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Prefeitura vai tirar os paralelepípedos portugueses do centro

As tradicionais pedras serão substituídas por placas de concreto semelhantes às da Avenida Paulista

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 24 nov 2017, 06h00 - Publicado em 24 nov 2017, 06h00

Herança da colonização lusitana no Brasil, as tradicionais pedras portuguesas cobrem parte do piso do centro de São Paulo desde o século XIX. O material ganhou mais força em nossa paisagem no fim dos anos 70, quando o então prefeito Olavo Setúbal o escolheu para cobrir os calçadões nas redondezas da Praça do Patriarca. Pois esse visual tão familiar vai mudar radicalmente no ano que vem.

Em janeiro, a prefeitura começará a trocar o pavimento dos passeios de 36 ruas, na área compreendida entre a Praça da República, o Largo São Bento, o Pátio do Colégio e o Vale do Anhangabaú. Serão instaladas nesses locais placas de concreto mais modernas, semelhantes às da Avenida Paulista.

O novo modelo ganhou fama no mercado por ser de fácil conservação. No caso, por exemplo, de reparos em canos subterrâneos — água, esgoto e até cabos de telefonia —, é possível tapar o buraco em menos de 24 horas. Quando o chão é coberto pelo material mais antigo, o trabalho manual pode demorar dias.

Outro ponto que se levou em conta para a sua adoção foi a característica antiderrapante. “Estima-se que ocorram 5 400 quedas naquela região por ano”, diz o secretário das Prefeituras Regionais, Cláudio Carvalho, responsável pelo projeto. “A intenção é reduzir esse quadro.” Há ainda o custo menor de implantação. No caso do concreto, o metro quadrado sai em torno de 170 reais, 20% menos que o da pedra portuguesa. A reforma toda deverá custar 10,2 milhões de reais.

Área do projeto: troca de paralelepípedos portugueses (Arte/Veja SP)

Como virou marca registrada da atual gestão, doações da iniciativa privada deverão viabilizar a proposta. A própria empresa interessada em adotar o espaço será a responsável pela contratação do serviço. À prefeitura caberá apenas a tarefa de fiscalizar o andamento e o resultado do negócio. Os primeiros contratos devem ser fechados nos próximos dias. “Várias instituições que atuam naquela região se interessaram”, diz o prefeito João Doria. “A contrapartida será o benefício de ter um piso em perfeito estado em frente a seu estabelecimento.”

A mudança será realizada em três etapas. Começa em 2 de janeiro, em quatro quarteirões vizinhos à Praça Antônio Prado. Essa área, de 11 000 metros quadrados, deverá ser entregue até a festa de aniversário da cidade, no dia 25 de janeiro. A segunda fase, em um perímetro entre as ruas Líbero Badaró e Boa Vista, está prevista para ser finalizada até dezembro de 2018. A última, entre a Avenida Ipiranga e o Teatro Municipal, terminará em 2019.

O entorno de pontos tradicionais — como a Catedral da Sé, o Viaduto do Chá, o Vale do Anhangabaú e a Praça da República — não sofrerá intervenções. As calçadas de outros seis prédios tombados, no entanto, foram incluídas no projeto de reforma. São os casos, por exemplo, da Biblioteca Mario de Andrade e da Igreja Santo Antônio.

Para permitir a modificação, o projeto deverá seguir nesta semana para aprovação dos conselhos municipal (Conpresp) e estadual (Condephaat) de patrimônio histórico. Nesses pontos, a intenção é repetir o modelo adotado no também tombado Conjunto Nacional, na Avenida Paulista: a entrada do prédio mantém-se com as pedras portuguesas e o trecho próximo ao meio-fio recebe as placas de concreto. “O plano será certamente aprovado até o fim do ano”, prevê a diretora do Departamento do Patrimônio Histórico, Mariana Rolim.

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Avenida Paulista: calçada acessível será modelo para o centro da cidade (Ricardo D'angelo/Veja SP)

Ações semelhantes ocorreram em outras cidades. Em outubro, a prefeitura carioca anunciou um plano para reforçar as calçadas de várias regiões. Em péssimo estado de conservação, as pedras portuguesas serão retiradas de locais como a Praça Serzedelo Correa, em Copacabana. Em Lisboa, em 2015, um plebiscito popular decidiu-se pela troca das tradicionais pedras pelo piso de concreto no bairro do Campolide.

Há quem não concorde com a mudança. “Quando bem aplicadas, as pedras portuguesas duram bastante”, afirma a arquiteta Rosa Kliass, responsável pela implantação do material na Avenida Paulista nos anos 70 — trocado por concreto em 2007. “Aqui no Brasil, os governos não se preocupam em planejar nem preservar a cultura”, acredita Marcos de Sousa, diretor do instituto Mobilize Brasil, sobre mobilidade urbana.

A maioria das pessoas, no entanto, adota uma postura mais pragmática. “Andar sobre aquelas pedras mal colocadas é um desastre”, diz o presidente da Associação Brasileira de Pedestres em São Paulo, José Ignácio de Almeida.

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