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O editor-executivo Arnaldo Lorençato é crítico de restaurantes há mais de 30 anos. De 1992 para cá, fez mais de 16 000 avaliações. Também comanda o Cozinha do Lorençato, um programa de entrevistas e receitas no YouTube. O jornalista é professor-doutor e leciona na Universidade Presbiteriana Mackenzie
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A recente produção de azeites em SP ganha até reconhecimento internacional

A elaboração, ainda tímida, está concentrada principalmente entre as serra da Mantiqueira e da Bocaina

Por Arnaldo Lorençato, Saulo Yassuda
22 jul 2022, 06h00
plantação
Sabiá: produção premiada em Santo Antônio do Pinhal (Willy Biondani/Divulgação)
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Quando se fala em azeite, a primeira lembrança que vem à cabeça é de produtores europeus, a maioria localizada às margens do Mar Mediterrâneo, em países como Espanha, Itália, Grécia e França, além de Portugal. E muitos brasileiros têm verdadeira paixão por óleo de oliva. “O Brasil é o segundo maior importador de azeites do mundo, atrás apenas dos EUA”, diz Ana Beloto, azeitóloga e autora do livro Azeite-se (Mentoria, 159 reais, 290 págs – clique aqui para comprar).

Quem confirma essa predileção é Patricia Galasini, presidente da Câmara Setorial de Olivicultura do Estado de São Paulo. “De acordo com dados do mercado, o Brasil importou cerca de 110 000 toneladas em 2020. No ano passado, houve pequena retração para aproximadamente 90 000 toneladas”, explica ela. “Esse consumo se concentra principalmente no Sul e Sudeste do país.”

Aos poucos, o Brasil vai mudando esse cenário com uma elaboração de azeites em vários estados. Ainda que o cultivo de oliveiras no interior de São Paulo não seja tão expressivo como em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, alguns dos óleos obtidos por produtores em solo paulista estão merecendo reconhecimento, inclusive internacional, pela excepcional qualidade — a safra deste ano de 82 produtores espalhados por 49 municípios, concentrados particularmente na região que se estende da Serra da Mantiqueira à Serra da Bocaina, conseguiu extrair 350 000 toneladas, o equivalente a 40 000 litros, nos registros da Câmara Setorial de Olivicultura do estado.

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Na Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama, o produtor de cafés Orfeu tem colheita e elaboração em olivais cultivados na Serra da Mantiqueira (Gustavo Morita/Estúdio Mió/Divulgação)

Desse universo, Sandro Marques, autor do Guia de Azeites do Brasil 2020 (Livrobits, 120 reais, 252 págs.- clique aqui para comprar) — a nova edição deve ser lançada em agosto —, destaca cinco produtores paulistas: Sabiá, Orfeu, Oliq, Pedacinho de Céu e Davo e aponta a superioridade dos dois primeiros. “São azeites extravirgens de altíssimo nível, extraídos com excelência e que têm como principais características o frescor e a complexidade de notas aromáticas”, define.

Não por acaso, o Sabiá, produzido em Santo Antônio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira, recebeu, em maio, a chancela da associação espanhola Evooleum Awards de ser um dos dez melhores do planeta e é o único representante fora da Europa. Um feito, já que a primeira safra foi elaborada em 2018. “Em nossa terceira safra comercial, a 2022, obtivemos 3 000 litros”, diz a jornalista Bia Pereira, dona da marca junto com o marido, o administrador e publicitário Bob Vieira da Costa.

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Também no cenário da Mantiqueira, são prensados comercialmente desde 2020 os azeites da Orfeu, na Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama. Os azeites são obtidos a partir da primeira prensagem a frio. “Todos os sólidos que sobram da extração viram adubo para as oliveiras”, explica a gerente de projetos de marketing Letícia Bittencourt.

Dois exemplares deste ano, um blend e o outro monovarietal da azeitona espanhola picual, receberam medalha de ouro no concurso italiano EVO IOOC. O picual foi destacado ainda como melhor azeite do Brasil. Na mesma sequência montanhosa, a quase 200 quilômetros dali, a Oliq produz azeites a uma altitude entre 1 200 e 1 800 metros acima do nível do mar, em São Bento do Sapucaí. Essa elevação ajuda a dar o friozinho que as 9 000 oliveiras próprias necessitam. “Aqui é mais úmido que o Mediterrâneo, mas tem sol abundante”, observa a sócia Vera Masagão Ribeiro.

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Orfeu; azeitonas da marca sendo higienizadas (Gustavo Morita/Estúdio Mió/Divulgação)

A fabricante conta que 85% do volume elaborado é vendido na própria fazenda, onde conta com infraestrutura de turismo. Também se beneficia da vinda de visitantes o Hotel e Vinícola Família Davo, que foge do circuito Mantiqueira-Bocaina. Fica em Ribeirão Branco, no sul do estado, não muito longe de Itapeva.

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No espaço, é vendido o azeite também premiado em concursos internacionais feito com arbequina, arbosana e koroneiki. “O nosso tem menos acidez que os da Mantiqueira”, acredita o proprietário José Afonso Davo. O principal inconveniente para uma produção tão diminuta é o preço, sempre elevado, ainda que se trate de um item premium. “Se a gente comparar com importados, os azeites nacionais possuem preço mais alto. Impactam também no preço a importação de maquinário e garrafas, tudo com custo em dólar ou euro”, explica Ana Beloto, que acredita que, com a ampliação da produção, o valor deva cair num futuro próximo.

Dona da Pedacinho de Céu, em Cunha, Andrea Samson faz questão de louvar o óleo local. “O azeite da Espanha, por exemplo, chega velho e rançoso, o nosso é outro tipo de produto, e por isso, mais caro”, opina a produtora, que elaborou 100 litros neste ano. “Essa safra já acabou. Vendi tudo.”

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Azeites: Sabiá, Orfeu, Oliq, Pedacinho de Céu e Davo (Divulgação/Divulgação)

SABIÁ. Produzido com as olivas espanholas arbequina e arbosana e a grega koroneiki, o Blend Mantiqueira foi reconhecido como um dos dez melhores do mundo pela associação espanhola Evooleum Awards. Preço médio: 100 reais (250 mililitros).

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ORFEU. Monovarietal da espanhola picual, recebeu medalha de ouro no concurso italiano EVO IOOC e foi destacado como o melhor exemplar brasileiro da competição. Preço médio: 249 reais (350 mililitros).

OLIQ. A marca de São Bento do Sapucaí tem opções como o arbequina, feito apenas com essa azeitona espanhola, e o Seleção (foto), um blend de diferentes variedades que conquistou medalha de ouro no concurso Brazil IOOC em 2020. Preço médio: 63 reais (250 mililitros).

PEDACINHO DE CÉU. Em Cunha, a pequena produtora fabrica apenas * monovarietais, como o de arbequina. A venda, por enquanto, se restringe a armazéns da região. Preço médio: 100 reais (250 mililitros).

DAVO. Na região de Ribeirão Branco, é elaborado o azeite que combina três variedades de oliva e que levou uma medalha de ouro em 2021 no concurso EVO IOOC. Preço médio: 150 reais (250 mililitros).

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