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Obras da Arena Corinthians devem atrasar pelo menos um mês

Acidente com guindaste matou dois operários no estádio que está sendo construído em Itaquera

Por Juliana Deodoro
Atualizado em 1 jun 2017, 17h29 - Publicado em 29 nov 2013, 17h35
show ivente sangalo itaquerao
show ivente sangalo itaquerao (Mauro Horte / Agência Corinthians/)
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A construção da Arena Corinthians, o popular Itaquerão, pode ser comparada à montagem de um Lego gigante. Quase 20 000 peças pré-moldadas recebem preparação no solo antes de ser encaixadas em vários pontos da estrutura. Uma das fases mais delicadas envolve o acabamento da cobertura, devido à altura (mais de 40 metros) e ao peso dos módulos metálicos, que variam de 200 a 420 toneladas. A operação é feita com a ajuda de um super guindaste alemão com capacidade para erguer 1 500 toneladas. No último sábado (23), os operários participaram de um churrasco no canteiro de obras para comemorar a conclusão dessa etapa. A festa ocorreu mesmo com a postergação do içamento da última das 38 unidades do conjunto devido às chuvas que castigaram a capital na semana passada. Apesar do contratempo,a organização do evento achou melhor manter a reunião para não frustrar os convidados e prometeu um segundo evento do tipo assim que essa fase dos esforços fosse de fato concluída na Zona Leste. Havia motivos para otimismo, pois nenhum acidente tinha sido  registrado por ali desde 2011, quando o campo começou a tomar forma.

Por volta das 12h50 da quarta (27), quando a peça de número 38 estava sendo erguida para o topo do conjunto, ocorreu o inesperado. Responsável pelo comando do guindaste, o operador José Walter Joaquim notou algo de errado com a máquina e deixou sua cabine.“Desci, olhei para cima, vi que estava caindo e saí correndo para o outro lado”, lembra. Um dia depois, ele ainda se encontrava bastante abalado. “Fiquei transtornado e estou tomando remédio para controlar minha pressão”, contou. A peça de 420 toneladas despencou, junto com a haste de 114 metros do equipamento. O motorista Fábio Luiz Pereira, que estava dentro de um caminhão estacionado nas redondezas, morreu esmagado. O mesmo aconteceu com o montador Ronaldo Oliveira dos Santos. Como era hora do almoço, ele estava descansando dentro do túnel do setor atingido. No momento do problema, cerca de 1 500 operários encontravam-se no local, assim como Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, que virou uma espécie de embaixador informal do Itaquerão. Responsáveis pela obra que será o palco da abertura da Copa do Mundo de 2014, a construtora Odebrecht e o clube decretaram luto e a paralisação dos trabalhos até segunda (2). A área afetada foi interditada para perícia da Polícia Civil, sem prazo para liberação.

 

Até quinta passada (28), não havia certeza sobre o que teria provocado a tragédia. Com base em depoimentos de testemunhas, levantou-se inicialmente a hipótese de que um desnivelamento do terreno poderia ter desequilibrado a máquina. Alguns dos engenheiros envolvidos no projeto, no entanto, descartam essa possibilidade. “É como ocorre na queda de um avião, vários fatores precisam ser checados para explicar o ocorrido”, afirma um desses profissionais. O funcionamento do guindaste será um dos primeiros pontos averiguados. Dois técnicos do fabricante,a Liebherr, embarcaram da Alemanha para São Paulo na quinta para verificar a máquina. Sua chegada à capital estava prevista para sexta. O trabalho de um equipamento do tipo é altamente complexo e exige uma espécie de plano de voo antes do início, com detalhamento da rota a ser seguida e cálculos para a colocação de contra pesos que garantam a estabilidade do veículo, entre outras coisas. Qualquer erro nesse planejamento pode gerar problemas graves. Por isso, também não se descarta a hipótese de falha humana.

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Apesar da cena impressionante do estrago na fachada do estádio, os prejuízos materiais não pareciam impressionar muito os especialistas do canteiro de obras na semana passada. Um dos motivos é que o setor atingido representa apenas 3% da área construída. A queda da peça causou mais danos a um dos maiores xodós do projeto, o telão de LED com 170 metros de largura e 20 de altura. Cerca de 10% dele foi afetado. Mas isso não é considerado um grande problema. A preocupação maior é com possíveis danos estruturais à obra, algo ainda descartado em análises preliminares.“Só vamos fazer um estudo mais detalhado após a liberação do setor interditado”, afirma Antonio Gavioli, diretor de contrato da Odebrecht.

andres shanchez
andres shanchez ()

O incidente aconteceu no momento em que mais de 90% dos trabalhos estavam concluídos em Itaquera. Em setembro, mês de aniversário do Corinthians,realizou-se na arena uma festa com show de Ivete Sangalo. O término de tudo deveria ocorrer em dezembro. Para os primeiros dois meses de 2014 estavam previstos ajustes finais para preparar o estádio para os três eventos teste exigidos pela Fifa antes da Copa. Com a tragédia da semana passada, as obras devem atrasar, no mínimo, um mês. Isso não deve interferir na assinatura de um contrato de empréstimo do BNDES de 400 milhões de reais ao Corinthians, quase metade do valor estimado do projeto. A expectativa é que o negócio seja resolvido nos próximos dias. Para os envolvidos na construção, mais do que nunca, entregar tudo a tempo do ponta pé inicial do Mundial é uma questão de honra. Na próxima segunda, por volta das 7h20, seguindo a rotina dos últimos meses, os operários serão reunidos antes dos trabalhos para a distribuição das tarefas e avisos para reforçar cuidados com a segurança. O encontro sempre termina com todos rezando para que o dia termine sem ninguém machucado.

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