Tomás Covas diz que sonha com o pai: “Só não é bom quando o sonho é no hospital”
Filho de Bruno Covas relata choros, saudades e decisão de quando poderá iniciar a carreira política
Acostumado a acompanhar o pai desde os tempos do bebê conforto no carro, Tomás Covas, 16, tinha apenas 1 ano de idade quando Bruno Covas foi eleito deputado estadual pela primeira vez, em 2006. Nas campanhas seguintes, lá ia ele atrás de Bruno nas infindáveis viagens pelo interior. Entre pedidos de votos, cafés com pão com manteiga na padaria e reuniões na igreja matriz de cada município paulista, o menino trocava as brincadeiras pelos comícios, chão de estrada e estadas em hotéis de beira de rodovias.
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“Na campanha de 2014 (Bruno foi eleito deputado federal com 352 000 votos), eu percorri com ele mais de 500 cidades”, lembra Tomás, que frequentou também os corredores e gabinetes em Brasília. Atualmente morando nos Estados Unidos para estudar um semestre do segundo ano do ensino médio em uma escola de Long Island, no estado de Nova York, Tomás já tem planos para quando retornar de vez para São Paulo, em julho. “Vou percorrer o estado pela juventude tucana.”
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A ideia de rodar São Paulo não é uma simples coincidência com o passado das campanhas do pai. Um ano depois da morte do então prefeito, aos 41 anos, ocorrida em 16 de maio após longo tratamento contra um câncer no trato digestivo, Tomás Covas carrega tudo o que pode do pai. Do jeito de falar às ideias, passando pelos relógios, o tênis, as gravatas, as pulseiras, o número do celular e a foto dos dois no perfil do WhatsApp (ao saltar de paraquedas, em 2020), o adolescente vai seguir mais um caminho hereditário: a política. “Para 2024 está inviável. Penso em me candidatar a partir de 2026, 2028, mas quero ter uma boa preparação antes, pretendo estudar direito. Não quero ser apenas o filho do Bruno Covas. Não me sinto obrigado nem pressionado. Meu pai nunca conversou sobre isso comigo. Nunca foi assunto. Mas eu gosto de política”, diz o adolescente, que passou duas semanas no Brasil devido às férias escolares nos Estados Unidos e recebeu a reportagem de Vejinha no dia 20 de abril na casa em que voltou a viver com a mãe, Karen Ishiba, após o falecimento do pai.
Ao contrário de muitos adolescentes de sua idade, que trocariam várias atividades públicas por um bom momento de ócio e videogame, Tomás cumpriu por aqui quinze dias de agendas. De visitas ao novo governador, Rodrigo Garcia (PSDB), e ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), se encontrou com antigos amigos e aliados de seu pai, como Gustavo Pires, hoje na presidência da SPTuris, e Alex Peixe, presidente da Cohab. Durante as férias, Tomás também foi ao jogo do Santos (“Vaiei o Bolsonaro na partida contra o Coritiba”) e esteve no Rio de Janeiro, para uma solenidade com o prefeito Eduardo Paes, que deu o nome de Bruno Covas a uma via da cidade.
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A breve passagem pela capital teve uma grande sensação de déjà-vu. Quando o pai estava na prefeitura, sua rotina era basicamente sair da escola e ir para o Edifício Matarazzo esperar o prefeito encerrar o expediente para seguirem juntos à Barra Funda, onde o jovem vivia com o pai desde o início da pandemia. “Eu me sentia em casa lá (na prefeitura). A gente levava o meu cachorro, o Volpi (um brincalhão staffordshire bull terrier de dez anos), que andava pelo prédio todo. Sinto muita saudade desse tempo. Ele faz muita falta no meu dia a dia”, diz o menino que pretende fazer uma tatuagem com a foto de Bruno.
O sentimento de vazio é às vezes preenchido, mesmo que momentaneamente. “Os sonhos só não são bons quando estamos no hospital. Nesses dias eu acordo e não me sinto reconfortado, não, ao contrário das outras vezes.” Os longos períodos de internação do pai foram sempre acompanhados pelo menino, que, embora apareça em público sempre sorridente, diz o momento em que é pego pelo choro. “À noite.”
Como futuro candidato e um político desde o berço, Tomás Covas tem posições claras e algumas dúvidas. “Você acha que o Rodrigo Garcia vence a eleição?”, pergunta à reportagem da Vejinha. “Vou ajudá-lo na campanha. Já o conhecia de quando eu fiz estágio no Palácio dos Bandeirantes (foram cinco meses no ano passado). Uma vez, quando ele ainda era vice-governador, eu pedi para acompanhá-lo em uma agenda pública, mas ele não deixou, pois era no período da minha aula na escola. Parecia meu pai falando”, ri o jovem, que não nutre por um antigo aliado de seu bisavô, Mário Covas, os mesmos valores. “O (Geraldo) Alckmin colocou os valores políticos acima dos valores pessoais”, diz, ao se referir à filiação do ex-governador ao PSB e à aproximação com o ex-presidente Lula.
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Enquanto espera para retornar definitivamente para São Paulo — e também para votar pela primeira vez —, o jovem aproveita a passagem pelos EUA para reforçar o inglês e fazer novas amizades. Ele mora em uma casa de dois andares com outros sete alunos, todos sob a supervisão de um adulto. Nos fins de semana, a turma costuma alugar um ou mais carros e seguir para Nova York, onde passeia pela cidade. A rotina em solo americano só é quebrada quando tem jogo do Santos. “Um dia eu gritei demais depois de uma vitória sobre o Corinthians e tive de ficar de castigo. Foi uma hora a mais por dia na escola”, diverte-se o garoto, que não tem namorada, nem lá, nem cá. Aliás, quando perguntado sobre o assunto, deu a mesma resposta que seu pai dizia: “Sou casado com a cidade de São Paulo”.
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Publicado em VEJA São Paulo de 18 de maio de 2022, edição nº 2789