A recente produção de azeites em SP ganha até reconhecimento internacional
A elaboração, ainda tímida, está concentrada principalmente entre as serra da Mantiqueira e da Bocaina
Quando se fala em azeite, a primeira lembrança que vem à cabeça é de produtores europeus, a maioria localizada às margens do Mar Mediterrâneo, em países como Espanha, Itália, Grécia e França, além de Portugal. E muitos brasileiros têm verdadeira paixão por óleo de oliva. “O Brasil é o segundo maior importador de azeites do mundo, atrás apenas dos EUA”, diz Ana Beloto, azeitóloga e autora do livro Azeite-se (Mentoria, 159 reais, 290 págs – clique aqui para comprar).
Quem confirma essa predileção é Patricia Galasini, presidente da Câmara Setorial de Olivicultura do Estado de São Paulo. “De acordo com dados do mercado, o Brasil importou cerca de 110 000 toneladas em 2020. No ano passado, houve pequena retração para aproximadamente 90 000 toneladas”, explica ela. “Esse consumo se concentra principalmente no Sul e Sudeste do país.”
Aos poucos, o Brasil vai mudando esse cenário com uma elaboração de azeites em vários estados. Ainda que o cultivo de oliveiras no interior de São Paulo não seja tão expressivo como em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul, alguns dos óleos obtidos por produtores em solo paulista estão merecendo reconhecimento, inclusive internacional, pela excepcional qualidade — a safra deste ano de 82 produtores espalhados por 49 municípios, concentrados particularmente na região que se estende da Serra da Mantiqueira à Serra da Bocaina, conseguiu extrair 350 000 toneladas, o equivalente a 40 000 litros, nos registros da Câmara Setorial de Olivicultura do estado.
Desse universo, Sandro Marques, autor do Guia de Azeites do Brasil 2020 (Livrobits, 120 reais, 252 págs.- clique aqui para comprar) — a nova edição deve ser lançada em agosto —, destaca cinco produtores paulistas: Sabiá, Orfeu, Oliq, Pedacinho de Céu e Davo e aponta a superioridade dos dois primeiros. “São azeites extravirgens de altíssimo nível, extraídos com excelência e que têm como principais características o frescor e a complexidade de notas aromáticas”, define.
Não por acaso, o Sabiá, produzido em Santo Antônio do Pinhal, na Serra da Mantiqueira, recebeu, em maio, a chancela da associação espanhola Evooleum Awards de ser um dos dez melhores do planeta e é o único representante fora da Europa. Um feito, já que a primeira safra foi elaborada em 2018. “Em nossa terceira safra comercial, a 2022, obtivemos 3 000 litros”, diz a jornalista Bia Pereira, dona da marca junto com o marido, o administrador e publicitário Bob Vieira da Costa.
Também no cenário da Mantiqueira, são prensados comercialmente desde 2020 os azeites da Orfeu, na Fazenda Rainha, em São Sebastião da Grama. Os azeites são obtidos a partir da primeira prensagem a frio. “Todos os sólidos que sobram da extração viram adubo para as oliveiras”, explica a gerente de projetos de marketing Letícia Bittencourt.
Dois exemplares deste ano, um blend e o outro monovarietal da azeitona espanhola picual, receberam medalha de ouro no concurso italiano EVO IOOC. O picual foi destacado ainda como melhor azeite do Brasil. Na mesma sequência montanhosa, a quase 200 quilômetros dali, a Oliq produz azeites a uma altitude entre 1 200 e 1 800 metros acima do nível do mar, em São Bento do Sapucaí. Essa elevação ajuda a dar o friozinho que as 9 000 oliveiras próprias necessitam. “Aqui é mais úmido que o Mediterrâneo, mas tem sol abundante”, observa a sócia Vera Masagão Ribeiro.
A fabricante conta que 85% do volume elaborado é vendido na própria fazenda, onde conta com infraestrutura de turismo. Também se beneficia da vinda de visitantes o Hotel e Vinícola Família Davo, que foge do circuito Mantiqueira-Bocaina. Fica em Ribeirão Branco, no sul do estado, não muito longe de Itapeva.
No espaço, é vendido o azeite também premiado em concursos internacionais feito com arbequina, arbosana e koroneiki. “O nosso tem menos acidez que os da Mantiqueira”, acredita o proprietário José Afonso Davo. O principal inconveniente para uma produção tão diminuta é o preço, sempre elevado, ainda que se trate de um item premium. “Se a gente comparar com importados, os azeites nacionais possuem preço mais alto. Impactam também no preço a importação de maquinário e garrafas, tudo com custo em dólar ou euro”, explica Ana Beloto, que acredita que, com a ampliação da produção, o valor deva cair num futuro próximo.
Dona da Pedacinho de Céu, em Cunha, Andrea Samson faz questão de louvar o óleo local. “O azeite da Espanha, por exemplo, chega velho e rançoso, o nosso é outro tipo de produto, e por isso, mais caro”, opina a produtora, que elaborou 100 litros neste ano. “Essa safra já acabou. Vendi tudo.”
SABIÁ. Produzido com as olivas espanholas arbequina e arbosana e a grega koroneiki, o Blend Mantiqueira foi reconhecido como um dos dez melhores do mundo pela associação espanhola Evooleum Awards. Preço médio: 100 reais (250 mililitros).
ORFEU. Monovarietal da espanhola picual, recebeu medalha de ouro no concurso italiano EVO IOOC e foi destacado como o melhor exemplar brasileiro da competição. Preço médio: 249 reais (350 mililitros).
OLIQ. A marca de São Bento do Sapucaí tem opções como o arbequina, feito apenas com essa azeitona espanhola, e o Seleção (foto), um blend de diferentes variedades que conquistou medalha de ouro no concurso Brazil IOOC em 2020. Preço médio: 63 reais (250 mililitros).
PEDACINHO DE CÉU. Em Cunha, a pequena produtora fabrica apenas * monovarietais, como o de arbequina. A venda, por enquanto, se restringe a armazéns da região. Preço médio: 100 reais (250 mililitros).
DAVO. Na região de Ribeirão Branco, é elaborado o azeite que combina três variedades de oliva e que levou uma medalha de ouro em 2021 no concurso EVO IOOC. Preço médio: 150 reais (250 mililitros).
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