conversa de gulosos com Breno Lerner
Administrador de empresas formado pela Fundação Getúlio Vargas e superintendente da Editora Melhoramentos, Breno Lerner, 57 anos, é também um guloso assumido. Ou melhor, um gourmand , definição mais apropriada para o homem que gosta da boa mesa e viaja mundo afora em busca de restaurantes. Lerner, fã de livros de gastronomia, conta parte de […]
Administrador de empresas formado pela Fundação Getúlio Vargas e superintendente da Editora Melhoramentos, Breno Lerner, 57 anos, é também um guloso assumido. Ou melhor, um gourmand , definição mais apropriada para o homem que gosta da boa mesa e viaja mundo afora em busca de restaurantes. Lerner, fã de livros de gastronomia, conta parte de suas experiências culinárias e de leitor do assunto no livro de crônicas O Ganso Marisco e Outros Papos de Cozinha (Melhoramentos, 35 reais) que será lançado hoje, às 18h30, na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis. Os temas, reunidos aleatoriamente, variam da gastronomia encontrada nos romances do escritor português Eça de Queiroz à produção de azeitonas para óleo de oliva na minúscula cidade mineira de Maria da Fé. Pipoca aqui e acolá uma ou outra receita, como a de tapenade, que acompanha justamente o texto das oliveiras de Minas Gerais. Poucas dessas crônicas são inéditas. A maioria delas foi publicada em revistas da colônia judaica. Conversei com Lerner, que respondeu cinco perguntas por telefone. Confira:
Por que decidiu escrever crônicas culinárias?
Reuni crônicas publicadas na coluna Papo de Cozinha, que mantenho em diversas revistas da colônia judaica. Entre as que foram escritas especialmente para o livro estão a que dá nome ao livro e os textos sobre Eça de Queiroz, o cerco de Paris e Ziryab (músico judeu que viveu entre 789 e 857), essa intitulada o incrível voo do melro.
O que o levou a se debruçar e reunir assuntos tão diferentes quantos jantares de astros hollywoodianos e dieta bíblica?
Adotei uma organização tão caótica quanto minha cabeça. Na verdade, não achei uma maneira sistemática de reunir essas crônicas, já que é tão vasto o número de temas gastronômicos no mundo. A preocupação era ir atrás de boas histórias. Achei o máximo, por exemplo, ler sobre o cultivo de oliveiras em Maria da Fé num suplemento agrícola. Esse tema me motivou inclusive visitar a pequena cidade mineira.
Da extensa lista de pratos de Titanic, que ocupa uma de suas crônicas, qual gostaria de ter provado?
Já cozinhei em casa quase toda a lista. Claro que faltam ingredientes como a coluna vertical do beluga. De tudo que preparei, gostei mesmo do filé-mignon forestière (carne assada ao molho de cogumelo-de-paris, vinho e cebola).
Qual foi experiência gastronômica inesquecível?
Deu-se três anos atrás na cidade de Galinhos. É um istmo na região salineira do Rio Grande do Norte. Tem quase 10% de sal na água em determinados pontos do braço de mar. Há um mangue onde se encontram ostras enormes. Hospedados na pousada Chalé Oásis, provamos dúzias e dúzias dessas ostras frescas, depois amêijoa à bulhões pato (abafadas no ao azeite, alho e coentro) preparadas pela dona da hospedagem, a portuguesa Clara Pinto Machado. Vieram ainda lagostins grelhados e um pato de cabidela. A sobremesa é provada sempre no café da manhã. São deliciosas rabanadas, aliás, as melhores da face da Terra.
Existe um novo projeto em curso?
Meu próximo livro será sobre a Inquisição e a comida. O período da Inquisição é o único da história que um indivíduo podia ser morto pelo que comeu ou pelo que deixou de comer. Fiz uma pesquisa sobre o tema na Torre do Tombo, em Lisboa. Mas preciso pesquisar ainda mais. Serão necessários, pelo menos, mais dois ou três anos.