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Veja São Paulo entrevista Gilberto Kassab

Kassab fala de seus planos para um eventual segundo mandato e explica como a campanha eleitoral servirá para tornar seu rosto mais familiar

Por Alessandro Duarte e Alvaro Leme
Atualizado em 5 dez 2016, 19h28 - Publicado em 18 set 2009, 20h30

Veja São Paulo – Por que o senhor quer continuar sendo prefeito?

Kassab – Como qualquer ser humano, quero ver meus projetos concluídos. Não tenho pretensão de resolver todos os problemas de São Paulo em oito anos, mas poderemos alcançar nossas principais metas.

Veja São Paulo – Qual é o principal problema da cidade hoje e como pretende enfrentá-lo?

Kassab – São dois: ensino e saúde. Tivemos avanços notáveis, mas nossa missão não está concluída. Até o fim da gestão, construiremos 217 escolas. Com isso poderemos implantar aulas em período integral. Construímos 110 AMAs (unidades de Assistência Médica Ambulatorial) e dois hospitais. Em ambas as áreas, criamos um plano de cargos e salários para resgatar a valorização do servidor. Nosso objetivo é que a classe mais desfavorecida tenha acesso às mesmas condições que a classe alta.

Veja São Paulo – O trânsito tem estrangulado a cidade. Na sua gestão, o problema se agravou. O senhor anunciou várias medidas, nem todas foram colocadas em prática e os resultados ainda não apareceram. Quais são as soluções?

Kassab – Pela primeira vez em trinta anos, São Paulo tem um plano diretor de transportes com medidas de curto, médio e longo prazo. Iniciamos uma ação em vias importantes para o trânsito, como a Rua Bela Cintra, de proibir o estacionamento em um dos lados da rua. Apresentamos dezenove pequenas obras que têm impacto na vida de 100 000 paulistanos aqui, 50 000 ali e mais 30 000 em outro trecho da cidade. Criamos corredores de ônibus virtuais nas zonas Sul, Leste e Oeste. Estamos recuperando a CET, que pegamos sucateada. Investimos em semáforos, monitoramento com câmeras e fiscalização eletrônica por meio de chips. É preciso tecnologia para monitorar uma metrópole com 6 milhões de carros. Recapeamos 900 quilômetros lineares de ruas. Isso é mais que as últimas quatro gestões juntas.

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Veja São Paulo – Mas os índices de congestionamento nunca foram tão altos quanto em sua gestão. Qual é sua parcela de responsabilidade?

Kassab – Nenhuma. É resultado das más gestões anteriores. Acabei de colocar 75 milhões de reais no projeto da linha de metrô da Freguesia do Ó e 200 milhões de reais na de Santo Amaro. Essas obras não ficarão prontas na minha administração. Se, como eu, cada um dos sete ou oito últimos prefeitos tivesse investido 1 bilhão de reais no metrô, hoje haveria mais 60 quilômetros de trilhos. Por que não o fizeram? Porque as realizações não aconteceriam na gestão deles. Vamos falar com clareza, a verdade é essa.

Veja São Paulo – O senhor se compromete a não aumentar impostos como o IPTU ou criar novas taxas?

Kassab – Não só me comprometo. Quero registrar que minha administração foi a única a diminuir impostos no Brasil. Eliminamos, por exemplo, a taxa do lixo, que arrecadaria mais de 300 milhões de reais por ano.

Veja São Paulo – Caso seja eleito, o senhor se compromete a cumprir o mandato até o final?

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Kassab – Com certeza.

Veja São Paulo – Por que o senhor acha que tem melhores condições de administrar São Paulo do que a ex-prefeita Marta Suplicy e o ex-governador Geraldo Alckmin?

Kassab – Prefiro falar da boa administração que fazemos e de seus resultados.

Veja São Paulo – Mas o senhor se julga mais capacitado que eles?

Kassab – Seria muita pretensão eu me achar mais capacitado que qualquer pessoa. Cada um deve mostrar suas realizações. Quem compara e avalia é a população.

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Veja São Paulo – Que projeto ou obra seria a marca de um novo governo seu?

Kassab – Tenho certeza absoluta de que as pessoas se lembrarão das condições em que vamos deixar nossos sistemas de educação e saúde.

Veja São Paulo – O que o senhor se arrepende de não ter feito?

Kassab – A palavra não é arrependimento, mas frustração. Por não conseguir realizar algumas coisas devido a limitações de orçamento ou de tempo. Mas as pesquisas mostram a população satisfeita com a administração.

Veja São Paulo – Elas também mostram um índice de rejeição de 27% ao senhor.

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Kassab – São duas coisas distintas. Uma é a pessoa, o prefeito que nunca disputou cargo público. A população não me conhece o suficiente ainda. Outra é a gestão, que tem avaliação positiva.

Veja São Paulo – O senhor considera que ainda é pouco conhecido pelos paulistanos?

