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Três aninhos

Por Ivan Angelo
Atualizado em 5 dez 2016, 17h49 - Publicado em 27 ago 2011, 00h50

Helena chega aos 3 anos. Parece pouco, parece que não foi nada, mas aquela pessoinha ali, de bico armado para soprar as velas do bolo, já assimilou informações e conceitos e desenvolveu capacidades em volume maior do que um adulto faria em vinte anos.

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Uma criança nasce e já começa a aprender. Choro faz vir o peito, peito é bom. Instinto? Sugar, sim, é instinto, mas chamar o peito já é elaboração. Ela olha, olha em volta e aprende; no começo, ela e o mundo são uma coisa só. Agora olha a mão — que se passa naquela cabecinha quando tantas vezes ela olha a própria mão? Ela aprende. A separar de si os objetos, os brinquedos, o berço, os bonecos, as pessoas; constrói a noção de corpo, seu corpo. Isso não é pouca coisa.

Virar-se no berço. Que quantidade de músculos e cálculos e experimentações e coordenações inaugurais foi necessária para isso? Levantar-se no berço, outra façanha. Arrastar-se, engatinhar, avançar em um espaço, chegar a alguma coisa que está além, já significa ter entendido o que é a distância. São operações complicadas para quem não tinha essa noção e teve de construí-la por si.

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Brilhantemente aprende relações entre os objetos. Atrás da cadeira tem a mesa. Dentro do caixote tem brinquedos. Enriquece-se com noções de sobre, fora, em cima, dentro, ao lado, diante, tirar, pôr, jogar. Constrói o entendimento de que os objetos ficam no lugar, as pessoas não ficam, vão embora. Confia na permanência dos objetos, desconfia das pessoas. A ausência destas a angustia, ela chora, terá de aprender que elas voltam, e isso é mais complicação.

Levantar-se, equilibrar-se e andar são dificuldades que a aventura encoraja, mas que põem em ação um sem-número de processos musculares, nervosos e emocionais, como seria para um adulto andar na corda bamba, e ainda exigem da pessoinha observação e imitação para se inserir no mundo dos caminhantes.

Falar! Milhares de operações mentais de ouvir, assimilar conceitos, relacionar, compreender, articular músculos, compatibilizar sons, imitar tons até conseguir emitir uma palavra, primeiro milagre que a leva à conquista da linguagem verbal.

Ela constrói a sua memória, operação fabulosa! Desde o nascimento, Helena e seus milhões de iguais empregam sua percepção para armazenar conceitos e eventos, e criam um banco de dados que é de cada um e só de cada um. Aí ela busca conhecimento para fazer associações, se inserir. Memoriza palavras, canções, histórias, fatos. “O cachorro mordeu mamãe”, ela pode contar, socializar-se; e pode cantar, fazer parte de, encantar. Seu repertório a ajuda a seduzir.

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Aos 2 anos, a criança compreende de 200 a 300 palavras. Aos 3, mais de mil. A aquisição de comportamentos é rápida e não para. Ela assimila uma novidade, vê se se acomoda bem a ela, guarda-a para uso futuro e vai buscar mais. É como um pássaro que constrói um ninho, acomodando-se aos gravetos que traz, tornando-os úteis e confortáveis.

Vive a mágica do pensamento, e inventar histórias vividas por objetos sem vida também exige repertório e criatividade. Joga a boneca no chão, é sua filha, xinga-a, bota-a no castigo — ah, está brigada com a mãe. Imita. Lá vem a empregada arrastando a perna, dor no joelho, mão nas cadeiras — e ela atrás, arremedando. Observa a professora grávida na escolinha, trabalham isso na classe, e ela anuncia para todo mundo: “Tem um neném na minha barriga”. O real e o fantástico se misturam, e separá-los será uma das suas tarefas para os próximos anos.

Aprender o que pode e o que não pode é penoso trabalho, e ela se rebela. Também, se não se rebelasse, que pessoa seria? Passiva seguidora? Se não brigasse, enfrentasse, criasse, como poderia, no futuro, anunciar auroras?

 

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