Kassab – Não de modo compatível com meu cargo. Nunca fui candidato a prefeito. Todos sabem que substituí nosso querido ex-prefeito, hoje governador, José Serra. Mas não me sinto diminuído pelo fato de muitos paulistanos não me conhecerem. Importante é fazer uma boa administração, para, no momento certo, as pessoas saberem quem é o Kassab.

Veja São Paulo – Em sua opinião, qual seria o motivo da rejeição ao senhor?

Kassab – Acredito que ela seja vinculada ao cargo de prefeito. Talvez algum atendimento que não tenha sido realizado. Também deve haver quem não goste do meu perfil, mas tenho humildade para entender e aceitar isso.

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Veja São Paulo – Ainda vê possibilidade de manutenção da aliança PSDB-DEM na cidade?

Kassab – Todo o nosso esforço tem sido nesse sentido. Enquanto existirem lideranças trabalhando numa aliança, haverá esperança. Temos até o fim do mês para definir.

Veja São Paulo – Em fevereiro deste ano, o senhor afirmou que a Cracolândia não existia mais. Horas após sua declaração, os jornais paulistanos mostraram que o consumo de drogas na região continua explícito. Fotografaram dezenas de pessoas se drogando ali. Como explicaria isso?

Kassab – Existe um processo de reurbanização da área que está indo muito bem. Quando falo que não existe a velha Cracolândia, é porque não existe mesmo. Mudou já. Estamos caminhando para o projeto Nova Luz. Não quer dizer que esteja concluído, mas que comparativamente a região é outra.

Veja São Paulo – Mas ainda há consumo de drogas nas ruas da região.

Kassab – Foi uma interpretação forçada, quando falei que a Cracolândia não existia mais, acharem que estava uma maravilha. Estamos vivendo uma transição. Estou muito otimista em relação à futura Nova Luz.

Veja São Paulo – Quando a Nova Luz será realidade?

Kassab – É muito difícil, na vida pública, falar em prazo. Tem de se falar em metas, pois as ações dependem de outras esferas de poder sobre as quais não temos controle. A questão da desapropriação de imóveis, por exemplo.

Veja São Paulo – Qual é a meta, então, para que o nome Cracolândia não faça mais sentido?

Kassab – Muito possivelmente já em março do ano que vem teremos canteiros de obras com investimentos acontecendo em algumas regiões da Nova Luz.

Veja São Paulo – No fim de 2007, o senhor perdeu 14 quilos. Tomou remédios?

Kassab – Não, foi zíper na boca. Reduzi bastante as refeições à noite. Cheguei a 86 quilos, mas acho que engordei de novo uns 4 quilos.

Veja São Paulo – Qual é seu peso atual?

Kassab – 94 quilos.

Veja São Paulo – Então o senhor engordou 8 quilos, e não 4…

Kassab – Quatro é uma média. Ganho e perco peso com facilidade.

Veja São Paulo – O senhor é bom garfo?

Kassab – Sou. Gosto de doce, massa. De tudo.

Veja São Paulo – O senhor cozinha?

Kassab – Não.

Veja São Paulo – Pratica alguma atividade física?

Kassab – Sempre fiz muito esporte, mas não tem sobrado tempo. Atualmente faço esteira. Vinte minutos, de duas a três vezes por semana.

Veja São Paulo – Dois episódios em 2007 mostraram uma faceta diferente sua. Primeiro enfrentou manifestantes gritando efusivamente o nome da cidade. Depois expulsou de uma unidade de saúde, aos berros, um homem que protestava contra o projeto Cidade Limpa. Foram explosões ou o senhor estava tentando criar uma imagem?

Kassab – Não houve nenhuma tentativa nesse sentido. Na primeira situação, era aniversário da cidade. Eu e um grupo que me acompanhava gritamos o nome de São Paulo perto de alguns manifestantes. No segundo episódio, sim, eu me exaltei. Fiquei indignado ao ver gente fazendo protesto dentro de uma área de saúde, perto dos doentes. Errei, pedi desculpas e aprendi que preciso ser ainda mais calmo.

Veja São Paulo – Qual é a melhor coisa de ser prefeito de São Paulo?

Kassab – Concluir um projeto, especialmente social.

Veja São Paulo – E a pior?

Kassab – A frustração de não resolver um problema.

Veja São Paulo – Qual foi o melhor prefeito que São Paulo já teve?

Kassab – Prestes Maia, Faria Lima e Olavo Setubal. Quem foi um extraordinário prefeito com pouquíssimo tempo foi o Serra. Eu não poderia deixar de dividir com ele esse bom momento que vive a cidade hoje.

Veja São Paulo – Quem foi o pior?

Kassab – Os que não mencionei entre os melhores.

Veja São Paulo – Um dos que o senhor não citou foi o Mario Covas.

Kassab – Ele também foi um grande prefeito, que fez uma série de avanços. Estou sendo sincero. Todos sabem de minha admiração por ele.

Veja São Paulo – O que São Paulo tem de melhor?

Kassab – Sua gente.

Veja São Paulo – E o que tem de pior?

Kassab – Por ser uma das maiores cidades do mundo, uma série de circunstâncias muito tristes. Imagine a situação de uma família que não consegue educar seu filho.

Veja São Paulo – Que programa o faz sair de casa empolgado?

Kassab – Almoçar com minha família aos domingos. Com meu pai, meus irmãos e sobrinhos. Sempre que pode, a gente sai. Outro dia fui assistir à peça da Bibi Ferreira (a comédia Às Favas com os Escrúpulos) e a uma outra com Paulo Goulart e Nicette Bruno (também comédia, O Homem Inesperado).

Veja São Paulo – Qual foi o último filme que viu no cinema?

Kassab – Tropa de Elite, um outro com Rodrigo Santoro que mostra bastante São Paulo (Não por Acaso, de Philippe Barcinski) e o estrelado pela Bruna Lombardi, O Signo da Cidade. Mas fui como prefeito. Quase sempre meus programas são vinculados à agenda oficial.

Veja São Paulo – O que está lendo?

Kassab – Comecei a ler 1808, do Laurentino Gomes, há uns três meses. Ainda não consegui passar da página 30, porque minhas leituras costumam ser relacionadas a temas públicos. Mas está lá, na cabeceira.

Veja São Paulo – O senhor já afirmou outras vezes que gostaria de constituir família. Como prefeito, não sobra tempo para namorar?

Kassab – Hoje não. Não é algo que seja objetivo de vida, mas reafirmo aqui que gostaria.

Veja São Paulo – Não é muito comum um homem público de sua idade ser solteiro. Existe alguma cobrança sobre o senhor nesse sentido?

Kassab – Não.

Veja São Paulo – O senhor não se sente sozinho de vez em quando?

Kassab – Tenho muitos amigos, sou próximo da família. Não sou nem um pouco isolado.

Veja São Paulo – Quem são seus melhores amigos?

Kassab – Não tenho melhores amigos. Tenho muitos bons amigos.

Veja São Paulo – Onde o senhor faz suas roupas?

Kassab – Com o seu Antônio, um alfaiate de São Bernardo do Campo que fazia roupas para o meu pai. Tenho de ter o armário de gordo e o de magro. Às vezes aposento algumas peças, que acabo pegando de novo depois.

Veja São Paulo – Qual é sua maior qualidade?

Kassab – Persistência, determinação e perfeccionismo.

Veja São Paulo – E seus maiores defeitos?

Kassab – É difícil achar defeito para a gente, não?

Veja São Paulo – Continua vendo jogos ao vivo de seu time, o São Paulo?

Kassab – Às vezes vou, no domingo, com algum sobrinho. O último jogo, na verdade, não foi do São Paulo, mas sim Corinthians e CRB, na reinauguração do Pacaembu, há um mês.

Veja São Paulo – Seus cabelos estão escuros. Costuma pintá-los?

Kassab – Não pinto. Uso um xampu tonalizante.

Veja São Paulo – Que tipo de imagem o senhor acha que tem hoje?

Kassab – A de um jovem. Por ocupar esse cargo aos 47 anos.

Veja São Paulo – O senhor acha que vai ter alguma crise de meia-idade?

Kassab – Não mesmo. Eu me sinto muito jovem.

Veja São Paulo – É religioso?

Kassab – Sou católico, mas não praticante.

Veja São Paulo – O senhor reza antes de dormir?

Kassab – Não.

Veja São Paulo – Quanto o senhor ganha como prefeito?

Kassab – Aproximadamente 6?000 reais, líquidos.

Veja São Paulo – O senhor, evidentemente, tem gastos maiores que isso. De onde vêm seus rendimentos?

Kassab – Tenho minhas empresas, na área de construção civil e transportes. Estou afastado de sua administração e hoje elas são totalmente terceirizadas, sem vínculos com nenhuma área pública.

Veja São Paulo – Quanto o senhor paga de IPTU pelo apartamento em que mora, atrás do Shopping Iguatemi?

Kassab – Não saberia dizer agora. Mas vou levantar e passar a informação para vocês. (Mais tarde, sua assessoria informou que ele pagou neste ano 9 900 reais.)

Na semana passada, a Editora Abril, que publica Veja São Paulo, recebeu uma notificação da Justiça Eleitoral. O Ministério Público considerou a entrevista com a ex-ministra Marta Suplicy, pré-candidata à prefeitura, capa da edição de 11 de junho, propaganda eleitoral antecipada. Em defesa apresentada pelos advogados Lourival J. Santos e Alexandre Fidalgo, Veja São Paulo argumenta que a reportagem é material jornalístico, portanto de interesse público, e não viola a legislação eleitoral em vigor. O objetivo da revista é dar aos leitores informações relevantes sobre quem pretende governar, voltar a governar ou continuar a governar a cidade, ajudando assim cada um a decidir seu voto.

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